Naquela noite, o mar revoltou-se em ondas altas, pesadas e rápidas. Naqueles tempos o mar tornou-se revolto. Agitou as águas em tempestades de luz; trovoadas em curtos tempos de espaço ultrapassando a orla da praia como se quisesse chegar até aquele ponto em que não houvesse mais praia. E a senhora trazia as ondas como um castigo. Não havia como navgar ou até mesmo aproximar-se. O mar revoltou-se.
Em instantes, as ondas buscaram e trouxeram pedaços, estilhaços, corpos e alguns outros pertences para dentro do mar. O oceano segurou-se e, traiçoeiro, voltou para dentro do infinito e aquietou-se. O mar aquietou-se. A mãe das águas fechou os braços. Vingativa, recuou as águas. A praia ficou deserta. Alguns a chamaram na beira e não houve resposta. Nem Dela, nem do mar. O oceano aquietou-se num silêncio que somente a natureza poderia causar, como se de súbito toda a vida houvesse sido colocada em estado de emergência, e ela fechou os braços. O pescador, à beira do mar, a chamou. E novamente, algumas ondas voltaram à praia com violência de tempestade. Ninguém traí o mar, pois ele é traiçoeiro como Ela. E de manto azul, colocou-se de braços cruzados a ouvir. Nenhum som. A água balançava em um ritmo paciente. Era dona do infinito. Mãe do espelho, mas era vingativa como a água. Naquela noite, o mar revoltou-se novamente, abraçou o pescador em suas ondas e o levou para o fundo do oceano. Traiçoeiro.
O mar revoltou-se.
2 comments:
Ai, essas águas... acho que vc tá pirando com isso (antes que me pergunte porquê, digo, estou brincando)... Você lembra daquela novela que tinha o Marcos Palmeira, que era pescador... e a Iemanjá aparecia?! Acho que ela foi inspirada em você...
Saudades Valadão!
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