Sunday, June 22, 2008

Into the wild

Algo que muda. Algo que se transforma. Uma fome, uma ânsia e algo que se modifica. Algo sem motivo. Os motivos de outrora. Os motivos que fizeram algo mudar, como se não quisesse aquelas antigas sensações de estar sempre no meio do corte, cicatrizando e coagulando. A vontade de carnificina denunciada pelas pontas e beiradas dos dedos assume uma vontade particular e solitária. Se as vertigens parecem caminhar como parte do corpo é porque algo mudou. Prestes à mudar, talvez. Assim, sem aviso de chegado, em segundos tudo mudou. A fome pelos dedos, a fome pelo andar e pelas luzes semi-acessas do entardecer. Vermelhas, verdes, foscas e reluzentes. As pessoas vagando pelas ruas, umas conversando, outras rindo e muitas outras sozinhas caminhando no frio com o rosto rosado e de braços cruzados com medo do vento gelado.
Algo que muda. Aquele start incômodo de sentar-se no banco sem saber exatamente onde. A transformação pelo que foi. Soltar as amarras de um antigo animal selvagem e deixar os dentes à mostra. Essa é a vontade. Galopes de um cavalo solto na paisagem; a crista leve balançando solta no ar. Assim, simples como se poderia imaginar, algo muda em meio a um vaivém de vaidades, orgulhos e sentimentos passados. Aquele desgaste quase físico que clamou por uma estranha transformação atingiu o corpo e mobilizou-me diante de tudo: do quadro, da figura, dos rostos, da poesia, da melodia, de um dia, do frio, do calor, de anos, meses, dias, horas, minutos e segundos.
Algo que muda. Eterno enquanto dure a fobia pelo desagradável. Tantos nomes, tantas vezes que partiram aqueles rostos. Tantas vezes eu tentei me sufocar diante disso tudo, inclusive da mudança. Abdico do feliz conviver pacífico. Abdico de tudo. Uma única vez. Abdico da carne, do amor e das paixões violentas e desgastadas. Abdico de mim, do mundo e das vozes ocultas que me visitam ao anoitecer. Soma de todas as coisas, de todos os medos e de todas as vontades.
Volta. Meia volta. Algo muda.
Eu querendo escrever uma história e deixando que ela mesma viva, sem letras, sem regras, sem amarras. Na multidão algo tornou-se desespero. Enfim, uma única luz, vermelha ou verde, pôde se acender.
Algo muda.

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