Sunday, November 29, 2009

Ego

Talvez seja o egoísmo. Algo relacionado as formas de relacionamento mais intensas, daquelas de tirar o fôlego pelo olhar, pelo jeito que os lábios delicadamente encostam um no outro. Talvez seja egoísmo, essa coisa de querer tudo para si, todos os pensamentos e a vida inteira. Uma outra versão um pouco mais elaborada. Pensar que desse jeito basta e está ótimo. Versos retorcidos, grandes sorrisos e todos os momentos que se pode dizer sobre a felicidade. Pelos olhos, pelos olhos ninguém morre mais. Talvez seja o egoísmo, esse momento em que pensar para si é criar sonhos. E pouco importa se existe de fato uma finalidade para tanta esperança. A verdade é que tem dias que o calor é incontrolável e que todos os instantes eu projeto um mundo só meu; um mundo perverso, enfeitado, floreado por palavras delicadas, pelo meu corpo, pelo calor e pela intensidade de tudo. Aqui, o imortal é simplesmente uma passagem para algo maior.

Talvez seja egoísmo meu ou simplesmente um desejo, maior e incontrolável, esse de querer tudo para mim.

Monday, November 23, 2009

...

disso, talvez, ninguém nunca saberá. Se foi o começo, re-começo ou simplesmente uma nova arte de amar. Disso, ninguém saberá. Esse perfeito número, uma equação de dar inveja e toda a química do mundo misturada. Vozes silenciosas, mortes medievais, a cada dia me vai um pedaço. Mas, continua assim mesmo. Em pequenos contos, pequenos versos esboçados entre os lábios, gestos e pequenas lágrimas distantes. A cada dia, morro um centímetro. Se é carinho do destino, se é da ordem do castigo. Seja como for, a cada dia, perco um pedaço de mim.

Sunday, November 01, 2009

Apenas.

Adoramos o tempo. Adoradores do etéreo, daquele vazio em que tudo pode, mesmo que por instantes, pequenos instantes. Adoramos como as passagens são rápidas e quase imperceptíveis. A concomitância entre o ser e o estar. As representações do mundo quase como um significado para todas as questões da existência. Esse é o derradeiro momento das coisas. Adoramos o tempo.

Já houve momentos em que contar a idade era quase um levantamento matemático. Hoje, é ato de coragem. Ser aquilo que o tempo formou. Ser a soma da experiência com o tempo. Mesmo as subtrações específicas, aquelas que apagamos no poder da memória, são contabilizadas no balanço geral. Se pudéssemos, o tempo não passaria jamais daqueles instantes de felicidade. Mas é fato que nada dura para sempre. Sejam os sorrisos, os desejos, as promessas ou mesmo aqueles doces discursos do viver para sempre. Os planso nem sempre possíveis. Existir é o cálculo. Existir são todas as somas. Indo sempre para a direção do maior e do melhor. Adoramos o tempo. Ele quem traz as marcas no corpo, tatuagens naturais para lembrarmos o quanto se é possível sobreviver ao mundo. Dores, despedidas, partidas, família, beijos, paixões, amores. O resultado vai ficando nos cantos escondidos de cada um. Nosso tempo particular para processar o que é que a vida nos ofereceu ao longo do andar. E pode parecer pouco mesmo, mas como na matemática, quanto menor o número do resultado, maior foi a soma. Eu penso nisso.

Nos anos que atravessei e não vi. Nos momentos em que tudo parecia uma grande mentira. Nas duras palavras que ouvi. Nas manias que adquiri para sobreviver. Nos amores que eu tive. Nos beijos estranhos. No sexo sem fundamento. Nos momentos felizes. No vício. Nas noites e nos dias. Nos erros que cometi e não sabia. Eu penso em como aquilo que eu mais queria eu não podia ter. Todos os tapas na cara, todas as puxadas de orelha e todos aqueles que se foram ou que eu deixei partir. Adoramos esse tempo.

O tempo que parece apagar tudo. O tempo que conserta erros, ajusta o presente e dá continuidade para o futuro. E mesmo não gostando, é uma data para se entender os pesados anos que se passaram. De batalhas, lutas, mortes e decepções. Nunca o tempo se encostou. Parece realmente pouco. Ou por muito tempo achei que era pouco. Mas é fato, quando ela diz que nada disso foi pouco. Mas para toda história, como apontou Aristóteles, existe o ponto de quebra. Aquilo que separa a dor da vitória. O herói diante do seu confronto. Sem imitações, essa é a vida que construi com o tempo. tijolo por tijolo. E até mesmo ele, narciso, adora a si próprio. O tempo.

Adoramos esse tempo. A soma. A felicidade e a dor andando juntas, cada uma de um lado da via. Adoramos como tudo parece uma agulha e linha: a grande malha de retalhos. É esse o tempo. Tudo recomeça, termina, inicia.

Adoramos o tempo. Apenas 28 anos.