Friday, July 27, 2007

Da Paixão - Parte I

O que nos difere dos animais?
Seria mesmo a racionalidade? O homem é o lobo do homem, disse Hobbes. Já Rousseau alertou-nos para a possibilidade de sermos corrompidos pela sociedade. Para Foucault somos governados pelo discurso e este é, igualmente como a sociedade, dotado de poder.
É, parece-nos que a filosofia enfim não conseguiu desvendar o que de fato nos move. Aqui, nem pretendo tal façanha. É só um texto de afirmação; tentativa de entender a si próprio. E essa questão que se nos apresenta, essa a de entender o que nos move é deveras complexa. De linhas exauridas de tanto esforço, deve-se, a priori, selecionar um item que poderia ser o objeto desse estudo.
À guiza de prefácio, selecionei Amy Winehouse como trilha sonora. E os que entendem de filosofia devem estar se questionando: “o que diabos está fazendo Amy Winehouse e Hobbes em um mesmo texto?”. Nada, exatamente nada.
Vamos lá.

Ao que me parece, talvez simploriamente, o que nos difere dos animais seja algo universal. Poderia ser uma sucessão de sentimentos. Poderia ser a vontade. Luxo, gula, e muitos outros pecados capitais.
Aqui, receio dizer que pode ser a paixão. Sim, a paixão. Ela nos move. Ela nos move em direções, em sentidos, em vontades e em atitudes que, sem ela, estaria inertes, languidamente deitados à sombra. O homem é o lobo do homem, como pontuou o pobre Hesse. E sem a paixão quem é exatamente o homem? Pobre, vazio, efêmero e, como diriam os de língua inglesa, pointless. Penso que aquele movimento dentro de cada um precisa de um start, quase como o fogo precisa do oxigênio, da brasa, ou seja, aquele ponto de partida. Apaixonamos-nos desde o inicio. Pela mãe. A mãe, movida pela paixão/amor pelo filho, se fortalece. Os devotos de Cristo, ao que me parece, são movidos à paixão que sentem pelo “salvador”. O ocidente enfim, nutre sua paixão pelo catolicismo. Os viciados, apaixonados pelo risco, potencializam a representação do mundo. Apaixonados.
Aqui a paixão deve ser entendida de todas as formas que a conhecemos. Ela pode ser desde o papel de carta do ensino fundamental, ao amor juvenil estilo Romeu e Julieta, até as paixões maduras como em Casablanca. Sim, o homem é o lobo do homem.
A paixão enquanto vontade de representação de si mesmo. Não somos Caeiro, infelizmente. Vivemos pela magia do signo romântico. Pelas batidas do coração em desespero. Foram os contos de fada? Não seguimos as purezas de Platão. Caverna e mito. Até mesmo Édipo. Temos a síndrome de Medeia que, pela paixão, assassinou os filhos. É compreensível. Até mesmo as leis partilham da idéia de redução da pena se o crime foi praticado num ato de paixão.
Somos movidos pela paixão. A paixão por Cristo nos fez erguer um império, talvez o mais poderoso que conseguimos. Pela paixão somos capazes de destruir a própria vida para refazê-la em outro. E quando a paixão acaba, acaba a graça. Quem consegue transitar da paixão ao amor? Poucos, bem poucos. Quase ninguém. Não se pode negar que a paixão por um livro faz com que a entrega seja mais prazerosa. Conhecemos a vida pela perspectiva da paixão e quando esta não é presente, o sentido torna-se distúrbio. Sem a paixão, parece que o sangue corre devagar e que as nuvens, sim as nuvens, passam lentas pelo dia. É a vida é mesmo estranha. A vida, quando ela começa, tem o marco inicial na paixão; aquilo que nos faz crescer seja em lágrimas, seja em sorrisos. Perversidade, culpa, gozo, desespero. A paixão é dona da loucura. Qual o sentido em falar de G.H e Goeth, quando podemos no real sentir tudo isso. Lucíola enfim teve seu destino por conta de sua paixão. Corrompemo-nos pela paixão. Senhora de um tempo estranho. Quem nos apaixona? O que faz nos apaixonar? A vontade de si próprio.
O homem é o lobo do Homem. Parte I.

1 comment:

Anonymous said...

Antes de mais nada quero deixar registrado aqui que sempre achei que "O lobo é o homem do lobo" fosse uma frase da Pitty (pedras em mim)

Eu confesso que se sou viciada em alguma coisa é nessa bendita dessa paixão, confesso também ser volúvel porque todos os dias me apaixono por uma musica diferente (a pesar de estar na sintonia da mesma a 1 semana... you are averything you are)
Ah... Paixão por alguém, é engraçado que quando me apaixono por alguém tenho sempre a plena certeza de que não vai dar certo, mas na ultima vez virou amor (Thanks God) e eu aprendi a ter respeito...
principalmente pelo que eu sinto... que é bonito demais pra eu desperdiçar assim a toa, mas ainda adoro a aventura de ter que passar por uma série de coisas pra estar perto de quem eu DESEJO...