"Não se afobe não que nada é pra já", disse o Chico, sábio, sambista e semi-carioca. Também outras analogias e metáforas estranhas surgiram. Falar de sentimento é sempre trabalhoso. Tentam e repetem. Falar de Voltaire, de Rousseau e outros. Tentativas frustradas de falar do mal na sociedade e da fragmentação de todos. Corrompidos, incapazes, desatentos e, claro, covardes. Aquela covardia que nasce pela falta de entender dois mundos. Sim, o medo pelo bom, o medo pelo correto e, digamos, pelo mais forte. Quando se entende de corações, mesmos os partidos, entendemos um pouco do Chico, do Voltaire, do Rousseau e até do Platão. Mas é sabedoria de butequim. Que dirá, daqueles que realmente entendem o próprio sentimento? Certamente, será uma filosofia embriagada, dita em táxis ou para estranhos vagando na madrugada.
Mas entendamos: falar desse assunto, seria, deveras perigoso. É quase como andar em terreno minado ou naqueles pântanos habitados por répteis. Deve-se entender muito de pouco, e pouco de tudo. Porque nem sempre o corajoso é o que fala. Ele pode ser somente a antítese; um fraco que se vê heróico. E mesmo esses fracos merecem mais palmas que o covarde. Aprendemos que coragem não é um sentimento, mas uma ação. Como em todos os casos, a cada atitude, cada pedacinho que se faz com aquela força, já é um bom começo. Eu, por exemplo, me transformo, mesmo que em medidas minúsculas, a cada avanço, a cada quebra de medos e em todas as vezes que mudo um pouco de mim. É diferente ser maior. Talvez, diriam, mais homem do que antes. É instinto de sobrevivência. Mas aí viria o Rousseau para dizer outras verdades. Essa tal corrupção nefasta, mas involuntária. E se já nascemos corrompidos, por que não corremper aquilo que o exterior não conseguiu? Sim, corremper, destruir, roer certos fragmentos da covardia, do insulto moral que foi imposto. Talvez seja essa a espécie de liberdade que tanto procuramos: ser nada, ser corrompido e ser nada, sendo tudo o que se pode ser ao mesmo tempo. Sim, talvez seja essa a chave. Não ser nada e ser tudo. Um algo deleuziano, eu diria. Um produto de filosofia, sem política ou religião. Nada de riponga ou pé-sujo. Ser por si só, e isso bastar.
Alguns diriam que seria uma pura loucura. Outros, apostariam num anarquismo psicológico. Eu digo que não é nem isso e nem aquilo. Ao Rousseau, Platão, Chico e a corja toda, eu diria que seria a revanche.
A revanche de nós, contra nós mesmos.
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