Saturday, October 18, 2008

Um dia a mais

Aos sábados, espera-se aquela estranha sensação de outrora. Alguns fatos acumulados no bolso. Estranho mesmo é sair quando a chuva manda que tudo fique parado no espaço de 48 horas. A leitura de livros de filosofia, os olhos ziguezagueando pelo quarto escuro. Lá fora, as nuvens aglomeradas em diferentes escalas de cinza e roxo. E como se estivéssemos escorrendo, gotas de folhas e as árvores reverenciando um dia a mais em nossa existência andarilha.
Caminhar com passos vagarosos estalando pequenos surtos de ansiedade. Assim, se pode ver os faróis ficando verde. Nas faixas brancas, todo mundo atravessando e segurando a aba do casaco. Ninguém mais usa chapéu. O trabalho com carinho excessivo e a destruição daqueles olhares tão íntimos. Aos sábados, o gosto daquilo que não foi feito na semana. Contas atrasadas, televisores desligados e livros empilhados. Mais uma noite de sono perdida. O retrato familiar em cima da mesa querendo despertar sentimentos enterrados nas salas de terapia intensiva. O gosto amargo e esfumaçado do cigarro, na língua e na garganta. Nem mesmo se pode notar que havia ali na avenida um novo conjunto comercial; os dedos roídos. Ninguém procura mais tatu-bola ou lesmas nos jardins criados como canteiros de avenidas. No ponto de ônibus, se aglomeram diferentes guarda-chuvas. Capas transpartente e amarelas para cobrir o corpo e fugir das poças.
Aos sábados, o gosto antigo de esquecer que o mundo existe dentro do mundo. Ser apenas uma fração daquilo que um dia se esperou ser. Talvez, criar uma poesia sobre hábitos do cotidiano. Nem isso mesmo. Às vezes, o sono é o melhor dos remédios.


Aos sábados, uma fina chuva, um gosto pelo presente e as sensações do futuro despertando em cores, sentidos. O caos do final de uma semana. Ninguém se espera aos sábados.

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