Estou numas de matar tempo. Sim, deixar que tudo tenha um curso certo. Talvez seja essa uma espécie de fórmular para controlar o espírito, ou simplesmente eu esteja tentando acertar antigas faíscas junto ao fogo. Lembrar de um antigo discurso sobre questões ontológicas e mesmo metafísicas. As antigas formas de pensar em tudo com um certo rigor.
Estou numas de ser rigoroso. Deve ser porque não há mais espaço aqui dentro ou fora para certas disparidades do viver. Mas ainda assim eu guardo especiarias para um dia dar tempero ao rancor e até mesmo ao esquecimento forçado. Nada por acaso, é fácil fazer de um dia simples algo a mais. Dar sentido ao cotidiano pequenino e torná-lo grande, como deve ser. E por que não se deixar levar, flutuar entre estrelas, astros e poeiras cósmicas. Esquecer enfim vestígios de roupas velhas, máscaras usadas e todo aquele palavrão. Murros na parede ou sentimentos avessos. Ou pelo avesso. Estou nessas ultimamente. Deixar de escrever e investir em outras coisas. Porque toda essa pulsão de vida que é escrever pode ser direcionada a outras áreas. Tornar-me-ei um escritor de todas as formas. Ser tudo ao mesmo tempo e sem sentido. Gostar, depois me apaixonar e amar incondicionalmente. Deixar evoluir mesmo o que no começo é tão gostoso e fácil, como um algodão doce. Talvez seja mesmo uma certa análise do discurso, tal como nos ensinou Foucault. Ou então, esquecer de tudo, e deixar que toda aquela pilha de livros seja consumida. As músicas tocadas. A dor, o ódio, o amor, a paixão e até mesmo aqueles sentimentos pequininos, todos eles tenham um sentido diferente. Empacotados.
Estou numas de deixar de lado. Sim, aquelas vestes estranhas e as amizades em ruínas. Deixar de lado essa parte da cesta. Ou nem é deixar de lado. É não mais fazer parte da vida e da corrente. E as minhas pulsões todas nas mãos, no olhar, no meu travesseiro, nos meus beijos e sonhos. Um texto deveras longo. Amanhã eu encurto tudo. Tornar-me-ei um escritor de muitas capas, fontes e páginas.
Fazia tempo que certas sensações não me visitavam. Hoje, vieram todas.