Friday, November 28, 2008

Bem-vindo.

As palavras vão costumeiramente circulando todos os fatos. Do passado ao presente, falo demasiadamente sobre os eventos que me alfinetaram nesses dois anos. As causas perdidas, a fome de morte e uma certa vontade de explorar o mundo como representação do meu próprio espírito. E os leitores, por vezes tão vagos, me visitam intimamente na procura de um saber ou de um entender de vozes, cantos, mitos e poesias que construam um pouco e desconstrua muito do que eu sou. Não há mistério algum. Se a palavra comum não fosse curta, ou pouco expressiva, poderia, eu mesmo, usá-la ao meu favor. Nem procuro mais entender o porquê de tudo. O melhor é sentar. Hoje me deu vontade de ler Barthes. Há tempos não abro nenhum dos seus livros empoeirados na minha estante. E tudo isso, as palavras que escapam da minha boca, voam pelo profundo e desértico mundo das coisas mortas. Falar do passado é dar sentido ao presente. As paixões cada vez mais distantes e cindidas, vou em busca de muita mudança, cores para pintar parede, decoração expressiva e um lindo sofá. Queria mesmo objetos de famosos e renomados artistas do design moderno. E imagino se pinto as janelas de verde-escuro com as bordas brancas ou tudo branco mesmo.
Sempre esperei o dia em que o mundo fosse girar, sem que eu percebesse, pois as surpresas me agradam. Minha fome em dizer ainda ficou presa na garganta, como um nó que me fizeram à la marinheiro. Eu poderia nesse exato momento correr até a porta do seu trabalho dizendo certezas do futuro para dois. Preparar buquês românticos de rosas vermelhas. Acontece que o romantismo ainda está com lugar ocupado. Levarei cravos. Ainda assim, estou à procura de um vaso grande para o corredor. Luminárias para a cozinha e um monte de outras coisas pequeninas que farão minha vida um pouco mais colorida. Digamos que tem espaço, só é necessário um passageiro. Amanhã, quero flores na minha porta e um lindo cartão:

"Sem bem-vindo!"

Saturday, November 22, 2008

Os nove passos do sucesso

Eu não espero. Não tem mais aquele valor fatídico e virtuoso de conseguir caminhar lentamente. Eu não espero. O seu telefone, súbito, melancólico e cheio de segundas intenções. E trocamos tudo pelas mensagens de sms do celular. Eu não espero. E quando naquela tela pequena nos encontramos, eu pareço ainda pular, como uma criança. Eu não espero, mas meu coração saltita, dá pulos e volta para a realidade sofrida na qual criamos um espaço único e raro, repleto de linha pintadas de amarelo que não podemos cruzar jamais. Essa saudade surda que nos faz largar o mundo e correr para a linha do telefone e para as nossas vozes já silenciadas por tantas mudanças. Eu não espero. Sento e ouço repetidas vezes o mesmo alô e o mesmo beijo, tchau. E ainda depois de tanto tempo revivido, ainda pensamos que ao final um dos dois dirá eu te amo e o outro responderá ansioso e morto de vontade, eu também. No começo de cada dia, vem aquele pensamento inquientate e pungente de hoje será o dia. E esse dia nunca vem. Eu não espero. Flores na campanhia, cartas seladas com perfume Yves Saint Laurent. A medida que tudo passa, as nuvens se aglomeram e o calor cessa, fica aquela interrogação.
Eu não espero. Pelo o quê ou por onde, eu sento e descanso os ombros em cima do corpo. Quem sabe o que esperam os dois, cada um de um lado da linha. Eu não espero você, mas os sonhos me traem e você quieto, desliga o telefone.
Eu não espero, mas eu sempre ouço a sua voz e você a minha.

Tuesday, November 18, 2008

Olha pra cima.

Tudo aquilo que flutua. Sobre a cidade já repleta de luzes coloridas, enfeites cintilantes e árvores com as pontas brancas, imitando a neve que nunca caiu. O Céu coberto de nuvens cinzas e os dias caminhando entre gotas de chuva e ventos aleatórios. O cenário de um dias e dias flutuando paisagens, idéias e uma certa leveza preocupante. Nada mudou desde o verão passado. Até mesmos os enfeites de natal são os mesmos. Ninguém espera mais beijos antecipados ou romances novelísticos. Por vezes, mil vezes, esperei um acontecimento gigante, com novos intrutores de renas animadas e gorros vermelhos. E tudo aquilo que era sólido, hoje flutua no imenso paraíso das causas perdidas.Ali, naquele pequeno espaço, príncipes, rainhas, desertos e vastos oceanos confundem-se com a idéia de que o inconsciente foi desenhado para nunca parecer mais do que ele é.
Infinitos. Distantes. Incapazes. Tudo tão efêmero. Os laços cada vez mais tênues e soltos. O nó desamarrado. O tênis gasto. São apenas cenas da vida. Do cotidiano maravilhado com a possibilidade dos sonhos em carregar para longe, todas as vidas de um único dia. Se construir em torno do que somos. Nada mais atormentado do que essa idéia. São como pesados elefantes prestes a invadir a sala e derrubar o único copo de cristal que sobrou em cima do móvel gasto.
Tudo aquilo que flutua, feito a neve que não existe aqui. A neve que não vai cair. Mas esperamos, olhando para cima. Já é quase natal.

Num adianta olhar pra cima.

Friday, November 14, 2008

Algo no ar.

As razões, dentro de pequenas bolhas. Sabão. Uma fina camada translúcida. Meio colorida. Uma bolha de sabão. As verdades e as mentiras. Coloridas. Frágeis para o vento. Leves como o próprio ar. Do canudo, ao vazio. As razões e os atos. Voando alto. Já perdendo força. As ligas do sabão rompendo-se. Logo, uma fenda aberta. Vontades e realidades. Desce. Pequena. Sem força. Só a bolha. Aquilo que se deseja. A transparência da água. Incolor. Sentimentos e paixões. Estoura. Do ar, caem os respingos. Gotículas espalhadas pelo chão. Foi uma bolha. Colorida. Sem sentimento. Paixão. Espalhada na calçada. Foi um dia. Pelo canudinho. Um sentimento. Tesão. No ar, o resto de um dia. Os rasgos da vida cotidiana.

A bolha e o sabão.

Wednesday, November 12, 2008

Walking down the street

Adoramos um sonho impossível. Adoramos aquela sensação de que possa existir algo que desconhecemos, esperando na esquina. Todas as idéias deliciosamente perversas. É disso que somos feitos. Até a mais cínica das mulheres sonha encontrar um homem que a faça feliz e até o mais desencatado homem anseia pela mulher que o transformará. Estamos numa busca constante pelo impossível. Ela sempre nos dá a sensação de que, mesmo sem, estamos à espera daquilo que nos preencherá. Lendas urbanas. Aqueles sonhos repletos de travesseiros, músicas românticas, noites e mais noites de conversas em bares e amigas e amigos consoladores. Se chove, é motivo para projetar possíveis situações de encontros, unidos pelo inesperado. Ninguém procura um esforço, mesmo que pequeno para acordar do sonho, ir em busca daquilo que se quer e pronto: ser feliz. Adoramos um sonho impossível. É claro, eles são deliciosos e preenchem milhões de momentos carentes e solitários. Dão sentido às noites de sexta-feira ou um sábado em que tudo o que se espera é um telefonema e até os domingos familiares. Esses sonhos tão cheios de irrealidades, mas borbulhantes de romances cinematográficos. Esperamos sempre um sonho na esquina, no cinema, no bar, na rua, no ônibus ou esperando na fila para pagar um livro. Adoramos um sonho impossível.
E não há como escapar da inevitável questão: por que esses sonhos impossíveis estão sempre, em sua maioria, ligados ao amor?
Talvez, seja porque o amor, o tão idealizado amor, o mais lindo, puro e honesto sentimento seja a única forma que encontramos de alcançar um possível e idílico paraíso. O amor será o salvador. Eu emagreço quando ele aparecer. Se eu encontrar uma menina assim, desse jeito, eu caso. Eu quero um menino de cabelo bagunçado, meio avoado que seja parecido comigo. Seja como for, estamos em busca desse preenchimento do vazio que nos foi dado no nascimento. Essa sensação que carregamos de profunda solidão do quem sou eu e para onde vou, certamente, seria suprida se encontrassêmos alguém com quem compartilhar, dividir e, por fim, encerrar a pífia sensação.
Posso estar enganado. Pode ser simplesmente porque queremos nos sentir desejados. Pura e simplesmente. Verdade não há.
Ainda, pode ser bem mais simplificado: queremos isso, tudo isso, os amores impossíveis, o homem rico que se apaixona pela garota de programa, ou seja como for, pelo simples fato de que aquele amor idealizado seja a sensação mais gostosa que podemos, um dia, experimentar. É como estar, 24h por dia, num pleno orgasmo. Simples: é muito, muito gostoso amar e ser amado. E quanto mais difícil, melhor e mais valioso será, afinal somos seres dito humanos.
Ou, pode não ser nada disso, mas é por isso que eu adoro poder sonhar, seja com isso ou com qualquer outra coisa.
Mais ainda: é por isso que eu adoro Pretty Woman.

Tuesday, November 04, 2008

Antigos

Não existiu nem a poeira, nem mesmo o som veloz da partida. As vozes se intercalando no escuro, recitando pequenas frases amorosas e o silêncio completo. Era o começo de tudo. Uma espécie de sagração. Início do efeito. Ali, tudo se desmancha rapidamente. Laços açucarados e uma vontade maior dizendo que no rastro, nem mesmo a poeira ficou para dar sentido ao discurso matemático.
Leves caminhadas. Leves toques no rosto. As noites cansadas de velas e dores oculares. Nem rastro nem poeira. A subida leve e inquietanta da fumaça. Da sala, um cheiro estranho misturando-se aos ramos de eucalipto presos no prego da parede. Os quadros tortos, todos réplicas de pintores renascentistas, já não mais serviam como um adorno à decoração; estavam lá prestando homenagem aos antigos que passaram pelos corredores e que ali apontaram o dedo. O quarto desarrumado e o banheiro com goteiras no teto.
A mesa da sala, talhada em madeira maciça, estava coberta por uma leve textura branca de poeira. Era um vazio. Todos os momentos em que o estado de espírito havia sido maior que o próprio caminho. Morar, era senão uma condição do momento.
Nos vasos, as flores artificiais também estavam com cara de mortas. As antigas toalhas e os vidros embaçados. Apenas a sensação de que um dia, tudo foi habitado. Seres e histórias. E como um sopro forte e quente, foram-se todos. Retratos, manias, surtos e doenças, deixando para trás o rastro.

Uma pequena nuvem de poeira.

Monday, November 03, 2008

01.11.81.

Eu acordei com vontade de escrever um texto de agradecimento. Queria agradecer tanta coisa. O comum da vida, o corriqueiro e não menos, ordinário. Eu queria agradecer os tapas que levei quando criança e agradecer àlguém por fazer chover no domingo. E nem sempre é preciso dizer tanto. As palavras mastigadas e uma certa maestreza para fazer do óbvio o incomum.
Eu queria agradecer por entre caminhos, espinhos, razões e desde de que me disseram num jogo de tarô que nada na minha vida acontece por acaso, eu queria agradecer aqueles que estiveram comigo.
Aqueles que estão ali. Sempre. E que fizeram do meu sábado, um dos melhores da minha vida. Simples assim. Sentimental. Piegas. De lágrimas e risos. Encontros, re-encontros e desencontros.
Eu só queria agradecer.
Eu não poderia ter uma família melhor.