Saturday, July 05, 2008

Marlboro

Deve ser sentimento da abstinência.

A ruína de toda paciência, do virtuosismo pacifico, da realidade tal como ela é. E nem sei ao certo se crueldade vem de cru; o cru daquilo que esta por fora. Chega daquela comoção bestial.

Deve ser sentimento do confinamento.

Quando pelas histórias carinhosas, torcemos pela bruxa, pela maldade do meio para o final. Chega a ser dolorido, deveras dolorido, a profanação das tais histórias de amor. Nascemos assim, da mesma forma que morrermos, aprendemos. Hoje, escrotos, amanhã lovers. Tem tanta coisa na agonia, no êxtase, na anti-realidade que tanto nos atrai como um vórtice, como o centro de tudo. Larga-se o inalador, o cigarro e os remédios cuidadosamente colocados ao lado da cama. Volta a estaca zero. Manda tudo à merda. Que o inferno desça em grandes escalas, como lava, como fogo liquido e nos queime. Como disse, a decepção. Somos feitos de decepção e mágoa. A bruxa venceu afinal. As princesas estão ainda em busca de muito. Eu acordei, levantei, e parei de acreditar que serei de príncipe, sendo bruxa, sendo madrasta, jamais serei de príncipe ou príncipe.

Mas isso tudo porque a realidade é outra. Menos colorida, menos leve, mais densa e árdua. Para tudo, são muitos pesos e poucas medidas. É tudo rígido e regulamentado aqui. Deve ser assim. É instinto de sobrevivência de quem já caçou, já foi caca, abatido, sangrado e posto de volta ao jogo. É instinto. Perdoe-me se pareço cético ou cínico. Nenhuma esperança é morta do dia para a noite. É preciso muita paulada, muita astúcia e argumento.

Deve ser sentimento de abstinência.

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