Eu escondo razões e motivos aparentes. Uso como desculpo o virtuoso caminho da facilidade do engano. Toda aquela comoção pelo sopro de vento, pelo levar e trazer. Um ritmo estranho, nada aparente. Eu escondo e facilito as vias do engano. O vôo secreto de uma águia já abatida.
Escondo os tiros, as faces ocultas e devoradoras de realidade e, em troca, devolvo tudo aquilo que sou transformado em pó. Pó estelar, talvez. Carrego nas costas um mundo de irrealidades e livros usados. Eu escondo razões para não ser ser feliz pelos olhos. Por vezes, deixo cair os ombros, tamanho é o peso de todas as escolhas reunidas num único saco natalino. Nada parece importar. As batidas do coração fortes, o pulsar gigantesco de uma fome voraz e a ansiedade, toda a ansiedade de um estado quase mágico.
Mato e escondo as possibilidades. Escondo no sorriso e na voz doce. Dou ao demônio um beijo na testa, traindo os céus, anjos e toda a porcaria reluzente. Sim, dou um beijo no demônio e ele me agradece com suaves toques e tapinhas nas costas. Sim, eu troco o fogo e o calor pelo frio e gélido ar das noites. Troco tudo. Durmo sem roupa para sentir frio e esquecer de tudo o que se passa ao redor do meu corpo. Esqueço tudo. Escondo tudo. Escondo num armário, num baú e embaixo da cama.
Transbordando, transbordado, os instantes e semelhanças se dissolvem na água do banho e estouram como bolhas de sabão. O virtuoso caminho do mais fácil.
Eu escondo, escondo o demônio atrás de mim.
E ele adora quando, suavemente, eu beijo sua testa.
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