Quando tentou segurar-se pela ponta dos dedos naquele velho tempo, esqueceu que ainda era início. Um vontade súbita lhe subiu ao peito; uma vontade severa de gritar, como se tivesse acabado de nascer. O primeiro choro veio aos olhos e sentiu que seu rosto poderia ruborizar de vergonha. Olhou a fotografia e não havia nada. A imagem sumiu como se fosse guache escorrido em água, uma tela que jamais havia sido pintada. Tudo era perene e demasiadamente ardente. E tentou segurar-se, arranhou os muros com as unhas comidas e aquilo era uma força. O relógio estava com os ponteiros quebrados. E por que aquela vontade imensa de gritar?
Escolheu o momento de sentir-se partindo. E aquele era o momento. Antes de fazer as malas, olhou ao seu redor. Havia livros, discos, filmes, retratos, cartas, poemas diversos, segredos guardados no criado-mudo. Juntar tudo seria impossível. Queria apenas partir. Longe das memórias de lágrimas, longe das felicidades de um tempo morto, enterrados em palavras categóricas. E já não reconhecia ao seu redor. Pegou apenas uma foto em que aparecia sorrindo e colocou-a no bolso da calça. Sem mais, saiu por aquela porta tão familiar e não olhou para trás. Eram os minutos que decorriam como anos, e estando ali, sentiria eternamente a vontade de segurar-se àquilo queria ser segurado. O choro já era frio e calculado.
Os dedos soltaram-se rapidamente. Não houve queda. Não houve hematomas. Apenas o alívio de não segurar-se mais.
1 comment:
Nada mais quer permanecer nas suas mãos!
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