Eu poderia jurar. Jurar que no próximo ano, mudarei, esquecerei ou farei tudo aquilo que nesse ano não consegui. E todo final de ano, as coisas se repetem. Antigos desejos, anseios ou mesmo amores. Tudo se repete compravando que, sim, a história é cíclica.
O tempo passou, e algumas coisas mudaram. Naturalmente, nada foi uma escolha. Por simples que pareça, as coisas mudaram. Dentro e fora, deixei de lado muito do peso. Deixei que uma certa leveza tomasse conta de tudo. Mas eu ainda poderia jurar que eu jamais me divertirei como me diverti esse ano. Posso jurar que eu não vou mais fumar, beber, beijar estranhos. Poderia jurar que vou esquecer isso tudo, fazer as malas e partir para longe dos problemas. É só uma questão de simplificar. Tudo aquilo que eu amo, tudo o que desejo. A realização, essa realização que todos esperam da vida, nada mais é do que trazer para o amanhecer os sonhos da noite. Esse sonho, há tempos guardados. Posso prometer, jurar que esse ano eu vou realizar todos esses sonhos. Jurar que eu não vou deixar de amar, nem esse ano, nem nos próximos cem anos ou mais.
Mas o que é esse término de ano, senão um término de ano? Algo que passou. A soma de tudo o que foi. Mas será isso uma soma? Talvez, por mais que eu não goste, a Clarice esteja certa ao dizer que viver ultrapassa todo o entendimento. Existe a possibilidade. Mais do que matemática, a importância disso tudo é que seja no próximo ano ou amanhã, ou daqui cinco minutos, eu não deixarei que tudo o que eu sonho se desfaça com o abrir de olhos. São três os desejos. São três.
Eu poderia jurar que jamais vou me esquecer desse texto. Mas isso seria irreal. Por enquanto, só posso jurar que não vou me esquecer disso:
Friday, December 18, 2009
Feliz ano velho
Sunday, November 29, 2009
Ego
Talvez seja egoísmo meu ou simplesmente um desejo, maior e incontrolável, esse de querer tudo para mim.
Monday, November 23, 2009
...
Sunday, November 01, 2009
Apenas.
Já houve momentos em que contar a idade era quase um levantamento matemático. Hoje, é ato de coragem. Ser aquilo que o tempo formou. Ser a soma da experiência com o tempo. Mesmo as subtrações específicas, aquelas que apagamos no poder da memória, são contabilizadas no balanço geral. Se pudéssemos, o tempo não passaria jamais daqueles instantes de felicidade. Mas é fato que nada dura para sempre. Sejam os sorrisos, os desejos, as promessas ou mesmo aqueles doces discursos do viver para sempre. Os planso nem sempre possíveis. Existir é o cálculo. Existir são todas as somas. Indo sempre para a direção do maior e do melhor. Adoramos o tempo. Ele quem traz as marcas no corpo, tatuagens naturais para lembrarmos o quanto se é possível sobreviver ao mundo. Dores, despedidas, partidas, família, beijos, paixões, amores. O resultado vai ficando nos cantos escondidos de cada um. Nosso tempo particular para processar o que é que a vida nos ofereceu ao longo do andar. E pode parecer pouco mesmo, mas como na matemática, quanto menor o número do resultado, maior foi a soma. Eu penso nisso.
Nos anos que atravessei e não vi. Nos momentos em que tudo parecia uma grande mentira. Nas duras palavras que ouvi. Nas manias que adquiri para sobreviver. Nos amores que eu tive. Nos beijos estranhos. No sexo sem fundamento. Nos momentos felizes. No vício. Nas noites e nos dias. Nos erros que cometi e não sabia. Eu penso em como aquilo que eu mais queria eu não podia ter. Todos os tapas na cara, todas as puxadas de orelha e todos aqueles que se foram ou que eu deixei partir. Adoramos esse tempo.
O tempo que parece apagar tudo. O tempo que conserta erros, ajusta o presente e dá continuidade para o futuro. E mesmo não gostando, é uma data para se entender os pesados anos que se passaram. De batalhas, lutas, mortes e decepções. Nunca o tempo se encostou. Parece realmente pouco. Ou por muito tempo achei que era pouco. Mas é fato, quando ela diz que nada disso foi pouco. Mas para toda história, como apontou Aristóteles, existe o ponto de quebra. Aquilo que separa a dor da vitória. O herói diante do seu confronto. Sem imitações, essa é a vida que construi com o tempo. tijolo por tijolo. E até mesmo ele, narciso, adora a si próprio. O tempo.
Adoramos esse tempo. A soma. A felicidade e a dor andando juntas, cada uma de um lado da via. Adoramos como tudo parece uma agulha e linha: a grande malha de retalhos. É esse o tempo. Tudo recomeça, termina, inicia.
Adoramos o tempo. Apenas 28 anos.
Tuesday, October 20, 2009
um dia.
E quando perguntarem, ninguém saberá a resposta. Se tudo não passou de um velho truque de magia ou se aquilo era a realidade. Do tempo, da resposta, dos momentos e da velha interrgoção:
Tuesday, October 06, 2009
nu e cru
Pensei nos medos que vim sentindo. Nos caminhos errados. Nas vozes que ouço e não reconheço. No tempo. No tempo como sucessor da imortalidade. Pensei na matéria e na filosofia. Nas gotas que caem do céu. Pensei o quanto tudo é vagaroso. Os dias quentes, os dias frios, os dias bons e os ruins. Essa história toda de contar contos infinitos do amor e do ódio. Essa transformação do corpo. Eu andei pensando em tudo. Na grande soma de todos os medos e nos lapsos de felicidade que acompanham os sorrisos esporádicos. É só uma maneira de expor a vida.
Eu andei pensando nela e na falta que ela faz. Eu nem percebo.São os momentos inesperados, ou partes de momentos em que ela estaria perto. Nos carinhos que ela costumava me dar, mesmo quando eu não pedi. No jeito de cozinhar aos domingos. O tempo, curto, em que ela foi feliz, sorrindo nos shows, indo ao cinema, lendo um livro que eu havia deixado jogado em cima da cama. Andei pensando o quanto eu sou parte dela. Isso eu nunca vou conseguir me livrar. As madrugadas em que eu acordava e a via na sala fumando um cigarro. Andei pensando em como tudo foi rápido demais e eu não percebi. Lembrei daquela tarde e da semana anterior. Eu estava tão distante. Lembrei o quanto, hoje, eu queria poder contar e deitar no colo dela.
Os pensamento, todos eles, acompanhados de dias bons e dias ruins. Esse mover de coisas que eu faço só para não me distrair. Os segundos contados, as horas intermináveis. As vezes, os dias parecem não acabar. Será que faz tanto tempo assim? E me entristece quando eu tento lembrar, e não consigo mais saber como era o rosto dela. As recordações, como me disseram, viraram a saudade. Será isso viver em tempos mortos? Essa busca constante para preencher um espaço, um vácuo tão grande que nem mesmo eu consigo calcular.
Tudo isso junto. Assumindo a saudade. A conclusão de que no fundo, ninguém é forte o suficiente. Eu mesmo que me imaginei um dia corajoso. Não há força para se controlar uma saudade. Não há força para os dias ruins.
Nesses dias, só mesmo ela, só ela, conseguiria me fazer sorrir.
Wednesday, September 23, 2009
You live, you learn
Eu tive os braços feitos para segurar o seu corpo. Tive as mãos nos seus cabelos. Tive as pernas e os pés encostados no seu caminhar. Tive os olhos dentro do seu mundo, a boca beijando a sua, o nariz no seu cheiro e o ouvido para sua voz. Tive a ponta dos dedos presas em suas mãos. As unhas arranhando suas costas e as digitais provando que eu era seu. Tive as costas para carregar o mundo, o nosso mundo. Mantive meu coração para contar as horas em que não estive ao seu lado. Experimentei as dores do estômago.
Eu tive os braços para voar sempre que preciso dentro e fora de você. Eu mantive meu coração, ardendo, calado. Eu mantive tudo.
Inclusive, você, em tudo que sou.
Monday, September 21, 2009
Setembro.
Como se mede um caminho quando não conseguimos ver o fim? As pessoas ao redor, os carros passando apressados, os faróis verdes, vermelhos, pontos, pessoas, casacos, calçadas e fachadas. E mesmo as coincidências parecem ter se perdido nas entrelinhas de tantos pensamentos entorpecidos. Vozes e cores, música para deitar.
Depois disso, acho que nunca nada será igual.
Ainda assim, setembro nunca demorou tanto para passar.
Sunday, August 30, 2009
Frias almas
Na antiguidade, diziam, ser o fígado o resposável pela nossa natureza; No romantismo, nos voltamos ao coração e sua engenhosidade como símbolo de vida e pulsão. E não seria de se estranhar que no mundo contemporâneo o cérebro fosse o órgão a ditar as regras da nossa vida. Mas a dissociação dele com a nossa alma, com o nosso espírito ainda reside no plano das suposições. Como se render ao fato de que somos compostos pela ciência e pela imaterialidade? Esse cérebro que nos é tão estranho e ao mesmo tempo tão intrínsico ao nosso viver, nos faz questionar a grande interrogação de "quem somos e do que somos feitos?". Essa nossa "alma" comandando tudo o que somos. Feitos de consciência, consciência tardia e não muito evoluída. Essa consciência egoísta que nos traí, nos deixa à deriva, presos na beira do penhasco.
Seria essa a redenção para todas as questões? Quer dizer, ser a alma a guardadora de todos os nossos segredos, de todas as indagações. Quem somos, o que sou, por que faço e para onde vou. Se existe essa linha tênue entre o nosso cérebro-comandante e a nossa alma mais romântica, seria a consciência uma simples mediadora entre esses dois mundos? Mundos negados, mundos religiosos, científicos e tão irreais?
Seria a redenção a melhor forma de se terminar um texto? Viver a vida dos outros, ao invés da nossa, é render-se ao mais perfeito altruísmo humano? Para onde se vão os olhos nessa redenção?
Para onde se foram os meus?
Monday, August 10, 2009
Agosto
Isso eu nunca vou saber. Se tem explicação, se é só o jeito que as coisas são. Dele que herdei as mãos e o queixo dividido.
Mas procurei muito dele em todos os lugares. Procurei em mim. Procurei em braços estranhos. E ficou só isso. O espaço vazio que ele deixou e minha adoração por mãos. Talvez um dia eu saiba o que é ser, mesmo não tendo recebido.
Isso eu nunca vou saber.
Dele, nunca saberei o porquê de tanto desamor, tanta resistência e tanta amargura. Dele eu nunca vou ouvir. E ainda assim, desejei ontem, no escuro do meu inconsciente um feliz dia dos pais.
Friday, August 07, 2009
Michel Foucault
É tudo uma questão de castigo. Outro dia, li no jornal o presidente pouco se lixando para o que está acontecendo em seu governo. Virei a página e veio outra notícia falando sobre um casal de homens que foram espancados na porta de casa. No outro caderno, saltou-me aos olhos a notícia de que a bancada do PMDB tentará arquivar hoje os sete processos que restam contra Sarney no conselho. No mesmo caderno, um depoimento chocante a respeito das novas descobertas do colesterol. E a carta de uma mãe enviada à colunista especialista em comportamento e sexo, dizendo que manteve relações sexuais com o filho e que agora estava grávida. É, e aqui perto do trabalho uma manifestação a favor do fretado e professores da rede estadual reinvidicando por melhores condições depois que o colega foi morto dentro da sala de aula.
É, realmente, é uma questão de saúde pública. A idealização da classe média, por fim, chegou ao seu ápice. Vamos proibir o fumo em qualquer situação. Os direitos iguais castrados. Sinto que sofri um estupro mental. Lotes para se fumar fora. Lotes de 6 a 5 pessoas fumando na rua, vigiados pelo segurança carrancudo. Se pago imposto, se contribuo como qualquer um, pouco importa. A bola da vez é a classe média. A ascensão do novo burguês, que agora está protegido de nós, os fumantes insensatos e assassinos. A classe média está a salvo. Sentados à mesa do restaurante, a família ri e brinda feliz - com fumaça de cigarro à parte, por favor. O falso moralista ergue sua bandeira e finca o estatuto dos bons costumes. Nova lei, nova regra. As placas insinuando a punição. Lá mesmo, bem longe disso tudo, está a depravação da miséria. Mortos de fome, desmatamento e políticas ainda do engenho. Quem liga? Hoje vindo para o trabalho, um funcionário da CET, parado na avenida Santo Amaro, tapava o rosto depois de ser bombardeado pela fuligem dos carros. É uma questão de saúde pública. Avante moralistas. Brindemos à queda da democracia. A enfermidade que se enraizou dentro de todos nós. Agora, já acumulo a falta de direitos. Não tenho mais o direito de fumar, nem em áreas reservadas, e não tenho o direito de unir-me legalmente a pessoas que eu amo. É uma questão de saúde pública.
E se eu te pegar fumando mais uma vez, eu denuncio você.
Monday, August 03, 2009
Depois.
Todos os dias, chuvas de sol, manias de escrever escondido do tempo. Aquele florescer natural de arrepio. As vozes intercaladas, dizendo razões para o futuro, promessas mascaradas e outras formas de sentimento. Queria poder dizer "hoje está chovendo". Hoje o dia amanheceu quieto, sossegado e nem mesmo um pio se pode ouvir. As rodas dos carros passando nas poças d´agua. O barulho da chuva caindo nas folhas do jardim. A cama vazia, estirada, perturbada pela saudade salutar. A ausência do corpo e daquele calor rotineiro que nos acostumamos.
Todos esses dias. Dias de partida. Dias de saudade. Saudades do gosto da boca, ainda relembrado por cafés e sobremesas delicadas, pelo gentil calor misturado aos novos ares. O sabor da pele. Um cheiro diferente. Novos retratos, novelas, músicas e livros. Todos os dias aquele gosto a caminhar pelo canto da boca, querendo adivinhar se é saudade ou manifestação da mente. Em noites quentes, o delicioso barulho dos restaurantes, da cerveja e do vinho. Delicioso afagar de cabelos, barba mal feita e roupas de viagem. Tão presente, perto e distante. As vozes se intercalando, ruídos e a saudade que não se vai.
Escondidos no tempo, ficam os dias de sol.
Monday, July 27, 2009
Enquanto isso...
Me jogo aos leões como um astro romano. Em vão, acabo me perdendo no acaso e nos desencontros do sábado a noite. Eu, um cigarro e o calor. Vou indo, correndo para o primeiro sorriso encantador. não tanto leviano, descubro sinceridades esporádicas. E assim vai funcionando. Desato o nó, reaqueço os tambores e volto a tocar uma música familiar. Notas elevadas, tons graves e agudos. Tudo misturado ao som daquele nome. É exagero. Sei bem quando entro em estado de fuga. Corro pra lá e pra cá até parar. Mas é sincero: minha cabeça encostada de abandono. É sincero. O número do meu telefone e o jeito que falo. Perfumes desconhecidos e palavras novelísticas. Um certo ar de timidez que não engana ninguém. Texto sincero. Sem subjetivismos. Fato: o velho ditado começa a ser mastigado. Se der samba...
Mas eu corro. Eu corro bem longe dos largos abismos do seu coração estranho. Para você eu serei imortal. Até os beijos que me fizeram esquecer toda a história mal contada. Até o carinho que me levou ao estado mais sincero. Meu corpo, dois tragos e um gole. Me recolho ao desdém e sou assim. Fazendo cara feia e contorcendo o nariz.
Thursday, July 23, 2009
Inverno.
A primeira vez que olhamos para o mar. Aquele breve momento em que enxergamos uma distância sem calcular o seu término. Grandes espaços de paisagens infinitas. Talvez seja isso.
A sensação de que o mundo não é uma coisa só. Esses aglomerados de imagens, sobrepostas umas às outras como livros em uma estante. Um futuro que não conseguimos imaginar. Talvez seja isso.
A versão mais curta dos fatos: esse é o destino dos fracos ansiosos. A versão curta e editada do que pode acontecer. Ninguém entende de amor. Ninguém entende da morte ou mesmo do começo de tudo. Tantas desilusões e pouca lição. Os deveres de casa a começar pelo exercício de matemática. E nada fez sentido. Talvez seja o inverno onde tudo fica reservado dentro do corpo, percorrendo lugares inusitados, passeando pelos poucos momentos de calor, a mão caída no corpo, o copo de vinho e a risada mais sincera do mundo. O frio, o frio que reserva surpresas quentes, olhares distantes, olhos entre-cortados pelo vento e a boca rachada. Um certo gosto de quero mais por todos os minutos de um dia. Daí, entram as horas, sempre vagarosas como se para elas o tempo não existisse no relógio, mas fosse um outro tempo, talvez mais demorado do que o restante do dia. Pode ser a loucura. O frio tem dessas coisas. A busca constante pelo aquecer, o pouco que se pode ter com os casacos e as aconchegantes blusas de lã grossa. Talvez seja isso. Um sensação infantil, rápida como a primeira palavra do dia e a última palavra de uma despedida. As vontades, como o frio, procuram momentos, eternos momentos e aguardam ansiosamente o dia da despedida. Mas esse dia parece nunca chegar. O dia do adeus, do até logo e do simples tchau-até-amanhã. Pode ser o frio. O inverno que faz o corpo se recolher, deixando a pele mais sensível, o lábio rachado e as mãos escondidas no bolso. Talvez seja o frio. O inverno deixando tudo uniforme ou a mistura de todas as cores, de tudo que se passou e remontando um novo começo. Máscaras e mais máscaras, toscos jogadores, versos incompletos, matéria do amor. Nunca é possível terminar um texto. Antes de tudo, o adeus à palavra. Talvez seja isso.
Talvez, não.
Tuesday, July 14, 2009
Do mundo, nada se leva.
Me recordo de um filme antigo: Do mundo nada se leva. Assisti ainda criança, sem entender muito, mas apreciando o preto e branco, Uma espécie de comédia que precisava do auxílio perspicaz de minha mãe explicando piadas e entrelinhas. "Repare nessa cena". "Você prestou atenção no que ele falou?". As memórias frágeis da infância que trazem consigo os tempos mortos e tudo aquilo que jamais voltará. A suposta inocência que perdi, as brincadeiras e aquele pouco que bastava por dias e dias. A sensação de que o tempo não existia, como se os instantes vividos dia-a-dia fossem apenas bolhas de sabão: subiam nos ares, duravam pouco e estouravam deixando cair uma seqüência de pingos coloridos. Aquilo, aquilo era pura magia. E só alguns anos mais tarde pude entender que, de fato, do mundo nada se leva. Sejam as memórias, os ensinamentos, brincadeiras. Do mundo, nada se leva. Meu eterno reencontro com fantasmas estranhos, vultos sem face, sem as drogas, sem o vício tosco e sem as necessidades frugais de hoje. Presente, passado, todos os tempos misturados sem nenhuma conexão.
Me recordo de ditos populares. Memória impertinente do espírito. Sombras do passado, delícias de se relembrar os filmes antigos, os livros velhos da estante e as brincadeiras delicadas. Naquele época, tudo bastava. O pouco que se tinha, o muito que se podia ter. Naquela época, ser criança era a ilusão do mundo. Ser criança era se negar para o mundo, era ser pelo pouco. E isso bastava.
Monday, July 13, 2009
Fontes, cores e formas juntas na formação de um grande exército dominador.
A vida.
Outros, sonhos e iludidos pelo olhar banal
Céu, cortes e calor invernal
Sem dores no peito, rimas certas - sonetos cancionados
Aqui vai outro jazigo para memória
O maquinário das armas disparadas
Estouros
Estrondos
Estopim e toda a margem posta frente ao matadouro.
Um poema - uma arte. Todas as sensações entre estações e estados.
Um poema é um trabalho - forma de vida e experiência do imortal.
Toda palavra é uma máquina. Forte, viva e pesada.
Era somente uma prosa desconexa da palavra. Assim como todos os cantos do mundo, todos os cantos d´alma, do voz alta erguida pela garganta faminta. Tudo aquilo que se move rapidamente partindo ao meio verdades categóricas. Adeus ao pragmatismo. O romance tem hora para começar. Romance dos cabelos negros e despenteados. A cruz daquele que anda, descalço à procura de razões subjetivas. Deus e o diabo na terra do sol. Cinema de raiz, cinema de Fellini, cinema de Cortázar. Toda a herança cultural. Simples conversa de butequim entre amigos e afetos. Trocas de mensagens instântaneas-virtuais.
O maquinário das armas dispostas, pronto a entrar em ação. Batidas musicais, danças rituais e o coração, prestes a virar bomba atômica.
Monday, June 29, 2009
Por ai, vai.
Por ai vai.
Wednesday, June 10, 2009
A Marca na Parede.
Abdico a Deus, à carne viva que me deste, à vida enquanto projeto de carência, ao coração satânico que borbulha suas imagens e, por fim, abdico a mim por ser que sou e por tentar erroneamente escrever-lhe esta carta. Em tempos que pulo no salto de uma imaginação esperta, vejo-o num futuro permissivo à minha memória que não conhece o tempo da vida. Se os relógios...Enfim, o que é abdicar a tudo que se valha por desnecessário entre eu e você? Mas choro pela escolha de não saber reparar os danos tão frágeis que cometi num surto da vontade de uma vida à espreita de outra que se pudesse valer ou coloca-la em xeque. Por isso, abdico à minha vontade de saber se teremos um futuro de paixões violentas, e a você que sei, me daria tudo isso. Não são somente suas palavras, ou seus olhos infantis que bailam ao som de nossa conversa. Apenas ao tétrico momento de instantes, como diria agora, eu trago-lhe minha posição: abdico-te.
Esqueço-me da carta acreditando criar uma ficção que me faça, e faça a você, uma estória futura trazida ao presente de meu devaneio. E são somente as palavras que me acompanham no instante em que vejo seus olhos colados ao meu na sinceridade que somente eles sabem revirar na procura de algo ou de alguma coisa. E essa imagem, tão familiar, atravessa meu corpo sem que eu perceba. Meus olhos ouvem tuas palavras e meus ouvidos ressoam sua imagem na atmosfera noturna de uma noite friorenta. E vejo todos....
Abdico.
Meu pecado maior é ter entre meu corpo você em água salgada e seus beijos que somente imagino em sonhos transpirantes. E como será ter um pecado entregue ao Diabo, à luxúria de todos os prazeres de um corpo ardente, quase febril, que espera, espera, espera por todos os galopes que este cavalo me dá? São as interrogações ligando-me à loucura. É você que me assombra com desejos perversos que fazem as mãos percorrerem meu corpo em busca de prazer. E quando vejo, já não é mais essa a carta e nem a você que desejo remeter; é algo outro, como se escrevesse a mim palavra tão tola. Amanhã enviarei ao correio somente a frase “abdico-me a você” e, assim, jamais saberei a quem remeti, pois você está em um sonho do futuro-presente-passado, próximo a tudo que conheço por imaginar. E se mesmo imaginando te sinto, será o presente o ladrão dos meus sonhos. Lembra-se da noite em que me recitou sua vida? Pois foi nela que banhei-me e não com o luar nem com as notas musicais...ô luar...
O que você diria de meus pecados? Amar-te? Serei sempre eternamente um galope de meu demoníaco cavalo, correndo pelo seu corpo, imaginando-te a pele branca recostada em meu coração tão branco eu...Imagino essas reticências em nosso tempo, um no outro e a febre de meu cavalo já louvado. E como diria, enterre-o, mate-o e coma esse animal, essa corrente do fogo azul, anil, e todas as cores. E o que diria de meus pecados? Cavalarias, infâncias, e o crepúsculo escurecido de todas as minha vozes, essas que não digo, silenciadas, sem moral alguma! Permite que adentre ao mundo de caos e entrego-lhe minha rosa vermelha em esperanças de outro tempo: àquele que me faz sonhar e deixar cair por sobre seu corpo quente minhas frias lágrimas. Espero no fio da noite apenas uma corda daquele seu instrumento tão poderoso que é a sua voz feita de seda. E em mil panos me retalho para ver-te partir nas sombras do meu desejado futuro. Deixei cair algumas das pétalas que me deste com tua boca e pelo chão, nesse esteio de palavras girantes, perdi-me em você. Sinto esta carta transformar-se em derrilição, pura magia sedutora do Diabo em teus olhos satânicos, tão próximos como os dentes do predador. E sou a caça. A caça de tudo isso que me devora em pedaços finos, preso em teus dentes alvos. Sou apenas a presa da caça. E estou raciocinando um momento de lucidez: fundir-me em seu corpo, tomando a vista do mar e entre as ondas circulares e ovulantes, vejo-me em você, dentro, tão dentro que não reconheço meu corpo, senão o seu. Minha presa! Sonhei com meu cavalo, com os fantasmas daqueles olhos vibrantes (ou penetrantes?) e acordei banhado de sonho. Você me faz sonhar com esta carta, com suas vozes em meus olhos...Contorço meu estômago para digerir você como um alimento engenhoso, criado por Ele, criado por mim naquele mesmo futuro de que lhe falei, no qual sonhamos um com o outro na esfera transversal, no campo e naquela rede onde batia o fino sol da tarde e você me beijava. E são apenas palavras incertas de meu desejo, que já nem é mais secreto. Contei a rosa vermelha meu verdadeiro anel de prata e entreguei-o a você naquele sonho afoito entre a vigília e o acordar. Traga-me o caos que lhe peço por esta carta tão sóbria de mim e lhe entregarei a saliva de minhas mãos ao escrever-te esta carta.
Sonhei com você. Sonhei com seu rosto. Fiquei, ou sou, louco. Seu rosto. Abdico a você. Essa carta é somente um arremesso de meu coração; uma tentativa frustrada de entender meu corpo em você, e meus galopes nas mãos do Diabo.
Saturday, May 30, 2009
Quando anoitece, em meus círculos de fogo eu praguejo. Deito o corpo na lama e sonho pesadelos de eternidade. A felicidade que se foi. Eu me tornei a alucinação da mãe morta. Por onde passo, meu rastro cobre com um manto negro os passos alheios. Eu vejo o ódio e desperto o pior de tudo. Eu sou a besta rastejante, a cobra e o veneno maligno. Eu vi o demônio e para ele preparei o meu corpo. Eu fui esquecido.
Eu me tornei o contrário, o avesso e a felicidade. Eu sou aquilo que sonhei.
Monday, May 18, 2009
Tim tim
E fica sempre por um fio. Tênue, delicada e frágil. Somos a grande experiência de deus. Somos a verdade e a mentira, juntas, criando espaços inabitáveis.
Quanto ao Ibsen, sozinho é aquele que encontra a derrota da vida. A força falsa de viver à dois. Ou mesmo o Hesse quando disse que o homem é o lobo do homem.
Wednesday, May 13, 2009
Writers block
I'm feeling rough
I'm feeling raw
I'm in the prime of my life
Let's make some music make some money find some models for wives i'll move to Paris, shoot some heroin and fuck with the stars.
You man the island and the cocaine and the elegant cars
This is our decision to live fast and die young
We've got the vision, now let's have some fun
Yeah it's overwhelming, but what else can we do?
Get jobs in offices and wake up for the morning commute?
Forget about our mothers and our friends
We were fated to pretend
I'll miss the playgrounds and the animals and digging up worms
I'll miss the comfort of my mother and the weight of the world
I'll miss my sister, miss my father, miss my dog and my homeYeah
I'll miss the boredom and the freedom and the time spent alone.
But there is really nothing, nothing we can doLove must be forgotten, life can always start up anew
The models will have children, we'll get a divorce
We'll find some more models, everything must run its course
We'll choke on our vomit and that will be the endWe were fated to pretend
Yeah yeah yeah
Friday, May 08, 2009
Carta endereçada.
- Mas você nunca mais esteve no sofá, fumando, tomando café e perguntando se eu não estou com fome ou se vou levar um casaco porque vai esfriar.
Monday, April 20, 2009
Gosto(so)
Novamente, o parafuso girando contra a madeira, querendo arduamente ligar duas formas de vida incompatíveis: a minha e a que desejo. O desejo do saber tudo, sobre todas as formas e todas as maneiras. Que me perdoem todas as justiças divinas, mas ali, naquele mesmo canto particular, não há lugar para relicários.
Feche os olhos. Um, dois, três. Abra los ojos.
Tuesday, April 14, 2009
Ao vazio.
Aqui, os vazios, lentos e prazerosos vão assumindo seus postos como se estivessem marchando rumo à guerra dos desesperados. Loucos, maníacos, egocêntricos, seguidores do demônio e mesmo os seguidores de cristo. Assassinos, românticos, apaixonados, adúlteros, mentirosos, fiéis, leais, falsos, fantasmas, familiares, mortes. Os vazios substituídos pelo pior e pelo melhor: a eterna antítesa. As artes barrocas, retorcidas e aglomeradas vão se fundindo a uma espécie de arte contemporânea. O desespero em se criar o quadro perfeito.
Todas as políticas públicas reunidas em uma só cabeça. A fome da África e os órfãos da guerra do oriente médio. Tiros e desparos. Negar os símbolos de uma suposta vontade religiosa, pode ser a melhor das armas.
Monday, April 06, 2009
London calling.
A vontade é sentir tudo como se fosse à primeira vez. A primeira dor do sexo, a primeira vontade de doce, o calor, o primeiro frio de temperaturas baixas, sonos e vontade de rir. O riso forçado. A primeira música. O arrepio do primeiro beijo. O primeiro beijo. Tudo num ritmo desacelerado e menos ordenado do que as equações matemáticas. Na antiguidade, isso poderia ser uma ode, tragicômica e feita para grandes platéias. O curto da vida, o curto do pavio, a fome pela vingança e a perversão. Tudo junto, num dos cantos mais escuros do coração, palpitando e bombeando para o corpo o sangue mais azul que se é possível produzir. Muitos outros dias ainda em estado vegetativo aguardam, sem anseios, pela maestria do destino. É dessa vontade, a falta de amor, nasceram às teorias do menino-que-não-sabia-se-amar. Daqueles olhos quase negros, do cabelo grosso e escuro. Com afinco, podemos afirmar nessa fábula não muito moderna, que o amor incondicional é para poucos. O menino-ainda-em-desalento procura lugares estranhos para se procriar, sabendo racionalmente que ali não encontrará um hospedeiro perfeito. Sua vontade é a de sentir dor pelas mãos do outro. Não saber se amar parece ser o destino do menino-que-não-é-amado. Sua mãe, sem entender as coisas do útero, admite sozinha em suas preces contrárias que ao filho entrega somente o destino do sustento familiar. É a fábula do mundo anti-moderno. Os laços finos do menino, cortados pela vida cruel e pelo mundo construído por desafetos. A vontade ali era de se sentir minimamente amado.
Tudo parece indicar que as histórias, como na própria História, não são cíclicas. Elas se repetem. Elas se dobram e desdobram. No espaço, não parece haver esse tempo para os mortais. Tudo se faz num único momento, o mesmo momento para todos em qualquer lugar e qualquer época. Uma bolha, de tudo, de todos os tempos que se dobra lentamente e com a mesma velocidade estoura por entre tantos astros. Seria apenas uma das formas esquizofrênicas de entender os significantes, ou mesmo estudos semióticos. O significado do espelho, ninguém parece ter entendido.
Aqui, as fábulas jamais foram escritas com base na vida real. A vontade é a de sentir tudo, como se fosse à primeira vez, desde que o passado tenha, enfim, sido enterrado.
Friday, April 03, 2009
A insustentável leveza
Ainda que nada se possa fazer, deve-se como uma espécie de trabalho artesão, esquecer de tudo, caminhar por um momento e adiante, abrir um pequeno carderno de páginas brancas e ali, reescrever tudo novamente. Pode ser um start de coisas. Pode ser também uma simples maneira de construir novas versões. O partir não parece, e nem pode parecer, distante como se imagina. É preciso um plano, um sentido e uma infelicidade para que se possa ir adiante. O espírito, tal como conhecemos, disfarçado por tanto tempo, atendendo necessidades frívolas do dia-a-dia, se volta contra as máscaras. Ali, no mesmo canto da sala, ainda há um pequeno rabisco de vontades. O anseio e os desejos insatisfeitos. Porque para ir, é preciso sentir-se infeliz.
Mas também um certo tom de desajuste é necessário para que se possa imaginar outras possibilidades de viver. Eu penso, e recoloco tudo na mesma medida. E as decisões se somam, e distraído planejo outros caminhos. Que seja a perda de uma profissão e mesmo a distância de tudo que se conheceu. E um dia ainda se poderá rir de situações desesperadoras. Hoje, o melhor é trancar tudo em uma mala e ir. Que seja amanhã ou depois de tudo.
O primeiro passo é partir.
Wednesday, March 18, 2009
ao romantismo.
Eu anseio por esse futuro. Distante. Pedras e água salgada. Quando nada mais faz sentido eu retorno para os seus cabelos, circulando meus dedos, fazendo carinhos perversos em sua orelha. Ensino pequenos grunhidos antes de adormecer. Sem notar, já é tarde, bem tarde, quando abro os olhos e ainda posso te ver reluzindo. Na chatice do dia-a-dia, a mesmice daquilo que não passou. Estátua de mármore dizendo doçuras. E tudo perde o sentido. Volta e recomeça do zero. Sem esquemas, geometria ou subjetivismo. Eu perco as palavras e só consigo dizer que te amo. Um medo terrível misturado às sensações do prazer. Aquilo que fica não dito torna-se meta. A vida passa, continua à espreita. Você ainda no reflexo do espelho dizendo adeus com lágrimas nos olhos e eu preso a teus pés. Perdi. Ganhei. Pontos e mais pontos e com eles sobrou apenas o retalho de uma eterna insatisfação. Aquele desespero dando lugar a mania de tentar esquecer. A calmaria do entendimento: aquilo que foi, não volta jamais. E essa pretensão de que tudo vire testemunho bíblico é só a força do hábito que não me permite correr ao florista, pedir meia dúzia de rosas brancas e levar até a sua porta. Seria mesmo a morte consoladora? Sem o romantismo torpe ou mesmo a coisa de Castro Alves. A morte como detentora do renovável, do começo e do fim.
Assim, se passaram cada um dos anos. Uma viagem homerica, na jangada carregada de lembranças, rumo ao desfiladeiro - à beira dos seus olhos. Disso, nasceu longos fios de ciúme, enrolados a um tempo de sabedoria, despeito e carÊncia. Que mais há para se fazer? Do luto à ressurreição. Você ali e eu aqui. Cavando buracos, desenterrando maravilhas de um doce passado. Jamais diremos o contrário. E tudo isso para provar a minha teimosia, a minha falta de desapego por aquilo que se foi. Você, que um dia parou na minha porta e que hoje tornou-se príncipe-romântico dos contos de fada.
O que dói não é a morte de quem se ama, mas a morte do amor que se teve um dia.
Monday, March 16, 2009
Sombra.
Tuesday, February 24, 2009
Além
Seja da ordem que for, as relações devem ter uma espécie de ligação-maior. Algo que vá além do simples hábito, do cotidiano e do experimental.E mesmo as pequenas relações também devem ter aquele caráter passional. Mas de todo modo, é de extrema dificuldade estabelecer essas relações.
Na estante de livros, olho e de súbito percebo que há história ali. O modo como sempre datei os livros que adquiri e mesmo os bilhetes escondidos, anotações de rodapé, orelhas dobradas. Tudo ali dentro daquelas páginas. Uma história de muitos anos. E eu tenho essa relação com meus livros. O prazer de tê-los, o prazer de sentí-los envelhecendo comigo - os anos que se passam e as leituras em cada fase, adquirindo uma vida nova além daquela que está sendo contada dentro dele. Ali também, elaborei trilhas sonoras do jazz ao mais pop, passando pelos clássicos. Lia Tolstói ouvindo as sinfonias russas. Deixei todas essas histórias em estantes fora de ordem, empilhados e envelhecidos.
É dificl estabelecer relações. Com os livros é uma ligação-maior. vou além daquilo que conheço. E talvez, seja a única relação que nunca se vai. Não há cortes, desavenças.
É a única que sempre ficou.
Saturday, February 14, 2009
Cartola.
É difícil acreditar em mágica. Seja no circo, seja em praça pública, o festival todo sempre parece truque para criança.
Os coelhos saem de cartolas, mulher cerrada ao meio e, claro, aquele velho truque de tirar a moeda por trás da orelha. É difícil acreditar em mágica. Talvez tenham que adotar, ou resgatar, aquele velho olhar de criança ingênua. Aí, a mágica passa a existir.
É difícil acreditar em mágica, mas parece que o truque nos persegue. E como seria bom se a vida pudesse acontecer num passe de mágica. Como se seria se realmente o coelho estivesse dentro da cartola e, melhor ainda, se a moeda estivesse de fato atrás da orelha. As crianças acreditam. São capazes de trair a mais pura razão em troca de puros momentos de magia.
É difícil acreditar em magia. A magia de cores que se fundem formando uma nova cor, a magia de se criar maravilhas da arquitetura. A magia também tem os seus significados para o público descrente. Mesmo que científicos, um arco-íris só é bonito se acreditarmos na magia de vê-lo no céu depois da chuva. São as evidências menos temporais que nos fazem, pelo menos, uma vez na vida dizer: mágico.
Mesmo que seja difícil acreditar em magia.
Tuesday, February 03, 2009
Testemunha
Eu trago heranças comigo. Trago formas distintas de traumas, paganismos e aversões. O que me foi dado, aquilo que se transformou e que fez de tudo uma grande dilema moral, agora é a base para essa construção mal progetada. As pinturas na parede, as cartas seladas, a gaveta cheia de poeira e vontades.
Eu trago um pouco de tudo. Dos estudos de filosofia, a psiquiatria auto-didata, as críticas literárias, estudos Woolfianos e lingüísticos. Falo e penso em Shopenhauer, Nietzsche e Deleuze. Acendo cigarros com os dias contados e ainda penso em como será quando eu estiver de cabelos brancos. As perspectivas do mundo, parecem, sempre um mundo distante. Vou devagar. Lendo mensagens no metrô, procurando espaços em locais fechados, abrindo o guarda-chuva e esperando o dia passar. Essa pouca esperança de encontrar ao fim de cada caminhada outros pés que não sejam os meus. Da perfeição já me bastam os Magrittes e as fotografias de Eggleston. Aqui ao lado não espero mais do que um singelo e elegante sorriso. As formas invariáveis e o mesmo jeito de entender tudo e todos os mesmo tempo.
Eu trago essa herança. Tudo acontece como se estivéssemos presos por um fino fio de seda. Por vezes colorido, ele parece nunca romper. Ali e aqui, vou procurando espaços na estante e empilhando livros.
Mas a herança mesmo, chega nos lugares mais inusitados. Um certo padrão de sorrir.
Monday, February 02, 2009
Versão Verão.
Risos à parte.
Monday, January 26, 2009
For the latest
Não se pode tudo. Na força, na força que damos ao braços, restam às pernas poder carregar o peso.
Friday, January 16, 2009
Abra los ojos
E saio ainda com passo saudadoso de tudo. Da minha mãe e de como eu não tive tempo de dizer o quanto eu amava ela. Dos rancores e das brigas com meu pai. Mas ainda pude consertar outros vasos quebrados. À minha família, digo ao meu irmão que ele é parte de mim; à minha sobrinha, deixo a barriga ser mordida pelos dentinhos frágeis, deixo ela passar gel e prender o pente no seu cabelo fino e até mesmo simulo mergulhos na praia só para vê-la sorrir. E ainda acho tempo para dar conselhos alheios, por pura diversão. E aos poucos o passado vai se esgotando. É um processo de cura, eu diria. As vontades de criança carente e o pirulito quebrado.
Eu penso nas diversas formas de se viver bem. Escolho as pessoas certas, os filmes, livros e programas de televisão. As vezes, tenho saudade. Saudade de poder dormir e não ter hora para acordar. Mas sempre que eu termino um trabalho, me sinto melhor do que se estivesse dormindo.
Eu falo muito de sonhos. Eu só queria mesmo agora, era poder não sonhar.
Queria só poder ser.
Tuesday, January 13, 2009
Ninguém aprende sozinho. Ninguém sabe lá como os discursos possuem efeitos colaterais perigosos. E seria, deveras, fácil dizer que as intenções eram somente da boa vontade. Na forma como se cria a casca da cicatriz, só o machucado sabe como foi ferido. E as questões acumuladas, pressionadas, começam a escorrer para dentro das veias. É sangue em excesso pulsando o dissabor de um adeus. Quem disse que o inferno está cheio de boa vontade? Resta a dúvida. Resta o crescimento. Eu, tento parecer um pouco menos professoral. Devo dizer apenas que cuidar daquilo que me interessa é a prioridade. É, por que não, bíblico e tão experimental quanto temas atuais. O que pra mim nunca foi motivo de sabedoria, o relativismo foi e continua sendo a maior besteira do mundo, sem esquecer do fracasso do humanismo.
Sem delongas, não sobrou mais espaço. Não pela recorrência de fatos ou inverdades, mas porque as leis da física são maiores do que as minhas.
Se tiverem que existir dois corpos, no mesmo espaço, pelo menos um terá que sair.
Antes tarde do que nunca.
Wednesday, January 07, 2009
Sobre
Imaginamos que o oceano possa ser infinito. Imaginamos como seria passar férias na Groelândia. Imaginamos que carne de baleia deve, no mínimo, ser gordurosa. Imaginamos como seriam os nossos filhos.Imaginamos se aqueles que se foram primeiro, chegaram enfim ao tal paraíso.Imaginamos que seria a sensação de matar alguém.Imaginamos como seria o primeiro beijo.Imaginamos como seria a vida em outra época.Imaginamos como seria ser loiro, ruivo, ter olhos verdes ou azuis. Imaginamos que a nossa vida é um filme. Imaginamos que os amigos próximos iriam nos respeitar.Imaginamos que os amigos seria fiéis e que teriam caráter.Imaginamos como seria acordar sem preocupações.
A gente sempre imagina tudo do avesso. Como se fosse mágia, truque para criança. Na realidade, tudo é diferente. Aquelas pessoas que você mais acha que conhece, no fundo, são aquelas que vão te empurrar pelo abismo. Mundo afora, há que se ter cuidado. Isso poderia ser conselho para um possível filho. Nunca se esqueça. Confie sempre naquele que não sorri muito.
Alguns dizem, o sorriso do diabo é dos mais sedutores.