De muito longe, há uma voz que diz sempre a mesma coisa. Ela vem distante quase como um sussurro e diz sempre a mesma coisa. Seja a direção ou até mesmo a vontade de comer e beber. Quando o laço se corta, ela vem e diz da saudade, mas que o tempo insiste em curar. Quando do amor, ela chega mansa e diz sobre o valor de cada pedaço que o coração deixa cair por terra. Ela diz sempre a mesma coisa.
Sejam lições escondidas nos mistérios de um percursso, seja pela vontade de querer crescer, de muito longe ela vem e diz sempre a mesma coisa. Pela vontade de retorno daqueles que se foram, ela diz que a distância é bálsamo para o esquecimento-benéfico. Remédios para a dor, remédio da felicidade. O sono leva que ela traz, dizendo baixinho que os sonhos devem ser esquecidos no travesseiro. Ela deixa a água encantada com um cheiro de flor e baunilha. Ela diz sempre a mesma coisa. Quando o afastamento chega atropelando a vida, ela vem e diz para deixar passar e que no fim, sempre há uma equação balanceada para cada acontecimento.
Ela vem de longe e diz sempre a mesma coisa. Repete canções antigas, recita poemas diversos e lê as mais belas passagens contidas nos antigos livros. Arrête là. Levanta, ela diz suave. Levanta que é dia de festa. E recita, como tutora das águas, um verso:
Ela diz sempre a mesma coisa. De muito longe ela vem e arranca a raiz do solo. Aquilo que não germina ela arranca com as mãos. Aquilo que não tem fruto, sem sabor, sem cor; ela corta pela raiz e diz sempre a mesma coisa. Arrête là! A maldade dos olhos que percorre também a noite, ela cega. As palavras duras ela faz silenciar no canto do fogo, ela deixa arder os cabelos ruivos. Arrête là. Avante que o mar é dentro. Ela diz sempre a mesma coisa. Metáforas esvaziadas e muitos ditos populares. Inventora de árvores gigantes, dos relâmpagos que iluminam o breu da noite, ela cala inimigos. Arrête là! Erga sua espada, ela diz. Erga o elmo e avante para a guerra. A guerra pelas chuvas e florestas. Embrenhando-se no mato selvagem, por entre cobras, insetos e animais.
De muito longe, há uma voz que diz sempre a mesma coisa:
Arrête là!
No comments:
Post a Comment