E nem sempre se vai assim, caminhando pelas paredes, arranhando e sangrando a ponta dos dedos. Essa idéia vaga de poder flutuar, dançar e escorrer cada centímetro do corpo, como se tudo pudesse ser feito tinta e pincel. É como estar sob efeito de alguma droga constante. Perde-se os sentidos, as roupas ficam diferentes e os sonhos tornam-se repetitivos. Na porta há sempre aquele aviso de entre. E nem sempre se vai assim. Pensando em tudo, revisitando cada lugar, cada olhar, toque e cada desejo que fez a boca salivar. Noites ou dias, o gole seco do pensamento impuro e mal dito. Nas paredes, as mãos presas em desejo masoquistas .Tapas na cara. Arranhões no peito. Mãos algemadas. Chupões no pescoço e nos braços. Tudo com uma leve dor de ontem. Uma leve dor do querer. Uma leve dor de sentir pulsar. A cada respiro, cada som dos meus ouvidos, cada sabor da minha boca, rejeito. Me transformo em algo assim, somente com um sonho por dentro, me fazendo viver, pisar forte e admirar formas infantis em nuvens de chuva. Nem sempre eu vou assim. Eu caminho entre os dias, corro na voz pesada e páro na porta. Mas é caminho de paredes. De lindas loucuras. Viver entre o existir antes e depois do desejo. Viver para ter a chance, para ter o gosto, o gozo, prazer de inundar meus olhos numa cor amarelada de mel. E meu sangue, meu doce sangue, jorra para viver de luz, para ser cor de sentimento. Mas nem sempre se vai assim. Hoje, caminhando.
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