Wednesday, October 24, 2007

A Year Later

Em um dia, quando menos se esperou, aquela voz, aguda, mas forte como um raio, desceu para dar um alerta. A voz que não era dele, mas dela. A voz que veio, cortando nuvens, deixando rastros de tambor por onde passou. Essa voz veio, desceu, agonizou por baixo de árvores, deixando troncos à beira das ruas; essa voz que cortou o mar, fez com que a água subisse, se revoltasse por entre os peixes, a areia e as montanhas que, quietas, observavam sem questionar. Era a força. Como força, desceu, cortou o asfalto em pequenos, pretos, pedaços. Adentrou pela janela do quarto. Parecia um feixe largo de luz. Quente, e ao mesmo tempo, gélida. Rouca e dócil.
Desceu rapidamente. Na viva voz. Era comando de loucura. Comando do passado, misturado ao presente e a fome de viver.
Da receita que ele criou, do grande ao pequeno, aquela força que veio, força para dizer, pronunciar o fim próximo; o ciclo da vida. De tempos em tempos tudo se fecha para que outros possam começar.
A força da tristeza. A força do desgosto que era também hálito de descontentamento. O eterno retorno. Aquilo que a Vida traz e leva, como ondas mesmo. E quando, do céu, surgiu aquela força, esse mesmo mar, repleto de ondas revoltas, abriu-se. Abriu passagem para o mistério. Do intocável. Da maneira como as coisas fluíram. Na Vida, restou apenas alguns pontos importantes. Sem voz. Silêncio e coragem.
Em um dia, desses nublados, veio a voz. Ao som estridente, aos dentes serrados como bicho selvagem, ouvi pela fresta, calma e doce:
“Segue, teu mundo. À espera.”

1 comment:

Luiz Zonzini said...

Ela recomeça, refaz. Até que, a onda, deixe à orla alguma concha sonora, pra que fiquemos ainda mais confusos...