O passado pode nunca perdoar. Ele pode desaparecer sem deixar vestígios. Podemos mudar, transformar e refazer erros, mas o passado, como diriam, não perdoa. Ele fica entre nós como fenda de um eterno e incansável caminhar, seja para a frente, lado ou trás. Ele não esconde mágoas, sentimentos, amores; não esconde de ninguém. E logo, com ele, vem a saudade.
Saudade do irmão que mora longe, do pai inexistente, da mãe que jaz na memória seletiva, da amiga que eu nunca tive, das roupas, presentes, risadas...
Por fim, me questiono o que o passado me fez ser. Ele me trouxe uma série, talvez fileiras de pensamentos perturbados. Ele, o passado, vem a galopes em momentos decisivos. Espero pela hora certa do passado, tornar-se presente. Você vem como uma voz. Me parte em dois, três ou quatro pedaços. Me perco onde eu deveria me achar, sem ao menos sair do lugar. Prego sermões intermináveis sobre como a vida deveria ter sido se não houvesse o se.
Se eu lembrasse de ligar para o meu irmão, esquecesse o pai desastroso, a mãe doente, os amigos que tenho, os presentes, as roupas, a parafernalha toda, será que assim o passado deixaria de ser uma veia saltada para tornar-se uma fotografia? Simples, inócua, pendurada na parede ou exposta na estante do quarto. Um vaivém sem fim.
Ele não perdoa, o passado. Me parte em pedaços como seu fosse oco, feito de vidro vagabundo. É, Silvya Plath bem disse as palavras "as vezes acho que não sou sólida; que sou oca por dentro".
E é nesse "oco" que os sons do passado se reviram, como um túmulo.
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