Nem sempre é uma possibilidade. Estar sempre diante de alvos, porque somos alvos. Uma flecha, um tiro, um resquício de pólvora. Mas na imagem do espelho, algo se perde. Algo se modifica e uma transfiguração emerge. Seria eu mesmo aquilo tudo? Seria eu uma manifestação quase assustadora; uma miragem, talvez? Quantas pessoas podem caber dentro de uma só? Eu poderia ser apenas uma fotografia estranha, tratada em programas de computador, ou seria só um negativo do antigo filme das máquinas analógicas. Não sei bem. Pensar em si e na imagem de nós mesmos. É como o livro de Pirandello. Aquele que somos para nós mesmos, não é o mesmo que somos para os outros. É um outro além. E ainda perguntam: mas esse sou eu na foto? Estranhamente, os fatos são outros. E quem tem forças para erguer mais um tijolo?
Eu penso em mim. Todos os escritos que me fizeram. É como olhar por uma lente. Um retrato outro. Procuro me achar, acho, distorço, penso em realidades e de como a vida se desfaz com palavras duras. Mas é maré mesmo. Sentir-se boiando, sem porto, sem cais, sem peixes na rede. Aqui, só a assombração do esquecimento. E nem seria tudo assim simples, se realmente não tivesse sido a simplicidade o motivo de tamanha desordem. Eu penso em mim e nos outros. Os olhos alheios. São eles que me interessam quando quero uma imagem fulgás. Por que eu mesmo, e sempre fui, machuco sem querer machucar. Pode até ser uma característica avessa. Ou até mesmo uma vontade de distorcer as imagens que foram se refletindo aos poucos.
Aí, vem a sensação de inacabado. Tudo na desordem, na imperfeita perfeição de quadros renascentistas. Uma escultura rachada. É como uma obra de arte sem porquê. Sem isso ou aquilo, peças fora do lugar e essa minha fotografia: eu, de chifres, a pele um pouco avermelhada, olhos fumegantes e um macabro apetrecho. Ninguém mais brincando de ser feliz, nem pintando nariz. O real da imagem. Pelos olhos, pela boca ou mãos.
Ninguém nunca soube, mas todo carnaval tem o seu fim.
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