Thursday, October 30, 2008

13:24

Sempre aquele sonho batendo e esperando na janela. Nem adianta mais fingir que cortou o cabelo e que agora possui faculdades que permitem dizer isso ou aquilo. Aqueles estudos sobre psicologia e manifestações do inconsciente de nada serviram para que essa tal fraqueza fosse suprida. Eu, que espero verões por todas as horas do meu dia, aguento o som pesado dos meus próprios passos. Fui aconselhado e me desaconselhei. Ontem, escolhi outros momentos de felicidade mórbida; aquelas de pensar em você. Sacrifico-me feito um animal para dar sempre um sorriso quando te vejo no canto dos meus olhos. Mas isso tudo é vontade de dizer que nada mudou e ao mesmo tempo, tudo está diferente.


Eu digo: dos sonhos levamos apenas a sensação. Você ainda na sala dizendo que minha comida está sem sal.

Sunday, October 26, 2008

26.10.

Eu posso, dar voltas, caminhar entre paredes imóveis de concreto ou cerâmica branca, deixar crescer e cortar o cabelo. E eu sempre tenho uma novidade para contar. Seja com os dedos, ou simplesmente pela minha voz rouca de fumo. Costumo ter essas preocupações com o futuro e a descrença do mundo. Observo as pinturas mais secas, talvez Pollock ou Bacon, tão cheias de emoções, contundentes e aos poucos vou indo na direção contrária. Eu espero anos se passarem como paisagens de um auto retrato. Eu canto e danço, sapateio o destino forte, porém tosco, com batidas pesadas. E há tanto para se entender do espaço, das estrelas e de astros enterrados que por vezes pareço me perder com um simples piscar de olhos. Rente, o corte das laterais rente ao couro, procuro detestar filmes românticos ou músicas festivas. Nos dias de hoje, nada mais é arte. Tudo tornou-se pretensão para um possível futuro de espelhos. Eu ainda querendo traduzir a frieza daquele olhar. Agosto, tornou-se um mês insípido e insignificante. Nas ruas, lenços palestinos, galochas, casacos de cotelê roxo e eu caminhando apenas para ter um sentido de pernas. Pessoas estranhas, um pouco familiares entre tanta vontade de se reconhecer como mais um estranho com um passado pesado. Misturo-me ao desconhecido e viro mais um. Ali, naquele lugar, é a única possibilidade. Estar entre o forte som das buzinas e os letreiros luminosos. Onde há tanta fumaça, seja dos charutos de executivos ou mesmo das banquinhas de hot dog. Meu show começa cedo, logo pela manhã. A retrospectiva incerta, pouco racional, de eventos, livros e poesias que fizeram um grande novelo, acabando como uma colcha retalhada com panos velhos e desgastados. Já é quase natal e o único presente que comprei foi um óculos de imitação estilo Bob Dylan. Contar as novidades, o crescimento dos pêlos no peito e nem mesmo a nova reforma na gramática permite que as cartas sejam diferentes das de ontem. Eu digo que as novidades tornaram-se grandes temas para conversas em cafés ou nos bares da Rua Augusta. Se saber viver é isso, talvez um gran finalle seja apenas uma má idéia entre tantas outros, como aquela idéia de se vender talentos. E no que posso dizer, um novo apartamento com banheira clássica de cerÂmica branca, mas a única coisa que levo são alguns acordes de um noturno de Chopin que aprendi a tocar com um mão. Os livros da Virginia, Faulkner e Cortazer numa prateleira que gosto de chamar de especial. Toda a coleção de Pessoa e literatura italiana moderna. Assim, se foram os anos. De ouro, prata, assim foram os anos. Tudo passando rápido ou o mundo parece ter empurrado tudo. Ainda os retratos de amizades desfeitas e uma péssima idéia de reatar laços corroídos pelo desgosto. Seja isso, ou aquilo, agosto tornou-se um mês transparente. Eu nem mesmo contei as datas esse ano. Ano da morte, ano do amor desfeito e dos pássaros que migraram para o norte. Um falo império de sentidos extremos. Letra e cor.

Eu posso, simplesmente, dar uma volta. Mas acabo sempre no mesmo lugar. Aqui, e ai.

Thursday, October 23, 2008

Love is a losing game

Eu vou escrever de um modo simples.

Eu vou detalhar os fatos de uma impossível causa de conquista.

Poucos instantes.

Aqueles intermináveis segundos antes de colocar o telefone no gancho. Ali, parado diante de tudo o que se passou. Ali, como se estivéssemos diante um do outro. Era aquele sabor do sonho, o sabor da vida, do amor conhecido como amor, do sexo, do desejo, dos cabelos e de cada fio do braço. Eu ali, diante do telefone, esperando, depois de dois anos e dois meses, que algo pudesse ter mudado. E quem diria que depois desse tempo todo um orgulho apareceria. Rei, comandando cada passo da minha forma passional de entender e viver. Ali, antes mesmo que eu colocasse o telefone no gancho. A presa, fácil. Mas eu ainda poderia escrever mil cores, descrever a delícia que fomos um dia. E do futuro eu certamente utilizaria meu talento para dar pinceladas em tons fortes, mas ali, só o branco, misturando todas as cores. O branco da cegueira, o branco de mil coisas, o branco da minha roupa por debaixo da pele. Depois de contruir muros e muros, derrubar, ajustar, erguer, cair, reerguer. Agora, depois desse tempo injusto, depois do morto na cova, nada, nada mesmo pode me fazer esquecer quem eu me tornei. Ninguém, nem mesmo eu, poderá um dia dizer que não foi à duras penas que deixei de carregar no canto dos olhos, uma pequenina lágrima.


E ontem, pela primeira vez em muito tempo, deitei e chorei.

Saturday, October 18, 2008

Um dia a mais

Aos sábados, espera-se aquela estranha sensação de outrora. Alguns fatos acumulados no bolso. Estranho mesmo é sair quando a chuva manda que tudo fique parado no espaço de 48 horas. A leitura de livros de filosofia, os olhos ziguezagueando pelo quarto escuro. Lá fora, as nuvens aglomeradas em diferentes escalas de cinza e roxo. E como se estivéssemos escorrendo, gotas de folhas e as árvores reverenciando um dia a mais em nossa existência andarilha.
Caminhar com passos vagarosos estalando pequenos surtos de ansiedade. Assim, se pode ver os faróis ficando verde. Nas faixas brancas, todo mundo atravessando e segurando a aba do casaco. Ninguém mais usa chapéu. O trabalho com carinho excessivo e a destruição daqueles olhares tão íntimos. Aos sábados, o gosto daquilo que não foi feito na semana. Contas atrasadas, televisores desligados e livros empilhados. Mais uma noite de sono perdida. O retrato familiar em cima da mesa querendo despertar sentimentos enterrados nas salas de terapia intensiva. O gosto amargo e esfumaçado do cigarro, na língua e na garganta. Nem mesmo se pode notar que havia ali na avenida um novo conjunto comercial; os dedos roídos. Ninguém procura mais tatu-bola ou lesmas nos jardins criados como canteiros de avenidas. No ponto de ônibus, se aglomeram diferentes guarda-chuvas. Capas transpartente e amarelas para cobrir o corpo e fugir das poças.
Aos sábados, o gosto antigo de esquecer que o mundo existe dentro do mundo. Ser apenas uma fração daquilo que um dia se esperou ser. Talvez, criar uma poesia sobre hábitos do cotidiano. Nem isso mesmo. Às vezes, o sono é o melhor dos remédios.


Aos sábados, uma fina chuva, um gosto pelo presente e as sensações do futuro despertando em cores, sentidos. O caos do final de uma semana. Ninguém se espera aos sábados.

Wednesday, October 15, 2008

É.

De tempos em tempos, conseguimos sentir a terra girar. Sentir o movimento e quase um balanço de tudo. Se olharmos atentamente para o céu, esse movimento passa, talvez, nas nuvens. É só uma dúvida. Mas é nesse movimento de giro, nesse vaivém das coisas que, vez ou outra, caímos no mesmo lugar. Os céticos, passam a acreditar no mistério. Sem mistério, ele não existe. Os passionais se deparam com a dura realidade do racionalismo puro e essencial. Eu, eu me deparo com aquilo que me recuso a aceitar. É uma questão de crença. Tudo girou, parou, voltou a girar, e ontem, sem que nada pudesse ter efeito, eu voltei para o mesmo lugar. Ali, na minha frente veio alto, doce, engraçado, me dizer que é exatamente esse o tipo que eu preciso na minha vida. Nada mais de arrogâncias sexuais, pendantismos artísticos, máscaras de infância perdida, sentimentalismos baratos da vaidade e até mesmo antigos rumores de que o amor é ligar toda noite para alguém. Esse giro. Esse giro que faz com que haja movimento entre o que se viveu, com o presente de se estar no meio.
Não que ele pudesse ser meu. Ele não pode. Ao menos, ele tornou-se esse giro que me mostrou que ainda tem um "Q" de espera por vir. Mas nada mais dessa pintura torta, dessas músicas regradas ao doce sabor do fútil e até mesmo as vontades do ego espedaçado. Aqui, só a suavidade de acreditar, de me fazer sentir que de giro em giro, pé em pé, a gente sai do lugar.

Monday, October 13, 2008

Pela décima vez

Alguns fatos repetitivos. Na matemática o número de chances é quase um teorema de resolução impossível. Se fosse nessa mesma idéia, talvez fossem os tais números primos. Mas nem sempre se pode resolver equações. Os resultados não falam por si. Nem ao menos se sabe o que deu errado. Se foi a soma ou a subtração de idéias, equações mal formuladas, raiz quadrada de problemas insolúveis. Nada, nada pode definir melhor esse estado de mãos atadas como o resultado nulo. Talvez usar o infinito seja uma forma de se contentar com todos os pormenores do presente. Sim.
Um pedaço de carne rasgada. Uma vela acessa e tudo empilhado na estante. O conhecimento de anos e os longos percalços. Ali, parado na estrada deserta de pouca luz, o sonho que nunca foi resolvido. As pretenciosas escapadas pela culatra. Onde e hoje, as indas e vindas. Tudo se repetindo, como se a própria matemática estivesse numa espécie de curto-circuito.
Fatos repetitivos. Semanas e meses inteiros. As mesmice de sempre.

Sunday, October 12, 2008

Desejo e Reparação

É uma verdadeira desordem. As fontes de inspiração entre padrões de escrita e relativismos. E tudo parece feito de metal. Aqueles tamanhos fenomenais. Sim, grandes padrões. Depois de horas de um sono profundo, pesado e desorganizado. Nem mesmo é possível colocar em as palavras na ordem certa. Elas se perdem, voltam e pedem uma outra ordem. Se eu colocasse em lista os sonhos que tive. Talvez todos os desejos. O desejo de responder um e-mail grosseiro, apagar as ligações telefônicas de uma sexta-feira. Nem mesmo o passado conseguiu um lugar no caos. Ele ficou onde deveria ficar. Enquanto isso, algumas forças que me cabiam prestaram mais do que uma simples atenção. Arvores negras e chuva incessante. Esse texto é só para constar. Tem horas que a mente não aguenta e tudo passa pelo canal do relativo. Isso ou aquilo.

Friday, October 03, 2008

On the road

Nas incessantes buscas por um estado permanente de felicidade absoluta, as armas e os barões assinalados se foram.


Praias, desertos, pequenos pedaços de gleba, mudas de eucalipto e o terro arado. Naus furiosas, um antigo passado, daqueles remotos tempos de sermões escritos na areia da praia, dessa herança que vem tardia encontrar os destroços daquilo que um dia foi o sonho do paraíso. De toda nudez verdadeira, o castigo foi a castração definitiva. E tudo, todas as idéias inovadores, pelo assassinato do subjetivismo ou mesmo do relativismo moral a que estamos tão acostumados, nada restou.


Incêndios, ventos com a força de um mito, norte, sul, sem bússola ou tecnologia para se saber chegar. Uma incenssante busca pelo eterno, por aquilo que dá o sentimento de duradouro, fora de nós, no outro e naqueles que nos são semelhantes. E dessa busca, todos os resultados esquizofrênios e pelo menos uma vez na vida, tudo parece em completa desordem. Soltar pombas-brancas, libertar animais em extinsão, deixar tigres, leões, onças e até mesmo aquela ave-azul-raríssima, deixar tudo solto. Tudo é uma questão de entender essa nossa herança que nos veio corrompida pelos desejos dos nossos ancestrais. Aqueles que trouxeram nos baús pilhas de roupas sujas, algumas doenças venéreas, dentes podres, um ou dois livros e toda a esperança de um dia ser o sonho. E desse sonho, fizeram sua viagem.
Exatamente como fazemos hoje:


do sonho, esperamos ser aquilo que não somos. conduzidos mar afora, sabe lá deus por quem.
Mas conduzidos por um sonho, talvez, inexistente.