Sunday, May 11, 2008

Certos dias, certos instantes, algo parece mudar. É pouco, é provável que seja pouco. Com os minutos, algo parece se dividir exatamente como um ato de reprodução. E algo muda. Pequeno, sensível aos ares e cores. É uma procura incessante pelo desconhecido ou pode mesmo ser a busca por aquilo que provê a vida.


É um sentimento aurívoro e um tanto desgastado esse o da procura. A mudança das coisas pode trazer uma busca. Busca por aquilo que se está perdendo; o corpo lentamente esvaziando, deixando antigos hábitos escorrerem por um fluído insípido, até sair pelos poros ou escorrerem por uma lágrima.E que busca é essa? A vontade de um aperto de mão estranho ou de um sorriso apertado de saudade. A vontade por flores e túmulos. A saudade daquilo que foi e não retornou. O anseio pela imortalidade das coisas e pelo gosto do mar.


Certos dias, a vida parece mudar. Um fragmento por vez. Uma distância por minuto. Na cardeal, jaz aquilo que ficou de esperança. O domínio do espírito, seja lá o que possa ser, carregando uma flor no semblante. Duas badaladas de sino. Duas pausas para piscar os olhos - preto e branco -, e um único momento para sentir que o outono chegou em dias claros de ventos frios. Por um minuto, algo pode mudar. A eternidade do corpo transforma-se em um único aparato da antítese. E dizem que deve existir um lapso, um evento ou catástrofe para algo mudar. Não crêem que uma gota de chuva pode ser o escopo para uma liberdade irônica. As tentativas de cartas, enterradas próximas ao túmulo, sem lápide...
Certos dias, o céu, como acontece com o mar, vai de encontro à cabeça e chega a encostar no fio de cabelo que o vento levantou. Lentamente, a íris muda de cor e algo acontece. Algo muda e transforma-se.


Nas minhas poucas esperanças de um possível retorno, eu deixo flores na Cardeal. Levo pensamentos para um lugar estranho e desconhecido que imagino ser um espaço paradisíaco. Pelo menos é a minha idéia. Eu carrego a memória como alavanca para tornar-me aquilo que se espera. Ela sorri, contente, ela sorri.

Acena na porta e diz: bom trabalho.

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