Wednesday, December 31, 2008
Sobre todas as coisas.
E hoje é o último dia do ano. O dia em que fazemos promessas, guardamos cartas, fazemos melhorias físicas e espirituais. Amanhã, o mar leva tudo embora. Os barquinhos, as velas, as cartas, oferendas, sentimentos e longos vazios daqueles que nada desejaram. Aqui, desejo isso mesmo! Cada dia um pouco mais de verossimilhança e sem passar desapercebido. No próximo ano, espero ainda muito daquilo que ofereço. Mas as certezas são maiores que as velas ou as chamas e fogos de artifício.
Amanhã, um outro dia. Comum. Ordinário.
Com uma pitada de mudança.
Monday, December 22, 2008
Madonna
Riscar da lista do que fazer antes de morrer, eu risquei. Marcar o quanto meus amigos são importantes é só um reforço. Pular no refrão bordeline, segurar minha mão ouvindo ray of light ou simplesmente me dar espaço para o espanto da realização de um sonho. Tudo somado a, sim, realizar mais do que um sonho, mas deixar marcado nos lados mais reluzentes da memória um espetáculo, um sentimento mútuo, luzes, câmeras, som, batidas e o cabelo loiro. O rosto, bem perto, e a simpatia estelar. Nada se soma aqui. Às indiferenças, ou mesmo o desdém ficam marginais, sempre. Para quem preferiu a amargura ou a angústia de economizar na felicidade. E saíram todos gritando. Give it to me, dançando like a prayer ou mesmo no despeito ensaiando um shes not me em casa. Da chuva ao céu se abrindo rapidamente. Por trás, um filete de sol bem humorado e quente. Tudo se transformou. Dois dias em que o clima foi traído, os relógios ficaram sem ponteiros e os pés, os pés deixaram-se vencer e agitaram o corpo todo.
Aos que não se interessaram, restam as notícias online. Aos que preferiram a lei do menor esforço, cabe agora a boa inveja. A indiferença...bom, a indiferença é só mimo. No fundo, todo mundo se importa.
Já eu, termino o ano com a sensação mais plena que eu poderia ter. E não canso de repetir
and i feel, like i just got home.
Wednesday, December 17, 2008
Público
O ano que começa com aquela sensação de começar novamente. Não começa. Não termina. Os calendários mudam as datas, os dias e assim vamos reprogramando o cotidiano ordinário em cada vírgula. Perder namorado, mãe, carro, dinheiro, emprego, livros, discos e ganhar tudo de novo, namorado, apartamento, dinheiro, emprego, livros e discos. Ganhar uma porção de noites mal dormidas, bem vividas, noites de insônia, doenças, cáries nos dentes, gripes, unhas roídas, tênis rasgados e perder tudo de novo. Seja aos poucos ou de uma vez só. Ganhar presentes, sorrisos, perder um dente, uma vontade, viajar, deixar para trás, trepar, beijar, suar e dormir. Dentro da jaula, ninguém vê o tempo passar. Ontem e hoje. Resumindo os meses, os anos e um pedacinho da vida.
Ir atrás, sempre atrás de um novo começo. Aquele assunto, de certo, ficou para trás. Seja calendário ou uma data apenas; fogos de artifício ou oferendas, eu mesmo, nunca mais toquei naquele assunto.
Wednesday, December 10, 2008
O Coelho da Cartola.
Ninguém poderia advinhar. Nem sempre, o que se vê na luz é reflexo ou sombra de si mesmo. Se por instantes tudo parecer estranhamente sem forma, cor ou rima, é porque do Vazio nada se pode enxergar. Aquelas pequenas monstruosidades, ou com o mesmo virtuosismo de sempre, ninguém pode negar a dor de um tapa na cara. As vertigens adolescentes, os galopes pesados e o corpo frágil pedindo arrego. Os braços cansados de tamanha batalha, bolhas no pé e o pulmão já sem saber o que fazer. Desse estado, dessa litúrgia, nada sobrou. Apenas a vontade de um dia melhor, ou que se possa acordar com o cérebro descansado.
Dias corridos, noites de sono pesado. O corpo doente. O corpo pedindo atenção à saúde. Ninguém poderia advinhar que tamanha monstruosidade teria efeitos colaterais tão profundos. Da enganação, do desespero, do sexo e de tudo mal construído nas bases das falsas intenções.
Tuesday, December 09, 2008
Schopenhauer.
Esse mesmo sentido outro, as coisas fora do lugar e sendo postas num canto, o canto direito do olho esquerdo, tapando e impedindo que a lágrima se deixe livre para escorrer sobre a face. Seria mesmo uma espécie de raiva. O mundo, a representação daquilo que se é enquanto matéria mal-formada. Da moral e até mesmo da Ética, pouco se pôde aprender. Das razões do espírito, leve ou fugaz, carregar a cruz seria melhor do que as mil chicotadas. Ele, sentido de toda construção, Ele mesmo a quem adcionamos letra maiúscula, nada pode fazer. As vontades e os sentidos. É o final do ano, as famílias reunidas, a vontade de querer reparar os vasos estilhaçados. Nem mesmos nos transfiguramos e já estamos pensando em pequenas oferendas aos deusas da antiguidade. Aqui, só a explosão de uma nova era. A era dos falcões, das águias voadoras que percorrem velozmente todos os estados da alma, pousando por fim naquela única ferida que não cicatrizou. As crianças abusando da boa vontade, experimentando brincadeiras e perversões. Restou somente a idéia do antigo menifesto dos laços eternos: rompê-los, todos, em um único e brutal movimento.
As atualizações do sentido. De pedra em pedra, pó em pó, choro em choro, resta a aversão do mundo. A representação do espelho. Cassandra sussurrando ao ouvido: largue-te! teu vôo alcançou outros ares.
Monday, December 08, 2008
Pequenos.
É preciso tempo. Acalento. Infusões. Sentimentos amargos. Dor, agústia e alegria. Deixar o peixe apodrecer. Renegar à existência de qualquer espécie de fé ou ligação com o mundo material-espiritual. Abdicar à Ele, a Deus, abdicar à carne, ao corpo, ao espírito como forma de condução dos pés na brasa. É preciso tanto esforço. Ler demais, devorar cada palavra e cada vírgula de um texto, sem pé nem cabeça. Para entender o mundo, basta a fome pelo confinamento de grades. Entender esse raciocínio fraco, insosso e perverso.
Foi preciso muito tempo. Descobrir o mundo tal como ele é, em essência e representação. Do todo, a menor partícula. Da lágrima ao mais puro sorriso. Ainda é preciso mais tempo. Descobrir do mundo, os abusos, a solidão dos astros e Estrelas. Entender as crianças perversas, saborosas criaturas do desespero humanístico. Isso soa um tanto desafiador.
Por isso. É preciso mais tempo.
Monday, December 01, 2008
Charles Dickens
Esses dias ensolarados que ao entardecer trovejam, relampeiam, jorram fortes lascas de chuva grossa e gelada. Nada tão incomum quanto isso. Ainda, temos as variedades do cotidiano: arrumar um namorado, estudar, trabalhar e todos os outros pormenores dos dias que somados, formam um grande círculo de mediocridade, sentimentalismo e castração. E isso não pode ser somente uma fixação da infância, como no caso das fases freudianas mal resolvidas. Roer a unha pode ser um sintoma de nervosismo, puro e simplesmente. E tudo isso se somando ao final de semana, ainda pode dar um resultado, talvez, delicioso. O descanso, os atos típicos do cansaço. Dessa delícia, nos fazemos. Os anos passam, as horas cada vez mais apertadas, os cabelos envelhecendo, a pele do rosto se contraíndo, as mãos com calos incuráveis. Uns chamam de envelhecer. Outros, recusam as linhas de um tempo que jamais voltará, mas que deixou as marcas para os espelhos, lembrando sempre o quanto se passou, de bom, de ruim, dos tempos de infância e banhos de mangueira no verão. São as linhas da saudade e concomitante ao Eterno Retorno - essa aproximação, cada vez mais veloz ao ancestral, ao espírito e ao pó.
Hoje, sinto saudade. Houve um tempo em que minha única preocupação era nunca ter lido Goethe. Mal sabia, lá atrás, que um dia, isso seria saudade e não conhecimento.
Friday, November 28, 2008
Bem-vindo.
Sempre esperei o dia em que o mundo fosse girar, sem que eu percebesse, pois as surpresas me agradam. Minha fome em dizer ainda ficou presa na garganta, como um nó que me fizeram à la marinheiro. Eu poderia nesse exato momento correr até a porta do seu trabalho dizendo certezas do futuro para dois. Preparar buquês românticos de rosas vermelhas. Acontece que o romantismo ainda está com lugar ocupado. Levarei cravos. Ainda assim, estou à procura de um vaso grande para o corredor. Luminárias para a cozinha e um monte de outras coisas pequeninas que farão minha vida um pouco mais colorida. Digamos que tem espaço, só é necessário um passageiro. Amanhã, quero flores na minha porta e um lindo cartão:
"Sem bem-vindo!"
Saturday, November 22, 2008
Os nove passos do sucesso
Tuesday, November 18, 2008
Olha pra cima.
Infinitos. Distantes. Incapazes. Tudo tão efêmero. Os laços cada vez mais tênues e soltos. O nó desamarrado. O tênis gasto. São apenas cenas da vida. Do cotidiano maravilhado com a possibilidade dos sonhos em carregar para longe, todas as vidas de um único dia. Se construir em torno do que somos. Nada mais atormentado do que essa idéia. São como pesados elefantes prestes a invadir a sala e derrubar o único copo de cristal que sobrou em cima do móvel gasto.
Tudo aquilo que flutua, feito a neve que não existe aqui. A neve que não vai cair. Mas esperamos, olhando para cima. Já é quase natal.
Num adianta olhar pra cima.
Friday, November 14, 2008
Algo no ar.
As razões, dentro de pequenas bolhas. Sabão. Uma fina camada translúcida. Meio colorida. Uma bolha de sabão. As verdades e as mentiras. Coloridas. Frágeis para o vento. Leves como o próprio ar. Do canudo, ao vazio. As razões e os atos. Voando alto. Já perdendo força. As ligas do sabão rompendo-se. Logo, uma fenda aberta. Vontades e realidades. Desce. Pequena. Sem força. Só a bolha. Aquilo que se deseja. A transparência da água. Incolor. Sentimentos e paixões. Estoura. Do ar, caem os respingos. Gotículas espalhadas pelo chão. Foi uma bolha. Colorida. Sem sentimento. Paixão. Espalhada na calçada. Foi um dia. Pelo canudinho. Um sentimento. Tesão. No ar, o resto de um dia. Os rasgos da vida cotidiana.
A bolha e o sabão.
Wednesday, November 12, 2008
Walking down the street
E não há como escapar da inevitável questão: por que esses sonhos impossíveis estão sempre, em sua maioria, ligados ao amor?
Talvez, seja porque o amor, o tão idealizado amor, o mais lindo, puro e honesto sentimento seja a única forma que encontramos de alcançar um possível e idílico paraíso. O amor será o salvador. Eu emagreço quando ele aparecer. Se eu encontrar uma menina assim, desse jeito, eu caso. Eu quero um menino de cabelo bagunçado, meio avoado que seja parecido comigo. Seja como for, estamos em busca desse preenchimento do vazio que nos foi dado no nascimento. Essa sensação que carregamos de profunda solidão do quem sou eu e para onde vou, certamente, seria suprida se encontrassêmos alguém com quem compartilhar, dividir e, por fim, encerrar a pífia sensação.
Posso estar enganado. Pode ser simplesmente porque queremos nos sentir desejados. Pura e simplesmente. Verdade não há.
Ainda, pode ser bem mais simplificado: queremos isso, tudo isso, os amores impossíveis, o homem rico que se apaixona pela garota de programa, ou seja como for, pelo simples fato de que aquele amor idealizado seja a sensação mais gostosa que podemos, um dia, experimentar. É como estar, 24h por dia, num pleno orgasmo. Simples: é muito, muito gostoso amar e ser amado. E quanto mais difícil, melhor e mais valioso será, afinal somos seres dito humanos.
Ou, pode não ser nada disso, mas é por isso que eu adoro poder sonhar, seja com isso ou com qualquer outra coisa.
Mais ainda: é por isso que eu adoro Pretty Woman.
Tuesday, November 04, 2008
Antigos
Leves caminhadas. Leves toques no rosto. As noites cansadas de velas e dores oculares. Nem rastro nem poeira. A subida leve e inquietanta da fumaça. Da sala, um cheiro estranho misturando-se aos ramos de eucalipto presos no prego da parede. Os quadros tortos, todos réplicas de pintores renascentistas, já não mais serviam como um adorno à decoração; estavam lá prestando homenagem aos antigos que passaram pelos corredores e que ali apontaram o dedo. O quarto desarrumado e o banheiro com goteiras no teto.
A mesa da sala, talhada em madeira maciça, estava coberta por uma leve textura branca de poeira. Era um vazio. Todos os momentos em que o estado de espírito havia sido maior que o próprio caminho. Morar, era senão uma condição do momento.
Nos vasos, as flores artificiais também estavam com cara de mortas. As antigas toalhas e os vidros embaçados. Apenas a sensação de que um dia, tudo foi habitado. Seres e histórias. E como um sopro forte e quente, foram-se todos. Retratos, manias, surtos e doenças, deixando para trás o rastro.
Uma pequena nuvem de poeira.
Monday, November 03, 2008
01.11.81.
Eu queria agradecer por entre caminhos, espinhos, razões e desde de que me disseram num jogo de tarô que nada na minha vida acontece por acaso, eu queria agradecer aqueles que estiveram comigo.
Aqueles que estão ali. Sempre. E que fizeram do meu sábado, um dos melhores da minha vida. Simples assim. Sentimental. Piegas. De lágrimas e risos. Encontros, re-encontros e desencontros.
Eu só queria agradecer.
Thursday, October 30, 2008
13:24
Sempre aquele sonho batendo e esperando na janela. Nem adianta mais fingir que cortou o cabelo e que agora possui faculdades que permitem dizer isso ou aquilo. Aqueles estudos sobre psicologia e manifestações do inconsciente de nada serviram para que essa tal fraqueza fosse suprida. Eu, que espero verões por todas as horas do meu dia, aguento o som pesado dos meus próprios passos. Fui aconselhado e me desaconselhei. Ontem, escolhi outros momentos de felicidade mórbida; aquelas de pensar em você. Sacrifico-me feito um animal para dar sempre um sorriso quando te vejo no canto dos meus olhos. Mas isso tudo é vontade de dizer que nada mudou e ao mesmo tempo, tudo está diferente.
Eu digo: dos sonhos levamos apenas a sensação. Você ainda na sala dizendo que minha comida está sem sal.
Sunday, October 26, 2008
26.10.
Eu posso, simplesmente, dar uma volta. Mas acabo sempre no mesmo lugar. Aqui, e ai.
Thursday, October 23, 2008
Love is a losing game
Eu vou escrever de um modo simples.
Eu vou detalhar os fatos de uma impossível causa de conquista.
Poucos instantes.
Aqueles intermináveis segundos antes de colocar o telefone no gancho. Ali, parado diante de tudo o que se passou. Ali, como se estivéssemos diante um do outro. Era aquele sabor do sonho, o sabor da vida, do amor conhecido como amor, do sexo, do desejo, dos cabelos e de cada fio do braço. Eu ali, diante do telefone, esperando, depois de dois anos e dois meses, que algo pudesse ter mudado. E quem diria que depois desse tempo todo um orgulho apareceria. Rei, comandando cada passo da minha forma passional de entender e viver. Ali, antes mesmo que eu colocasse o telefone no gancho. A presa, fácil. Mas eu ainda poderia escrever mil cores, descrever a delícia que fomos um dia. E do futuro eu certamente utilizaria meu talento para dar pinceladas em tons fortes, mas ali, só o branco, misturando todas as cores. O branco da cegueira, o branco de mil coisas, o branco da minha roupa por debaixo da pele. Depois de contruir muros e muros, derrubar, ajustar, erguer, cair, reerguer. Agora, depois desse tempo injusto, depois do morto na cova, nada, nada mesmo pode me fazer esquecer quem eu me tornei. Ninguém, nem mesmo eu, poderá um dia dizer que não foi à duras penas que deixei de carregar no canto dos olhos, uma pequenina lágrima.
E ontem, pela primeira vez em muito tempo, deitei e chorei.
Saturday, October 18, 2008
Um dia a mais
Aos sábados, espera-se aquela estranha sensação de outrora. Alguns fatos acumulados no bolso. Estranho mesmo é sair quando a chuva manda que tudo fique parado no espaço de 48 horas. A leitura de livros de filosofia, os olhos ziguezagueando pelo quarto escuro. Lá fora, as nuvens aglomeradas em diferentes escalas de cinza e roxo. E como se estivéssemos escorrendo, gotas de folhas e as árvores reverenciando um dia a mais em nossa existência andarilha.
Caminhar com passos vagarosos estalando pequenos surtos de ansiedade. Assim, se pode ver os faróis ficando verde. Nas faixas brancas, todo mundo atravessando e segurando a aba do casaco. Ninguém mais usa chapéu. O trabalho com carinho excessivo e a destruição daqueles olhares tão íntimos. Aos sábados, o gosto daquilo que não foi feito na semana. Contas atrasadas, televisores desligados e livros empilhados. Mais uma noite de sono perdida. O retrato familiar em cima da mesa querendo despertar sentimentos enterrados nas salas de terapia intensiva. O gosto amargo e esfumaçado do cigarro, na língua e na garganta. Nem mesmo se pode notar que havia ali na avenida um novo conjunto comercial; os dedos roídos. Ninguém procura mais tatu-bola ou lesmas nos jardins criados como canteiros de avenidas. No ponto de ônibus, se aglomeram diferentes guarda-chuvas. Capas transpartente e amarelas para cobrir o corpo e fugir das poças.
Aos sábados, o gosto antigo de esquecer que o mundo existe dentro do mundo. Ser apenas uma fração daquilo que um dia se esperou ser. Talvez, criar uma poesia sobre hábitos do cotidiano. Nem isso mesmo. Às vezes, o sono é o melhor dos remédios.
Aos sábados, uma fina chuva, um gosto pelo presente e as sensações do futuro despertando em cores, sentidos. O caos do final de uma semana. Ninguém se espera aos sábados.
Wednesday, October 15, 2008
É.
Monday, October 13, 2008
Pela décima vez
Sunday, October 12, 2008
Desejo e Reparação
Friday, October 03, 2008
On the road
Nas incessantes buscas por um estado permanente de felicidade absoluta, as armas e os barões assinalados se foram.
Praias, desertos, pequenos pedaços de gleba, mudas de eucalipto e o terro arado. Naus furiosas, um antigo passado, daqueles remotos tempos de sermões escritos na areia da praia, dessa herança que vem tardia encontrar os destroços daquilo que um dia foi o sonho do paraíso. De toda nudez verdadeira, o castigo foi a castração definitiva. E tudo, todas as idéias inovadores, pelo assassinato do subjetivismo ou mesmo do relativismo moral a que estamos tão acostumados, nada restou.
Incêndios, ventos com a força de um mito, norte, sul, sem bússola ou tecnologia para se saber chegar. Uma incenssante busca pelo eterno, por aquilo que dá o sentimento de duradouro, fora de nós, no outro e naqueles que nos são semelhantes. E dessa busca, todos os resultados esquizofrênios e pelo menos uma vez na vida, tudo parece em completa desordem. Soltar pombas-brancas, libertar animais em extinsão, deixar tigres, leões, onças e até mesmo aquela ave-azul-raríssima, deixar tudo solto. Tudo é uma questão de entender essa nossa herança que nos veio corrompida pelos desejos dos nossos ancestrais. Aqueles que trouxeram nos baús pilhas de roupas sujas, algumas doenças venéreas, dentes podres, um ou dois livros e toda a esperança de um dia ser o sonho. E desse sonho, fizeram sua viagem.
Exatamente como fazemos hoje:
do sonho, esperamos ser aquilo que não somos. conduzidos mar afora, sabe lá deus por quem.
Mas conduzidos por um sonho, talvez, inexistente.
Monday, September 29, 2008
As horas:
Monday, September 22, 2008
Algo A +
Friday, September 19, 2008
Um pedaço
Sunday, September 14, 2008
Ação de graças.
Entender alguns dias, uns poucos dias, faça sol ou faça chuva, Esses dias em que o cheiro da carne de panela, vinda do vizinho faz com que tudo pareça um pouco mais diferente. Todas as gritarias, portas batidas, sentimentos avulsos, versões musicadas e algumas peças de teatro, tudo escondido nos armários - no fundo, bem no fundo da gaveta.
Uns anseios estranhos. Umas batidas de corda quebrada e aquela volta no quarto. Passar a roupa da semana, arrumar a lixeira da bolsa-andarilha e ainda ter tempo de coar um café amargo e forte. Aí, vem a televisão ligada, um filme tosco me faz chorar. Uma lágrima que vem da cena entre duas irmãs - aquela tal reconciliação típica dos finais. O cheiro forte do feijão cozinhando e as campainhas tocando com as visitas de domingo. Um dia qualquer talvez. Uns anseios, pensamentos avulsos e, por que não, descartáveis. Arrumo a pilha de cds antigos e deixo a Billy Holiday no topo, caso precise. Arrumo os livros da Virginia e deixo-os ao lado do Cortázar. Endireito o quadro do Dali ao lado da cama e removo a foto Dela e coloco-a no criado-mudo. O abajur empoeirado, presente de uma amiga já distante, parece criar um outro ambiente. O telefone toca baixo, não ouço e não atendo. Dias comuns.
Tudo com um toque que inspira uma suposta sonoridade familiar: o cheiro da carne, o feijão, as tarefas domésticas. Mas ainda, por cima disso tudo, aquela ansiedade recente. As mudanças de pensamento. O jogo, a siesta e a música da Billy. Acendo o fogo, coloco a chaleira para esquentar a água e mais um café se vai; quente, amargo e forte: como em qualquer outro domingo...
Wednesday, September 10, 2008
Mala feita.
Tuesday, September 09, 2008
mi casa, su casa
Friday, September 05, 2008
confissões na pista de dança
Wednesday, September 03, 2008
in the arms of sleep
E nem sempre se vai assim, caminhando pelas paredes, arranhando e sangrando a ponta dos dedos. Essa idéia vaga de poder flutuar, dançar e escorrer cada centímetro do corpo, como se tudo pudesse ser feito tinta e pincel. É como estar sob efeito de alguma droga constante. Perde-se os sentidos, as roupas ficam diferentes e os sonhos tornam-se repetitivos. Na porta há sempre aquele aviso de entre. E nem sempre se vai assim. Pensando em tudo, revisitando cada lugar, cada olhar, toque e cada desejo que fez a boca salivar. Noites ou dias, o gole seco do pensamento impuro e mal dito. Nas paredes, as mãos presas em desejo masoquistas .Tapas na cara. Arranhões no peito. Mãos algemadas. Chupões no pescoço e nos braços. Tudo com uma leve dor de ontem. Uma leve dor do querer. Uma leve dor de sentir pulsar. A cada respiro, cada som dos meus ouvidos, cada sabor da minha boca, rejeito. Me transformo em algo assim, somente com um sonho por dentro, me fazendo viver, pisar forte e admirar formas infantis em nuvens de chuva. Nem sempre eu vou assim. Eu caminho entre os dias, corro na voz pesada e páro na porta. Mas é caminho de paredes. De lindas loucuras. Viver entre o existir antes e depois do desejo. Viver para ter a chance, para ter o gosto, o gozo, prazer de inundar meus olhos numa cor amarelada de mel. E meu sangue, meu doce sangue, jorra para viver de luz, para ser cor de sentimento. Mas nem sempre se vai assim. Hoje, caminhando.
Tuesday, September 02, 2008
Teus armários.
Monday, September 01, 2008
Intransitivo
Friday, August 29, 2008
Fazia tempo
Thursday, August 21, 2008
Tesouras
Tuesday, August 19, 2008
Clockwork
Mas nem sempre se pode esperar do dia uma surpresa. Nem sempre uma carta ou recado distante, e-mails impessoais, ligações urgentes. Enfim, o cotidiano em sua forma mais chata, porém, deliciosamente patético. Daqui a pouco tudo se transfigura. Como se faz lá em cima, nuvens cinzas, roxas, pretas e a chuva. E mesmo que haja uma certa necessidade de tudo ser assim tão transparente e que as surpresas sejam fatos e não meros acasos, ainda restará noites mal dormidas, fadigas constantes e um certo ar de leviandade. Esse clarão de idéias, ou mesmo uma póstuma vontade de consumir o irreal. Tudo sem sentido, existindo e como partes de uma explosão. Sentimentos afoitos jogados na privada. A privada entupida. E nada assim tão bom: navegar pelas antigas calmarias da vida. O doce do cotidiano.
E mesmo que haja uma certa urgência em tudo, desligar o telefone, apertar end e sair como passo curto. Sem mais, nem menos.
Só a urgência de ser.
Monday, August 18, 2008
La revancha
Saturday, August 16, 2008
Picnic
Thursday, August 14, 2008
Se eu contar.
Monday, August 11, 2008
Sinnerman
Sunday, August 10, 2008
Conto.
Os pés doíam. O calor com o atrito do tecido áspero do sapato provocaram bolhas no canto do pé e na sola cansada. Tirou o sapato e quase como um ato religiosamente sagrado, encostou o pé na terra úmida. Era um alívio, como se a terra estivesse lhe retribuindo um favor. Seus pés se misturaram aquilo que lhe afagava o corpo inteiro. Imaginou, já maravilhado com a quietude daquele momento, que enfim chegaria ao céu e encontraria um pedaço de terra com uma árvore de tronco grosso e forte para deitar-se na eternidade, pois aquilo já era um pedaço do sentir-se para sempre. Em verdade, não poderia sentir-se de outra maneira.
Thursday, August 07, 2008
Quinta.
Wednesday, August 06, 2008
Quarta.
A saudade como uma tristeza. Uma bola de chiclete masgado, quase sem saber. O olhar doce e escondido por trás de uma lascividade absurda. Nos cantos, nas pequeninas mãos, o doce sabor de soda limonada. Inventores do desentendimento, nem mesmo siameses são capazes de decifrar o pensamento. Juntos na vida, como terra e fruto. A casca da árvore. E ainda jogamos pedra no vidro do vizinho. Apolo! Leve-nos para a vida adulta. E isso, rogando para os Deuses, tentando soltar as mãos do Diabo. Ele, que nos ferve em calda quente de doces ilusões. A saudade dos tempos de maldade.
Rogamos ao senhor dos ventos. Aos deuses na espreita por nossa vil brincadeira. Como uma prece, pedimos a Apolo, um sopro de vitalidade. As bolhas de gás da soda explodindo na cara Dele. Solte-nos a mão, grita a criança. Ártemis vem pela floresta. Nos caça: arco e flecha.
Mais uma soda, com ou sem limão e nos deixe ir, além da maldade.
Tuesday, August 05, 2008
Terça.
Monday, August 04, 2008
Segunda.
Friday, August 01, 2008
You dont get summer for nothing
Tuesday, July 22, 2008
37822:43
Come, as you are.
Monday, July 21, 2008
Back to Black
Sunday, July 20, 2008
14:23
Saturday, July 19, 2008
Wake Up
Algumas horas de sono pesado. Jantar, encontro, presente. Sentimentos voando pela janela, saindo pelo poros e aquela nossa conversa. Se existe um eixo para as metáforas, porque não existiria o nosso próprio? Somos mesmo uma metáfora mal utilizada entre uma palavra e outra. Somos feitos assim, vírgulas e pontos finais. Nos escrvemos diariamente, pela ponta da caneta e nas idéias tão confortantes. Virtuosos transformamo-nos em laços queridos; naquela forma mais perfeita de escrevemos, um no corpo do outro. Seres de planetas vizinhos. Nos sonhos, somente nos sonhos podemos dizer que a metáfora faz sentido.
Fazia tempo que não andava de metrô devido a uma pseudo-claustrofobia. Sabia as estações de cor e salteado. Tinha decorado nos passeios com a minha Mãe quando criança. Depois de muitos cigarros, anseios e idéias, cheguei em casa. Tudo parecia diferente. É essa sensação monstruosa de não saber onde chegar. Deixei tudo na mesa. Fui pra cama. Só assim se termina um dia. No encontro com o nosso eixo, aquilo que nos faz o que somos.
Aquilo que pode enfim nos refazer. Açucar e olhos fechados.
Friday, July 18, 2008
I just wanna be...
- ...
Thursday, July 17, 2008
I fuck myself
Wednesday, July 16, 2008
Depois de um tempo
Tuesday, July 15, 2008
370
A fome do mundo, aos poucos, queimando a parede do estômago, enquanto sou alvejado centenas de vezes pela mesma arma. Aquele estouro; um barulho violento, como se eu mesmo fosse um balão desses de gás explodindo categorias e rispidez. E o problema maior nem eram as cicatrizes, ainda abertas, mas o sentido que as ruas haviam tomado. A casa velha com o grifo no lugar da torneira, as roupas empilhadas e toda aquela poeira se acumulando na parte de cima dos livros. Ah, mas eles estavam todos lá para ver o dia em que a pedra atravessaria a janela. Peças de quebra-cabeça espalhadas pelo chão. Tranquilo eu tomei dois comprimidos. Tinha ainda nos pulsos a marca do descontentamento com o mundo. Era chegada a hora. Uma fúria avassaladora. Contra o mundo. Contra tudo e todos, menores, pedintes, religiosos e filósofos. Eles mesmos poderiam ainda renunciar a minha vontade. Ansioso, eu tomei dois goles e levantei. Acendi um cigarro e deitei; tentei dormir e eles, meus inimigos todos, na cama comigo.
Me servindo de companhia.