Entender alguns dias, uns poucos dias, faça sol ou faça chuva, Esses dias em que o cheiro da carne de panela, vinda do vizinho faz com que tudo pareça um pouco mais diferente. Todas as gritarias, portas batidas, sentimentos avulsos, versões musicadas e algumas peças de teatro, tudo escondido nos armários - no fundo, bem no fundo da gaveta.
Uns anseios estranhos. Umas batidas de corda quebrada e aquela volta no quarto. Passar a roupa da semana, arrumar a lixeira da bolsa-andarilha e ainda ter tempo de coar um café amargo e forte. Aí, vem a televisão ligada, um filme tosco me faz chorar. Uma lágrima que vem da cena entre duas irmãs - aquela tal reconciliação típica dos finais. O cheiro forte do feijão cozinhando e as campainhas tocando com as visitas de domingo. Um dia qualquer talvez. Uns anseios, pensamentos avulsos e, por que não, descartáveis. Arrumo a pilha de cds antigos e deixo a Billy Holiday no topo, caso precise. Arrumo os livros da Virginia e deixo-os ao lado do Cortázar. Endireito o quadro do Dali ao lado da cama e removo a foto Dela e coloco-a no criado-mudo. O abajur empoeirado, presente de uma amiga já distante, parece criar um outro ambiente. O telefone toca baixo, não ouço e não atendo. Dias comuns.
Tudo com um toque que inspira uma suposta sonoridade familiar: o cheiro da carne, o feijão, as tarefas domésticas. Mas ainda, por cima disso tudo, aquela ansiedade recente. As mudanças de pensamento. O jogo, a siesta e a música da Billy. Acendo o fogo, coloco a chaleira para esquentar a água e mais um café se vai; quente, amargo e forte: como em qualquer outro domingo...
2 comments:
domingo...
e eu prefiro todo um movimento, esquecer cheiros e barulhos dos lados, porque se eu parar para ver, empilhar, ouvir, esquentar a chaleira... eu PIRO !
Shhh! Shhh! Eu posso ver...
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