Tuesday, November 04, 2008

Antigos

Não existiu nem a poeira, nem mesmo o som veloz da partida. As vozes se intercalando no escuro, recitando pequenas frases amorosas e o silêncio completo. Era o começo de tudo. Uma espécie de sagração. Início do efeito. Ali, tudo se desmancha rapidamente. Laços açucarados e uma vontade maior dizendo que no rastro, nem mesmo a poeira ficou para dar sentido ao discurso matemático.
Leves caminhadas. Leves toques no rosto. As noites cansadas de velas e dores oculares. Nem rastro nem poeira. A subida leve e inquietanta da fumaça. Da sala, um cheiro estranho misturando-se aos ramos de eucalipto presos no prego da parede. Os quadros tortos, todos réplicas de pintores renascentistas, já não mais serviam como um adorno à decoração; estavam lá prestando homenagem aos antigos que passaram pelos corredores e que ali apontaram o dedo. O quarto desarrumado e o banheiro com goteiras no teto.
A mesa da sala, talhada em madeira maciça, estava coberta por uma leve textura branca de poeira. Era um vazio. Todos os momentos em que o estado de espírito havia sido maior que o próprio caminho. Morar, era senão uma condição do momento.
Nos vasos, as flores artificiais também estavam com cara de mortas. As antigas toalhas e os vidros embaçados. Apenas a sensação de que um dia, tudo foi habitado. Seres e histórias. E como um sopro forte e quente, foram-se todos. Retratos, manias, surtos e doenças, deixando para trás o rastro.

Uma pequena nuvem de poeira.

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