Tuesday, September 25, 2007

Sometime. Upon that mountain

Houve um tempo, lento, talvez ainda mais vagaroso que os que vieram depois. Houve um tempo em que sabíamos de uma certa eternidade, da construção daquilo que é vago; o que pôde tornar-se palpável. Houve um tempo em que só o olhar podia dizer aquilo que as brigas não deixavam mais. Sim, sabíamos que o fim era só uma lenda. Tudo venceríamos. E por tudo, fomos, rápidos, derrotados.
E por que nunca fomos capazes de contar horas. Nos sábados em que bastávamos, um ao outro, fomos o que chamariam de felizes. De discurssões, palavras categóricas, chegávamos ao som; o nosso ruído perto da orelha quando, dentro de mim, dentro de você, o som e o corpo tornavam-se um só. E aquele som, era o nossso som. Ao fim, quase como se quisséssemos quebrar a barreira entre o corpo, o suor e os ossos, falávamos um "eu te amo". Nos momentos em que ponteiros não eram barreiras, sabíamos de uma certa eternindade - imortalidade. E vencemos, sozinhos, cada um em seu caminho, a verdade sobre aquilo que não é eterno. Fracassamos na estrada que nos conduziu. Erramos o caminho e fomos, cada um, para lados diferentes da mesma estrada.
O perdão veio tardio. Nas tardes afastadas, na família não reunida...Somos o que nos tornamos um longe do outro. Por que não falar de histórias de amor? Eu falo, porque histórias, toda história, deve ser contada. Aqui, no meu cantinho, eu posso contar. Histórias de nós dois. Fomos, um dia, esse meio verão. Das praias, dos mares, daquilo que juramos, nus na cama olhando pela janela, àquilo que viramos. Um ao outro. Somos hoje, fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos, vestígios de estranha civilização.
"Como? eu disse que era para pendurar o quadro na outra parede"
"Eu sei o que você quer dizer."
"Demoramos para contar um ao outro"
"Mas por que?"
"Sim, eu também te amo"
"É verdade. Não fazíamos bem um para o outro"
"Você foi..."
Na abertura. Hoje, o que somos? Companheiros de amizade. Talvez o nosso jeito de ainda enganar o destino e estarmos juntos no juramento que fizemos um ao outro. Você preso na mágoa e eu já, depois de muito tempo, entregando meu coração. Você tentando reconstruir a vida, com o que ela lhe deu, e eu, talvez tentando me reconstruir.
E um dia, houve um tempo em que achávamos que existia a tal eternidade.
Houve um tempo.
Naquele tempo. O Tempo da Montanha.

Soundtrack - Gustavo Santaolalla - Brokeback Mountain

2 comments:

Anonymous said...

... e agora vem a maturidade. E maturidade, é não deixar de falar de histórias de amor.

F. said...

tempo eterno. eterno retorno. tempo que sempre estará lá, plasmado no sonho.