Eu vivo um silêncio. Como uma bolha, fechado, calado e silenciando as partes de um exterior ambíguo. É como uma lenda, um mito de verdade ora cruéis, ora desejáveis. E tudo movido pelo desejo, pela encarnação daquilo que almejo. Essa é a verdadeira luxúria: querer aquilo que não se tem. Eu vivo pelos impulsos fortes e latejantes do meu coração. Disparo e volta e meia acabo no mesmo lugar. Um silêncio profundo. Eu, de olho. Soslaio.
Eu crio esse silêncio. Abaixo o volume e deixo no meu mundo aquela voz rouca e forte. Ali, crescendo e germinando tudo o que se é possível germinar com um timbre de voz. Estremecendo as paredes do ouvido. Eu sou movido pela voz. Sim, tudo é encenação. Minha boca, meus lábios, meu corpo encostado em não-sei-quem. É tudo circo e pó. Ali, eu estarei sendo ainda um menino com idéias de adulto ainda em formação.
Eu vivo esse silêncio. Eu dou a ele uma voz que não a minha. Um silêncio de estar sendo. Ter sido. Sendo eu, prestes a desabar. Eu, criando bolhas de sabão e vendo-as estourar uma a uma. E tudo crescendo diariamente na cor do mel, no pincel - traço a traço. Nas noites de paredes e nesses sonhos tão acalentados pelo travesseiro. Uma viagem e ali estou sem malas. Eu vou com esse silêncio segurando nas mãos. Guiando pela multidão desconhecida que, sem saber, abre o caminho.
Esse silêncio em que existo. Em que crio. Invento. Vivo.
No comments:
Post a Comment