Tuesday, August 19, 2008

Clockwork

Mesmo que haja uma certa necessidade de sentir e escrever tudo, em qualquer momento. Uma urgência do corpo. E tudo é afetado. As insônias vindas da ansiedade como produto de uma má administração das pulsões e dos batimentos cardíacos. Sermões religiosos e os palavrões circundam uma perspectiva infantil de enganar o mundo com um único olhar. Diante de tudo: da mãe morte, do irmão distante e dos amigos enterrados em fotografias digitalizadas. As dívidas recorrentes de um mau uso das finanças e os travesseiros todos rasgados. Deve ser típico das insônias essa coisa de questionar o mundo quando tudo está adormecido. Reações alérgicas e o despertador atrasado como sempre.

Mas nem sempre se pode esperar do dia uma surpresa. Nem sempre uma carta ou recado distante, e-mails impessoais, ligações urgentes. Enfim, o cotidiano em sua forma mais chata, porém, deliciosamente patético. Daqui a pouco tudo se transfigura. Como se faz lá em cima, nuvens cinzas, roxas, pretas e a chuva. E mesmo que haja uma certa necessidade de tudo ser assim tão transparente e que as surpresas sejam fatos e não meros acasos, ainda restará noites mal dormidas, fadigas constantes e um certo ar de leviandade. Esse clarão de idéias, ou mesmo uma póstuma vontade de consumir o irreal. Tudo sem sentido, existindo e como partes de uma explosão. Sentimentos afoitos jogados na privada. A privada entupida. E nada assim tão bom: navegar pelas antigas calmarias da vida. O doce do cotidiano.

E mesmo que haja uma certa urgência em tudo, desligar o telefone, apertar end e sair como passo curto. Sem mais, nem menos.

Só a urgência de ser.

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