Eu queria poder escrever em parágrafos obscuros, entrelinhas explícitas, tudo aquilo que disse a vontade de saber. Cada vez mais, o inverno que é um consolo para meu corpo, se afasta e dá lugar as folhas leves e secas. Já era tempo de se ter um filho e quem sabe até dois. Era tempo já de colher frutas vermelhas e pecar sob os longos galhos das árvores. E o inverno não chega. Essa vontade de escrever ultrapassa aqueles limites da consciência; cria um estado de epifania pura, como se a paixão fosse feita duma magia negra e de feitiços pagãos promovendo alucinações intermináveis e um breve, porém permanente, estado febril. Corra para trás, alguém diz. Mas não há realmente para onde fugir, como dizem mesmo aquelas tão adoráveis poesias. São fases, acredito. Eu queria mesmo poder escrever sem vírgulas e acentuações na velocidade de tudo aquilo que penso e possuo em mim. E nem sequer me conheço por inteiro para que pudesse, sem vontade, deixar de lado todos os sonhos. As horas se vão, liquefeitas dentro sangue, borbulhando.
Ah que os textos possam ser apenas uma máscara de tudo aquilo que desejo. E isso é só mais um pecado sem vontade de se realizar. Só o pecado, como mesmo o diabo gosta. Um braço ou até mesmo uma perna é o que basta para que o tridente posso perfurar minha pele - indolor. Um braço, uma perna ou um gesto.
Como o diabo gosta!
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