Sunday, May 20, 2007

Find me gone

O tempo pode ser um jogo, surto de não saber como contar as horas. E quantas horas restam em um dia? A vida, sim a vida. Não essa que costumeiramente se traduz em banal, mas a vida como forma inevitável de transformação. O que aprendi ao longo desse caminho. Aqueles exatos momentos em que tudo se transformou e, por fim, comecei a crescer como uma muda de grama, me alastrando sobre a planice e me formando em cor, o verde primeiro. Segui num caminho forçado; perdi o rumo tantas, tantas vezes e senti que poderia ser podado em qualquer momento. E tudo seguiu para um destinho incerto. Acho que por isso gosto tanto de Oz. Aqueles tijolinhos-amarelados e todos os percussos que se deve seguir para achar a cidade Esmeralda.
Cantei muito. Cantei para ser ouvido dentro das noites profundas. Deixei de limpar o vidro da janela para não ver a paisagem, que nem é paisagem; é só uma palmeira seca e um asfalto antigo. Escondi fotos, aquele anel de memórias, uns presentes e tomei inteira a garrafa de vinho que estava guardado para aquele momento que não veio. Correr para trás, eu corri. De frente o tempo me veio e forçou-me no aprendizado infeliz que se faz necessário. Crescer para todos os lados, para cima e para baixo. Explosão daquilo que se é. Não me movi de mim, Hilda. Permaneci de pé, diante daquilo que já tinha me formado um tempo atrás de outro. Re-ouvi minhas músicas favoritas, reli Breve Romance de Sonho e escolhi algumas roupas para à doação. Cortei e pintei o cabelo. Roí ainda mais as unhas e quebrei um pedaço do meu dente. Ainda tive tempo de re-sonhar tudo aquilo que era poesia e não esquecer de deitar para, novamente, sonhar os sonhos.
Onde cheguei? O tempo é só uma brincadeira para viver. Algo que seja de criança. Disfarce mesmo. Eu andei tanto parado e hoje corro para chegar até o que eu quero. Sim, a vida pode mesmo ser outra coisa. Escolher as paisagens, os contos, as poesias e os romances escondidos nas estantes. Alguns momentos cresceram e tiveram importância de gigante. Como eu mesmo escrevi linhas e laços em uma página já ocupada por muitos silêncios. Esse jogo, esse jogo de mestre que se entrelaça num infinito, numa parte fracionada de palavras, sonhos e sorrisos. Andar por entre tristezas, alegrias, mortes e aquela velha fama de ser querido. Como faço para reatar-me?
O tempo pode ser um jogo sujo. Por vezes, ele é só um truque, mas àlguns dias atrás ele foi jogo sujo. Quando se reconstrói um teto para esperar a chuva, um pássaro sem nome e sem penas me roubou, telha por telha. Ó, não fique assim. Mas é para esperar ventânias e outros pássaros. Maldita ave! Ele é meu fantasma, porque sou assombrado por aquilo que deixei para trás sem um fim, como se eu tivesse inacabado uma malha; sem as mangas. Ainda tive tempo para jogar migalhas, sempre. É o velho de barba clara e escura, mista, que me traz um trono feito de madeira antiga, quando o que eu quero é só entender porque o relógio do meu quarto não funciona mais.
Tempo de reviver, ressonhar, ressonar, repensar. Tempo de divisões e tempo de lembrar antigos sentimentos enterrados, uns sobre os outros. Tempo de limpar aquilo que não serve e contar; brincar de amarelinha. Tempo de sentir que algo pode ser maior sem ter tamanho certo. Quanto tempo não penso nas ondas e não vejo o mar. Próxima parada. Sim, ver o mar e sentir a areia quente. Tempo de sentir-se no ninho, esquecido no galho, na felicidade do sublime. Ser apenas esquecido no galho e protegido por folhas e vento.
É só um tempo. Outra vez, perco a hora e me atraso para me ver dentro do ovo. Quebrar a casca e ser apenas o novo, alguém esquecido entre os galhos e folhas, no ninho, no eterno sublime. A maravilha de estar sendo e ter sido.

1 comment:

Luiz Zonzini said...

certeza de nunca estar a salvo, e estar vivo sem certeza nenhuma. que incerto ser são, não é mesmo?