Você sempre achou que nada lá fora fazia sentido. Que os culpados eram todos membros da sua família. E também, ninguém mais sabia como detalhar tantos detalhes sórdidos. Aquela coisa particular da vida de cada um. Eu mesmo nem me lembro mais de contar ou deixar rastros de bicho rastejante sempre que algo novo aparece. Ainda me lembro de muita coisa que se passou. VocÊ achou que a minha memória era curta e que logo eu esqueceria até mesmo o sabor das coisas. Jamais. Nunca tentei encontrar na memória, pedaços de você. O que se foi, foi. Escreva novamente as cartas, sele-as e deixa-as por cima do túmulo da sua sogra. Nada mais tem aquele significado de quando leram a palma da minha mão. Aos poucos, tudo foi mudando. POr vezes rápido, ao contrário de agora que estamos naquele estado vagaroso novamente. Você me pergunta se eu ainda sei o que são aquelas cartas e selos e sempre respondo com um olhar avesso, caído e indiferente. Mas eu mesmo me mascarei de tantas formas, escondi de tantas maneiras e fiz do seu seu jeito, o meu jeito de crescer. Esperando que um dia vocÊ voltasse, Ulysses, eu despertei e afungentei tantos fantasmas que acabei por deixar ruir todo o meu reino. Aqui, sem coroa, sem nada, desmonto pequenas partes do seu corpo e deixo tudo colocado em cima da cama. A sua camiseta vermelha, antiga, de dormir. O seu pente e a sua escova de dentes. Por que vocÊ não me deixa ir? Por que me prende como seu eu fosse teu? Destrui tudo e tentei, caco por caco construir algo a mais. E você viajou para longe. Sem saber, me desesperei. Parei de fumar, cuidei do corpo e fiquei um pouco menos ansioso. Mas você continuou fugindo. Me responda: por que me prende a teus pés? Por que não me deixa ir?
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