Sunday, November 01, 2009

Apenas.

Adoramos o tempo. Adoradores do etéreo, daquele vazio em que tudo pode, mesmo que por instantes, pequenos instantes. Adoramos como as passagens são rápidas e quase imperceptíveis. A concomitância entre o ser e o estar. As representações do mundo quase como um significado para todas as questões da existência. Esse é o derradeiro momento das coisas. Adoramos o tempo.

Já houve momentos em que contar a idade era quase um levantamento matemático. Hoje, é ato de coragem. Ser aquilo que o tempo formou. Ser a soma da experiência com o tempo. Mesmo as subtrações específicas, aquelas que apagamos no poder da memória, são contabilizadas no balanço geral. Se pudéssemos, o tempo não passaria jamais daqueles instantes de felicidade. Mas é fato que nada dura para sempre. Sejam os sorrisos, os desejos, as promessas ou mesmo aqueles doces discursos do viver para sempre. Os planso nem sempre possíveis. Existir é o cálculo. Existir são todas as somas. Indo sempre para a direção do maior e do melhor. Adoramos o tempo. Ele quem traz as marcas no corpo, tatuagens naturais para lembrarmos o quanto se é possível sobreviver ao mundo. Dores, despedidas, partidas, família, beijos, paixões, amores. O resultado vai ficando nos cantos escondidos de cada um. Nosso tempo particular para processar o que é que a vida nos ofereceu ao longo do andar. E pode parecer pouco mesmo, mas como na matemática, quanto menor o número do resultado, maior foi a soma. Eu penso nisso.

Nos anos que atravessei e não vi. Nos momentos em que tudo parecia uma grande mentira. Nas duras palavras que ouvi. Nas manias que adquiri para sobreviver. Nos amores que eu tive. Nos beijos estranhos. No sexo sem fundamento. Nos momentos felizes. No vício. Nas noites e nos dias. Nos erros que cometi e não sabia. Eu penso em como aquilo que eu mais queria eu não podia ter. Todos os tapas na cara, todas as puxadas de orelha e todos aqueles que se foram ou que eu deixei partir. Adoramos esse tempo.

O tempo que parece apagar tudo. O tempo que conserta erros, ajusta o presente e dá continuidade para o futuro. E mesmo não gostando, é uma data para se entender os pesados anos que se passaram. De batalhas, lutas, mortes e decepções. Nunca o tempo se encostou. Parece realmente pouco. Ou por muito tempo achei que era pouco. Mas é fato, quando ela diz que nada disso foi pouco. Mas para toda história, como apontou Aristóteles, existe o ponto de quebra. Aquilo que separa a dor da vitória. O herói diante do seu confronto. Sem imitações, essa é a vida que construi com o tempo. tijolo por tijolo. E até mesmo ele, narciso, adora a si próprio. O tempo.

Adoramos esse tempo. A soma. A felicidade e a dor andando juntas, cada uma de um lado da via. Adoramos como tudo parece uma agulha e linha: a grande malha de retalhos. É esse o tempo. Tudo recomeça, termina, inicia.

Adoramos o tempo. Apenas 28 anos.

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