Eu posso, dar voltas, caminhar entre paredes imóveis de concreto ou cerâmica branca, deixar crescer e cortar o cabelo. E eu sempre tenho uma novidade para contar. Seja com os dedos, ou simplesmente pela minha voz rouca de fumo. Costumo ter essas preocupações com o futuro e a descrença do mundo. Observo as pinturas mais secas, talvez Pollock ou Bacon, tão cheias de emoções, contundentes e aos poucos vou indo na direção contrária. Eu espero anos se passarem como paisagens de um auto retrato. Eu canto e danço, sapateio o destino forte, porém tosco, com batidas pesadas. E há tanto para se entender do espaço, das estrelas e de astros enterrados que por vezes pareço me perder com um simples piscar de olhos. Rente, o corte das laterais rente ao couro, procuro detestar filmes românticos ou músicas festivas. Nos dias de hoje, nada mais é arte. Tudo tornou-se pretensão para um possível futuro de espelhos. Eu ainda querendo traduzir a frieza daquele olhar. Agosto, tornou-se um mês insípido e insignificante. Nas ruas, lenços palestinos, galochas, casacos de cotelê roxo e eu caminhando apenas para ter um sentido de pernas. Pessoas estranhas, um pouco familiares entre tanta vontade de se reconhecer como mais um estranho com um passado pesado. Misturo-me ao desconhecido e viro mais um. Ali, naquele lugar, é a única possibilidade. Estar entre o forte som das buzinas e os letreiros luminosos. Onde há tanta fumaça, seja dos charutos de executivos ou mesmo das banquinhas de hot dog. Meu show começa cedo, logo pela manhã. A retrospectiva incerta, pouco racional, de eventos, livros e poesias que fizeram um grande novelo, acabando como uma colcha retalhada com panos velhos e desgastados. Já é quase natal e o único presente que comprei foi um óculos de imitação estilo Bob Dylan. Contar as novidades, o crescimento dos pêlos no peito e nem mesmo a nova reforma na gramática permite que as cartas sejam diferentes das de ontem. Eu digo que as novidades tornaram-se grandes temas para conversas em cafés ou nos bares da Rua Augusta. Se saber viver é isso, talvez um gran finalle seja apenas uma má idéia entre tantas outros, como aquela idéia de se vender talentos. E no que posso dizer, um novo apartamento com banheira clássica de cerÂmica branca, mas a única coisa que levo são alguns acordes de um noturno de Chopin que aprendi a tocar com um mão. Os livros da Virginia, Faulkner e Cortazer numa prateleira que gosto de chamar de especial. Toda a coleção de Pessoa e literatura italiana moderna. Assim, se foram os anos. De ouro, prata, assim foram os anos. Tudo passando rápido ou o mundo parece ter empurrado tudo. Ainda os retratos de amizades desfeitas e uma péssima idéia de reatar laços corroídos pelo desgosto. Seja isso, ou aquilo, agosto tornou-se um mês transparente. Eu nem mesmo contei as datas esse ano. Ano da morte, ano do amor desfeito e dos pássaros que migraram para o norte. Um falo império de sentidos extremos. Letra e cor.
Eu posso, simplesmente, dar uma volta. Mas acabo sempre no mesmo lugar. Aqui, e ai.
2 comments:
Deus é tão bom contigo que pra compensar as coisas que te tirou em agosto te deu uma virginiana, que vai encher tua banheira de espuma, olhos essenciais e patinhos de plástico
tudo que um bom banho na sua propria casa depois de um dia longo de trabalho merece!
Lindo texto! Você rasga o seu coração e nos faz rasgar o nosso...
bjs
Perserfone Hades
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