Thursday, May 29, 2008

Arretê Là

De muito longe, há uma voz que diz sempre a mesma coisa. Ela vem distante quase como um sussurro e diz sempre a mesma coisa. Seja a direção ou até mesmo a vontade de comer e beber. Quando o laço se corta, ela vem e diz da saudade, mas que o tempo insiste em curar. Quando do amor, ela chega mansa e diz sobre o valor de cada pedaço que o coração deixa cair por terra. Ela diz sempre a mesma coisa.
Sejam lições escondidas nos mistérios de um percursso, seja pela vontade de querer crescer, de muito longe ela vem e diz sempre a mesma coisa. Pela vontade de retorno daqueles que se foram, ela diz que a distância é bálsamo para o esquecimento-benéfico. Remédios para a dor, remédio da felicidade. O sono leva que ela traz, dizendo baixinho que os sonhos devem ser esquecidos no travesseiro. Ela deixa a água encantada com um cheiro de flor e baunilha. Ela diz sempre a mesma coisa. Quando o afastamento chega atropelando a vida, ela vem e diz para deixar passar e que no fim, sempre há uma equação balanceada para cada acontecimento.
Ela vem de longe e diz sempre a mesma coisa. Repete canções antigas, recita poemas diversos e lê as mais belas passagens contidas nos antigos livros. Arrête là. Levanta, ela diz suave. Levanta que é dia de festa. E recita, como tutora das águas, um verso:
Ela diz sempre a mesma coisa. De muito longe ela vem e arranca a raiz do solo. Aquilo que não germina ela arranca com as mãos. Aquilo que não tem fruto, sem sabor, sem cor; ela corta pela raiz e diz sempre a mesma coisa. Arrête là! A maldade dos olhos que percorre também a noite, ela cega. As palavras duras ela faz silenciar no canto do fogo, ela deixa arder os cabelos ruivos. Arrête là. Avante que o mar é dentro. Ela diz sempre a mesma coisa. Metáforas esvaziadas e muitos ditos populares. Inventora de árvores gigantes, dos relâmpagos que iluminam o breu da noite, ela cala inimigos. Arrête là! Erga sua espada, ela diz. Erga o elmo e avante para a guerra. A guerra pelas chuvas e florestas. Embrenhando-se no mato selvagem, por entre cobras, insetos e animais.
De muito longe, há uma voz que diz sempre a mesma coisa:
Arrête là!

Tuesday, May 27, 2008

Be smart

Ninguém poderá dizer o contrário. De tudo aquilo que se foi, da antiga chama. Ninguém poderá dizer o contrário. Feito um caleidoscópio as imagens giravam em torno de um único objeto. E isso era desejo da loucura. Loucura de ter próximo ao corpo, um corpo. a luxúria de antigos desejos e novas aspirações da alma. Ninguém poderá dizer o contrário.

Como se fossem papéis picados, foram pelo rastro do mar, um a um. Pelo vento forte e morno, as lembranças dançavam no balançar – vaivém. E sendo ou não clichê, a vida parecia ter-se colocado em seu devido lugar. As peças se encaixando e o pedaço de alecrim seco entregue ao seu destino. Que destino? Ninguém poderá dizer o contrário quando a ópera começar. Um a um, se foram todas as memórias. No jogo, na peça, pelo oceano sem fim, ali ficaram os pedaços de papel.

Ninguém poderá dizer o contrário. A vida se põe como desejo próprio. As vontades materiais de se amar e ser amado como tanto queríamos, acabou. Acabou por longas horas escorridas em lágrimas insípidas e sem gosto. Sem gosto de retorno e toda a preguiça d´espírito se fez presente naquele instante. Da morte ao nascimento. Ninguém poderá dizer o contrário. Alguns precisam disso na vida, outros mal sabem como ainda estão de pé. O sofrimento pelo que há, virá e foi. As moedas que preechem o bolso furado pela moral destituída. Ninguém poderá dizer o contrário.

As cartas seladas pelo beijo do eterno, o retorno à si. De um lugar para outro, é sempre ali que deve ficar. Umas sobre as outras. O resto, foi-se com o vento. Deito no mar e observo a paisagem grande e tudo pareceu uma ilusão ótica. Deixo estar. Amanhã, sem sol, com sol, ninguém poderá dizer o contrário. A vida encontra um jeito.


"Ninguém poderá dizer o contrário."

Friday, May 23, 2008

Some letter

Inspiração:
Certas palavras faziam sentido. Um futuro promissor. Aquele era o seu destino ou talvez fosse um desejo maior de entender a soma das palavras, sons, gramática, ritmo; tudo misturado em um grande esquema que eram aquelas frases que, somadas, formavam um livro. E aquilo sempre foi algo maior. Não era apenas papel tipografado. Era um objeto, uma forma viva que o transportava para outros mundos.
Pra mim, abrir um livro e ler a primeira página é como um beijo. Sentir a primeira palavra escolhida, o jeito como a história começará. È um beijo. Um beijo que percorre os sentidos formando um prazer inenarrável. A primeira página de um livro.
As subsequentes são romance. Um tórrido romance que estabeleço com aquilo que está diante dos meus olhos. Ler é um romance. E tudo começa com um beijo. E como todo começo, termina com o orgasmo do final. O beijo, seguido do romance terminado com um orgasmo. Verossimilhança, dizia a professora de literatura. "Observe o peixe apodrecer", escreveu Pound. Tantas teorias. A prática é uma mistura de sentimentos, prazeres e esperanças. Quando abro a primeira página, sinto-me...inexplicável.
Inspiração.
Meu primeiro beijo.

Wednesday, May 21, 2008

Itouch, Ipod, Ai...and i dont give a fuck!

Hoje em dia tudo mudou.

Eu me lembro de ir ao Mcdonalds e comprar o número 1 por apenas R$5,65. Antigamente tudo parecia mais acessível. Era a inflação?

Eu me lembro que o telefone era artigo de luxo e as brincadeiras de rua mais divertidas do que videogame. Me lembro de sentir prazer em comprar um cd, abri-lo e deliciar o encarte e ler as letras ouvindo as músicas. Hoje em dia, assumo, não compro cd´s. Sou daqueles traidores que fazem download. Hoje em dia tudo mudou.

Minha mãe costumava contar como era divertido andar de bonde e brincar nos “bosques” que haviam em São Paulo. Bosques? Só restou o Ibirapuera. Meu pai contava que um de seus passeios favoritos era ir ao Vale do Anhangabaú tomar cerveja. Seis meses atrás ele foi assaltado no mesmo lugar que ele tanto havia passeado com os amigos e namoradas. Hoje em dia tudo mudou. Não é saudosismo. É constatação.

Estamos na era do perene, do instável e do favoritismo. Deixamos de lado o cd player, o próprio cd e o rádio e trocamos pelos tocadores virtuais de música. Não precisamos mais do cd; a letra fica disponível na Internet. Estamos na era do virtual. As músicas vêm sem que sejam vistas. Antes, o cd era palpável. Um arquivo de extensão chamado de MP3 mudou tudo. Não “vemos” a música. Estamos na era do dois em 1. Telefone celular que tira foto, filma, acessa Internet e vem acoplado com pacote Office e, claro, faz ligação. Esquecemos que a máquina de escrever é funcional. Humana. As câmeras analógicas e práticas ficaram nas brechós e ferros-velhos urbanos. Aquela revelação artísticas que permitia efeitos e trabalhos experimentais como os de Hockney ficaram para trás. Basta tirar uma foto, abrir o programa de imagens e tudo poderá ser alterado em questão de segundos. Estamos na era do dois em um. Geladeira com televisão, moedora de gelo e som. E, claro, ela ainda refrigera alimentos. Estamos na era do menor esforço. Trocar de marcha é obsoleto. Bom mesmo é carro automático, correr na esteira digital da academia, ver DVD no banco de trás, pendurar televisores no lugar de quadros e acender as luzes com um simples bater de palmas.

Hoje em dia tudo mudou. Estamos na era do desprendimento, do anti-relativismo e do distanciamento. Se antes as relações pessoais eram mais estreitas, hoje elas são manuseadas por e-mails, mensagens de texto e vídeo-chamadas. Perdemos o contato humano. Estamos sim na era do anti-relativismo. Quem quer saber de onde viemos e quem somos? A metafísica está morta. A herança de Aristóteles custa apenas R$ 1,99 no sebo da esquina. “Acesse já e saiba a sua personalidade”. Quem precisa de leitura? Nietszche já havia alertado para a morte da metafísica lá por 1800. Estava certo. Com ela, as questões ontológicas também se esvaíram. A arqueologia do saber ficou soterrada pelo distanciamento. Estamos na era de somas. Quem soma mais, pode mais. Tudo é enfeite. Menos, sempre menos contato, menos humano, menos sentimental. A era do Iposso, Ifaço, Isou, Ipod, I I I . Quem quer saber de metafísicas, Aristóteles, filosofia, máquinas de escrever, papel e caneta..? Hoje em dia tudo mudou. Somos perfeitos um para o outro, desde que seja à distância.

E eu ainda me lembro da minha mãe contando como era divertido pegar o bonde e ir até o Vale do Anhangabaú tomar sorvete.

Tuesday, May 20, 2008

KDE DOMOV MUJ

Alguém, algum pensador já deve ter dito que a beleza das coisas está na simplicidade. A simplicidade de uma cidade, um sorriso, a simplicidade para se vestir e tomar decisões na vida. E tudo pode ter esse toque de “simples”. Chanel já havia dito: na dúvida vá de tubinho preto. Elegante e simples.

E foi planejando meu roteiro de final de ano fui pesquisar sobre Praga, capital da República Tcheca. Já sabendo que a cidade, apelidada de pérola do oriente, era uma das mais belas da Europa, me deparei com algo que me chocou. Tendo a idéia, como a maioria do ocidente, que Praga era sinônimo de um povo rude, fechado e, porque não calado, encontrei no hino dos Tchecos algo espantoso:


KDE DOMOV MUJ
Kde domov möj, kde domov möj?
Voda huí po lu¹inách, Bory ëumí po skalinách,
V sadÆ skví se jara kvÆt,
Zemskú ráj to na pohled!
A to je ta krásná zemÆ, ZemÆ
Teská, domov möj, ZemÆ Teská, domov möj!
Kde domov möj, kde domov möj?
V kraji znáë-li bohumilém Duëe utlé v tÆle ilém,
Mysl jasnou, vznik a zdar,
A tu sílu vzdoru zmar!
To je Techö slavné plémÆ,
Mezi Techy domov möj,
Mezi Techy domov möj.

ONDE ESTÁ MEU LAR
Onde está meu lar? Onde está meu lar?

Onde a água borbulha pelos rios,
E pinheiros sibilam entre os rochedos,
Um jardim glorioso com flores de primavera,
Um paraíso sobre a terra.
Esta é a terra maravilhosa,
A terra Tcheca, é meu lar,
A terra Tcheca, é meu lar.
Onde está meu lar? Onde está meu lar?
Se, num lugar celestial, você encontrar,
Almas nobres e sensíveis,
De mente clara, vigorosa, audaciosa,
Dotados de uma força capaz de enfrentar qualquer desafio,
Aí está o glorioso povo Tcheco,
Entre os Tchecos está o meu lar!
Entre os Tchecos está o meu lar!

Esse é o hino tcheco. É simples, elegante, forte e lindo. Fiquei emocionado. Fiquei tocado pelo comovente hino de um país que, até então, eu achava “rude”. E claro, que fiquei pensando em outras coisas similares. Metáforas a respeito do simples e do rude e daquilo que pode parecer simples e que no fundo é rude. E do rude que é simples.
È coisa de caráter. Eu imagino que quanto mais simples se queira ser, mais rudimentar e tosco é o espírito. Isso porque a simplicidade está nela mesma, na própria natureza de ser e parecer simples. Não é passível de força. Quanto mais se força, mais se arrebenta o laço. O simples das atitudes honestas e sinceras. O simples no lidar com sentimentos próprios. Aquela falsa simpatia que provém da arrogância. O desprendimento com dinheiro, quando a questão principal é a ganância devoradora. E tantas outras somas, que se estendem pelo espírito. Não podemos falar de simplicidade quando algo já está intitulando-se como “simples”. Questão difícil essa, mas repleta de exemplos. Será que dei um? Devo ter dado. Devo ter falado de muitas outras coisas aqui. O importante é falar de simplicidade. Nem sempre camiseta branca e jeans é ser simples.

Monday, May 19, 2008

Hard Candy

Depois da chuva calma, fria e demorada de ontem, hoje o dia nasceu ensolarado.

Acordei, olhei pela janela e deixei o casaco de lado. Sentei-me de frente à janela e enquanto tomava o primeiro café do dia, lembrei de você. Lembrei do seu rosto. Aquelas lembranças tristes de outono. E nem parecia outono. Pela xícara fumegante, eu sabia que haveria algo mais. Sem explicar, fui trabalhar com aquela imagem. No fundo, todos temos fantasmas. Alguns tem mais de um. Um fantasma que assombra e que vive como uma marca.

E fui, no caminho, guiado pelo sol, lembrando de você e da última vez que vi o seu rosto virar a esquina. Lembrei de como eu poderia ter ido e não fui. Lembrei do livro que eu estava lendo na época e de como havia começado o dia.

Uma manhã.

Thursday, May 15, 2008

Arrow

O movimento pelos carros assessorados pelo tempo, da vida curta e apressada e das vontades alheias, nos trouxe até aqui. Pelo alto prédio espelhado, do sol reluzente de outono ou os céus límpidos dum azul mais que profundo. Por onde andamos o dia inteiro? Qual foi o laço maior que nos apartou? Estivemos no efêmero espaço do mortal para morrermos de pé em pé, como se caminha rumo ao monumento dos espíritos saudáveis. E jazemos no paraíso que tanto buscamos esses anos todos.

E por que parecemos com lágrimas de arrependimento. Eu ouço sua orelha sussurrar a vontade de uma outra coisa qualquer. Romântico, talvez sejamos românticos como Goethe, mas somos covardes como seus personagens. E vivemos do sistema da recordação, do padrão de formas da memória. Lincoln disse que “Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes.”

Tornamo-nos covardes de si mesmos. Nos encobrimos de normas e paradigmas. Sartre apontou para esse mal duradouro; essa coisa da norma. E estamos bamboleando na sua citação “Os covardes são os que se encobrem sob as normas”. Encobertos das normas de finalização, do término e de que, no fundo, as coisas acabam. Perdemos o sentido de imortalidade que nos deram o livre arbítrios. Essa coisa do católico, presa em nosso corpo desde o nascimento, estamos atormentados de culpa. O certo e o errado. Ainda acreditamos em teorias de vingança.
"Não faça aos outros o que não queres que te façam”, dizia Confúcio. E estacionamos o corpo no lugar perfeito e calmo. Avante ao cômodo que o nosso estandarte já foi alvejado pelas más-línguas.

Eu deixo você como quem deixa a água correr pelo rio. Você, olha, e me deixa ir como quem deixa a areia escorrer entre os dedos. E a cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.

Somos covardes de nós mesmos.

Wednesday, May 14, 2008

Far from other town


Na idade média, Galileu disse que a Terra era redonda e girava. Todos se chocaram e ele teve que mentir. Mas dizem as más línguas que no pronunciamento forçado, depois de dizer que não, a terra não era redonda ele virou para o lado e quase sussurou "mas que gira, gira".


Espirituoso nosso colega cientista. E gira, gira. É inquietante essa coisa da terra girar. Ele mesmo, o Galileu que o diga. Por pouco não foi para a fogueira com a Joana D´arc. Ela certamente iria lhe dizer uma poucas e boas e o chicote ia cantar (castigo de Deus).


Bom, point is, essa história de que a terra gira já foi usada para muitas metáforas. Minha amiga Silvia diz que isso ai de falar que o mundo gira é puro despeito. Segundo ela, dizer isso seria algo como "ah, não me quer? vai ver só!". Bom, não questionando a razão ou os motivos que a levam crer nisso, eu myself hei-de-concordar-com-ela. Me parece um certo despeito. E o Galileu foi despeitado sussurrando que a terra gira. E logo após ter desmentido!


Ao que me parece, essa história de mundo, terra e peão girar só foi bom mesmo para as naus que partiam oceano afora achando que uma hora iam cair no abismo ou encontrar um monstro malvado. Quando souberam que a terra era redonda e que girava, ficaram mais calmos, os pobres portugueses.


E nós mesmos que ficamos no futuro com a porca teoria de que o mundo gira é que caímos no abismo, esperando que a terra fosse girar e se vingar.

Sunday, May 11, 2008

Certos dias, certos instantes, algo parece mudar. É pouco, é provável que seja pouco. Com os minutos, algo parece se dividir exatamente como um ato de reprodução. E algo muda. Pequeno, sensível aos ares e cores. É uma procura incessante pelo desconhecido ou pode mesmo ser a busca por aquilo que provê a vida.


É um sentimento aurívoro e um tanto desgastado esse o da procura. A mudança das coisas pode trazer uma busca. Busca por aquilo que se está perdendo; o corpo lentamente esvaziando, deixando antigos hábitos escorrerem por um fluído insípido, até sair pelos poros ou escorrerem por uma lágrima.E que busca é essa? A vontade de um aperto de mão estranho ou de um sorriso apertado de saudade. A vontade por flores e túmulos. A saudade daquilo que foi e não retornou. O anseio pela imortalidade das coisas e pelo gosto do mar.


Certos dias, a vida parece mudar. Um fragmento por vez. Uma distância por minuto. Na cardeal, jaz aquilo que ficou de esperança. O domínio do espírito, seja lá o que possa ser, carregando uma flor no semblante. Duas badaladas de sino. Duas pausas para piscar os olhos - preto e branco -, e um único momento para sentir que o outono chegou em dias claros de ventos frios. Por um minuto, algo pode mudar. A eternidade do corpo transforma-se em um único aparato da antítese. E dizem que deve existir um lapso, um evento ou catástrofe para algo mudar. Não crêem que uma gota de chuva pode ser o escopo para uma liberdade irônica. As tentativas de cartas, enterradas próximas ao túmulo, sem lápide...
Certos dias, o céu, como acontece com o mar, vai de encontro à cabeça e chega a encostar no fio de cabelo que o vento levantou. Lentamente, a íris muda de cor e algo acontece. Algo muda e transforma-se.


Nas minhas poucas esperanças de um possível retorno, eu deixo flores na Cardeal. Levo pensamentos para um lugar estranho e desconhecido que imagino ser um espaço paradisíaco. Pelo menos é a minha idéia. Eu carrego a memória como alavanca para tornar-me aquilo que se espera. Ela sorri, contente, ela sorri.

Acena na porta e diz: bom trabalho.

Friday, May 09, 2008

Show me your teeths

Entre os anos 60 e 70, surgia na Europa um novo sopro para a filosofia que se estendeu para outras áreas do saber como, por exemplo, a antropologia e sociologia. Michel Foucault reiventou a filosofia do século XX, instituindo um novo modo de pensar e escrever.

Preocupado com as questões do mundo contemporâneo, Foucault voltou olhos para a política e examinou como o mundo estava se transformando pela questão do poder. E foi exatamente nessa trilha (resumidamente), que o filósofo dissecou o poder e suas facetas. No livro intitulado Microfísica do Poder, uma série de entrevistas feitas com Foucault, ele discorre sobre o que ele considerava como "micro-poderes". Já desgastada a idéia de que o poder vem, essencialmente, do Estado e, assim, repassado aos integrantes hierarquicamente, Foucault nos mostrou que o poder não está somente nessa instância.

Esse tal "micro-poder" é um tipo de ação causada, grosso modo, pelos simples cidadãos da sociedade capital. ELe funciona como o poder do Estado sobre a sociedade: controle estabelecido entre o dominante e o dominado. Segundo Foucault, o poder permeia a sociedade em todas as instâncias, desde o motorista de ônibus ao jornaleiro da esquina. A novidade foi estabelecer que o poder existe e convive entre todos das mais variadas formas. Seja o pode linguistico-persuasivo, seja o poder sobre o doente, sobre o deficiente ou necessitado. E esse poder nos é dado, não pelo Estado, mas exatamente pelo convívio mecanizado. Isso porque, a sociedade ocidental construiu como referência a sociedade capitalista de ascenção. As tais discussões acerca da influência norte americana no mundo não é somente à guiza de discussão. Por ela se estabeleceu o pensamento burguÊs que aceita o poder e o tem como figura paterna: aqui funciona. E é a própria sociedade dos Estados Unidos da America do Norte que estabeleceu: o mais forte sobe, o mais fraco desce. Segundo essa proposta, para que isso ocorra, é necessário que se instaure um micro poder para que, o mais forte possa dominar o mais fraco e, desse modo, torne-se dentro da sociedade em que vive (tal sociedade se caracteriza em qualquer ambiente, seja familiar ou de amigos) o dominante.

Mas Foucault determinou outros "por vir" diante dessa questão problema. Se o poder pode se estabelecer em qualquer instância da sociedade, sem o controle do Estado, como se dá a manutenção desse micro-poder?

É ai que jaz a principal caracteristica, ao meu ver, do século XXI. O suposto dominado tem como constituição e como sonho a ser almejado, um dia poder dominar. E como em qualquer relação sempre há ou surge uma "brecha" (como os anarquistas ou comunistas que surgem diante do capitalismo),é por meio dessa "brecha" que o dominado pode, enfim, tornar-se o dominante. Pode ser por um segundo, mas o infeliz poderá gritar "eu ganhei". Uma conversa ou pela fraqueza de alguém. O micro poder se instaura e torna-se saboroso. A perda da virgindadade, como a criança que experimento o doce pela primeira vez. O infeliz vê-se obrigado a cometer "crimes" sobre o dominado, esquecendo que um dia já esteve na mesma posição.
Foucault postulou essa teoria.
O que nos resta, no começo do século XXI, é um outro Michel que possa nos dizer sobre a alma desse infeliz. Poderia ser um novo Aristóteles, mas ele foi dominado, por algum grego infeliz.

Thursday, May 08, 2008

You got me Rocking

Um avião no meio de um arranha-céu. Outro avião. Uma grande nuvem de fumaça. O pai trancafia a filha de 18 anos num porão. Lá ela vive por 24 anos, sendo estuprada e parindo filhos do modo mais primitivo. Os pais que jogam a filha pela janela, depois de estrangulá-la. A pauladas, a filha-patricinha, mata o pai e a mãe com a ajuda do namorado. Num belo dia a filha se joga do quarto andar por não aguentar mais o pai bêbado. A mãe, outra mãe, prendia as filhas com corrente dentro de casa (disse que eram rueiras). Uma bomba explode dentro de um trem na espanha. No Brasil, imigrantes japoneses são detidos no porto de Santos por ordens de Getúlio e são levados para campos de concentração. Os EUA, curiosos, apertam o botão para jogar a primeira bomba atômica em Hyroshima. Mataram a curiosidade, mas a imagem daquela nuvem é hoje motivo para arte. Ninguém esquece. Milhões de judeus dentro da câmara de gás. Os russos prendem soldados alemães nos próprios campos. O homem vai à lua. Desce, recomeça e anos depois dois garotos, armados até os dentes, matam seus colegas nos EUA. Semanas depois, uma criança é presa depois de apontar um nugget para o coleguinha. O pai diz "não sou um monstro. Eu poderia ter matado ela e seus filhos", em relação a menina austríaca. Einstein, dizem, ficou chocado: não só pelo que fizeram com sua teoria - que mais tarde viria a ser título de cd de cantoras melódica - não podia retornar à Europa. Duplamente chateado. Morreu com dor de cabeça. O presidente Clinton, esporra a secretária e essa, sem pudor, vai à televisão denunciá-lo. Sua mulher, altiva, anos depois se candidata à presidência. Soldados talibãs são treinados pelo governo dos EUA. Anos depois, se jogam em aviões contra prédio comercial. Mas os estudantes se revoltaram em Paris contra uma possível repressão. Disseram, alguns, que eram burgueses. E nem precisou tanto quando Maria Antonieta foi levada à guilhotina depois de comer um pouco mais de doces. O jovem é levado à presidência da República Federativa do Brasil depois de aparecer como galã na contra-capa de revista. O maior escândalo político da década de 90. Alguns repórteres acharam ousada, mas Madonna saiu nua nas páginas de um livro. Enquanto que o Michael Jackson, maravilhado com o mundo cirúrgico, tirou o nariz e clareou a pele. Não muito longe, uma menina vietnamita corria depois do exército americano jogar napalm perto da sua casa. E ninguém protestou contra o papa quando ele disse que os gays eram criminosos e camisinha tinha que ser proibida. Ele mesmo, nunca precisaria delas. E o Franco matou milhares. Fidel ficou ilhado, mas usando Reeboks. Alguns anos antes, a ativista política Olga, famosa pelo radicalismo, foi enviada à Aushwitz. Morreu como mártir, não por aqueles que mandou matar, mas pela sua morte. Prestes se livrou. E Liz Taylor, amável, casou 10 vezes, e nem se deu conta que atores-glamurosos de Hollywood iam morrendo com pílulas para dormir. Quando disseram para Carmem Miranda que seu inglês era muito bom, ninguém achou estranho que os estúdios mandaram ela forçar um sotaque portuglês. Sem delongas, queimar livros e pessoas na fogueira parecia ser o esporte predileto dos católicos da idade média. E depois disso, as pessoas ficaram chocadas quando souberam que Michelangelo roubava cadáveres para estudar anatomia. E quando cantaram parabéns para a menina que foi jogada pela janela, um senhor tomava café no bar da esquina. O Machado mesmo analfabeto tornou-se escritor reconhecido e do outro lado do oceano o Eça dizia "isso é literatura marrom". Bobagem. A peste bubônica invade a Europa e mata milhões. Sem falar nos índios da américa central que, ingênuos, foram dizimados com lanças, pedras e socos. Isso antes mesmo antes do EUA terem tomado a Califórnia dos pobres mexicanos. Não houve questionamento quando ficaram sabendo que a cidade chamava Los Angeles e não The Angels. Todos chocados com os prédios em chamas. Lembraram, é claro, do Joelma. A Estátua da Liberdade viu tudo de perto - era um presente dos franceses. E os argelinos finalmente estavam livres das baguetes e croissant, mas morrem de fome hoje. Coitada, a Índia nem com a língua inglesa pôde ficar. Só os japoneses que tiveram a ajuda financeira para reconstruir as cidades bombardeadas. O teste deu certo. As pessoas, sim, morrem. E coisas boas acontecem quando os escravos resolvem se rebeliar. No sul, lá em cima, perderam a guerra. Felizes eles ficaram quando em uma ilha criaram um bairro só deles. E saiu outro dia no jornal que o maior índice de suícidio é na Suécia.
Kennedy assassinado e a Greta Garbo escondida no apartamento em NYC, só ficou sabendo pelos jornais. E o que o Dom Pedro tinha a ver com as mentiras do Nixon? Getúlio se mata com um tiro na cabeça, mas nos deixa o FGTS e o seguro desemprego, enquanto que Juscelino inicia a dívida externa. Alguns militares diziam que comunismo era crime. No Chile, milhões são mortos. A Argentina se racha ao meio. A ditadura trouxe benefícios. Pergunte aos mais velhos. "Era ordem".
Os aviões colidem, os pais escondem filhas no porão quando não as jogam pela janela. E tantas outras coisas acontecem.
O que isso tem a ver?

Wednesday, May 07, 2008

My senses

Outro dia, outro livro, talvez uma ou duas músicas sem sentido. Sentado, lia pelo menos vinte palavras por minuto. É pouco. Ouvia pouca coisa enquanto a música tocava. Eu estava sentado tentando entender certas nunces lá do mundo de fora. Tentei a lógica, a poesia, a música e até mesmo geometria, mas como nunca fui bom aluno de contas, resolvi deixar de lado.

Resolvi encostar o livro e dar um stop no rádio. Quantas vezes eu ainda poderia dizer que não tinha lido e nem ouvido? Deitei, como se eu pudesse simplesmente, sem sono, fechar os olhos e dormir. Sem êxito, levantei, pisei no chão gelado-de-outono e fui para a cozinha. Preparei um café, mas não tomei. Acendi um cigarro, troquei de roupa e abri a janela. Estava deserto. O frio tem dessas coisas de afastar as baratas. Tentei cochilar no sofá, mas não pude.

Parei em pé, ao lado das persianas verdes da sala. Deitei os olhos no sofá, depois tentei medir minha altura. Talvez 1, 80. Menos até. Sorri para o escuro e voltei para o quarto. Inquieto, dormi sem perceber que eu ainda deitava a cabeça no seu peito, todas as noites.

Thursday, May 01, 2008

Brass in Pocket

Há quanto tempo venho treinando a caneta por entre os dedos? O medo de ficar trêmula, bamba ou sem tinta. Há quanto tempo? Nem ao menos borracha eu tenho para apagar o que sai errado.
Outros, tantos outros poemas ficaram para trás. O poema de nós dois. O que virou três ou quatro xingamentos. Uma história de começo e meio. Finais infelizes. Eu vou fazer algo além do que escrever. Print as palavras para outra ordem. Misturar o english com o français. Será que decorei minhas aulas? Classes em pleno inverno. Talvez seja sintoma da loucura, this thing.
Há quanto tempo venho treinando os olhos para ler Faulkner e Foucault? Nem ao menos entendi as aulas de filosofia e já acho que os sofistas eram farsantes gregos. Do fogo selvagem, unhas queimadas, eu venho treinamento meus dedos. Minhas mãos. Meus lábios, minha pele, meu corpo, meu gozo, cada fio do meu cabelo: