Tuesday, July 15, 2008

370

Os meus inimigos todos à postos. Armas, dentes cerrados e olhares alegres. Todos. Em frente, rumo à trincheira. Todos os meus inimigos repetidamente ansiosos pelo momento da grande descida. Seria somente isso. A bomba no ar, tentanto queimar nuvens, jogar estilhaços pelos ares. Como pode carregar tanta munição nas costas? Furtivamente, fui roubando olhares. De amizades instauradas.

A fome do mundo, aos poucos, queimando a parede do estômago, enquanto sou alvejado centenas de vezes pela mesma arma. Aquele estouro; um barulho violento, como se eu mesmo fosse um balão desses de gás explodindo categorias e rispidez. E o problema maior nem eram as cicatrizes, ainda abertas, mas o sentido que as ruas haviam tomado. A casa velha com o grifo no lugar da torneira, as roupas empilhadas e toda aquela poeira se acumulando na parte de cima dos livros. Ah, mas eles estavam todos lá para ver o dia em que a pedra atravessaria a janela. Peças de quebra-cabeça espalhadas pelo chão. Tranquilo eu tomei dois comprimidos. Tinha ainda nos pulsos a marca do descontentamento com o mundo. Era chegada a hora. Uma fúria avassaladora. Contra o mundo. Contra tudo e todos, menores, pedintes, religiosos e filósofos. Eles mesmos poderiam ainda renunciar a minha vontade. Ansioso, eu tomei dois goles e levantei. Acendi um cigarro e deitei; tentei dormir e eles, meus inimigos todos, na cama comigo.

Me servindo de companhia.

1 comment:

Maria Carolina said...

Perfeito. Como você! Beijos da sua amiga mais puxa saco.