Wednesday, December 31, 2008

Sobre todas as coisas.

Num simples e singelo piscar de olhos, tudo pode mudar. As ondas num vaivém constante. As formas variadas de covardia. Aquela velha mania de sentir-se imaturo para tudo, até para um simples e-mail. Às vezes, as dores vêm de lugares que desconhecemos, são atingidas pelas mais simples coisas da vida e podemos até ver além de um simples sentimento. Mas ainda têm aqueles que não sabem o que fazer com o coração. Não sabem reagir diante de tamanha necessidade. Outras vezes, a vida faz um curso diferente daquilo que esperávamos. É tal velocidade do giro. Tudo, rápido demais.

E hoje é o último dia do ano. O dia em que fazemos promessas, guardamos cartas, fazemos melhorias físicas e espirituais. Amanhã, o mar leva tudo embora. Os barquinhos, as velas, as cartas, oferendas, sentimentos e longos vazios daqueles que nada desejaram. Aqui, desejo isso mesmo! Cada dia um pouco mais de verossimilhança e sem passar desapercebido. No próximo ano, espero ainda muito daquilo que ofereço. Mas as certezas são maiores que as velas ou as chamas e fogos de artifício.

Amanhã, um outro dia. Comum. Ordinário.

Com uma pitada de mudança.

Monday, December 22, 2008

Madonna

Uns não se interessam. Outros, a lei do menor esforço prevalece sempre. A indiferença de alguns pode, por vezes, machucar. As questões são irrelevantes. Se preferem a angústia ou mesmo a amargura de ver o oposto de tudo, pouco importa. Nada se equivale ao saboroso caminho de se sentir livre. Começar o ano, talvez, com um pouco mais de força. Mas são vários os porquês de dois dias em que tudo ficou em câmera lenta.
Riscar da lista do que fazer antes de morrer, eu risquei. Marcar o quanto meus amigos são importantes é só um reforço. Pular no refrão bordeline, segurar minha mão ouvindo ray of light ou simplesmente me dar espaço para o espanto da realização de um sonho. Tudo somado a, sim, realizar mais do que um sonho, mas deixar marcado nos lados mais reluzentes da memória um espetáculo, um sentimento mútuo, luzes, câmeras, som, batidas e o cabelo loiro. O rosto, bem perto, e a simpatia estelar. Nada se soma aqui. Às indiferenças, ou mesmo o desdém ficam marginais, sempre. Para quem preferiu a amargura ou a angústia de economizar na felicidade. E saíram todos gritando. Give it to me, dançando like a prayer ou mesmo no despeito ensaiando um shes not me em casa. Da chuva ao céu se abrindo rapidamente. Por trás, um filete de sol bem humorado e quente. Tudo se transformou. Dois dias em que o clima foi traído, os relógios ficaram sem ponteiros e os pés, os pés deixaram-se vencer e agitaram o corpo todo.
Aos que não se interessaram, restam as notícias online. Aos que preferiram a lei do menor esforço, cabe agora a boa inveja. A indiferença...bom, a indiferença é só mimo. No fundo, todo mundo se importa.
Já eu, termino o ano com a sensação mais plena que eu poderia ter. E não canso de repetir

and i feel, like i just got home.

Wednesday, December 17, 2008

Público

Ninguém mencionou mais o mesmo assunto. No final do ano, sempre as mesma posturas. Rememorar o passado e trazer ao presente diferentes maneiras de se apresentar ao novo ano. Oferendas, restos de velas, cadernos, incensos, fogueiras, anéis, fotografias, lembretes e cartões. As rosas estranhas e aqueles vasos antigos. O mesmo livro de cabeceira. Perdas, ganhos, fatos e eventos que mudaram, foram mudando até o ponto cedo dos olhos. Ninguém muda por acaso. As retrospectivas que nos lembram cada fato. Entregar rosas, prender o cabelo ou mesmo um novo corte. Em dois ou três anos em que tudo passou num piscar de olhos. As novas maneiras de se entender o mundo, de dançar ou até mesmo de ouvir uma música.
O ano que começa com aquela sensação de começar novamente. Não começa. Não termina. Os calendários mudam as datas, os dias e assim vamos reprogramando o cotidiano ordinário em cada vírgula. Perder namorado, mãe, carro, dinheiro, emprego, livros, discos e ganhar tudo de novo, namorado, apartamento, dinheiro, emprego, livros e discos. Ganhar uma porção de noites mal dormidas, bem vividas, noites de insônia, doenças, cáries nos dentes, gripes, unhas roídas, tênis rasgados e perder tudo de novo. Seja aos poucos ou de uma vez só. Ganhar presentes, sorrisos, perder um dente, uma vontade, viajar, deixar para trás, trepar, beijar, suar e dormir. Dentro da jaula, ninguém vê o tempo passar. Ontem e hoje. Resumindo os meses, os anos e um pedacinho da vida.
Ir atrás, sempre atrás de um novo começo. Aquele assunto, de certo, ficou para trás. Seja calendário ou uma data apenas; fogos de artifício ou oferendas, eu mesmo, nunca mais toquei naquele assunto.

Wednesday, December 10, 2008

O Coelho da Cartola.

Ninguém poderia advinhar. Nem sempre, o que se vê na luz é reflexo ou sombra de si mesmo. Se por instantes tudo parecer estranhamente sem forma, cor ou rima, é porque do Vazio nada se pode enxergar. Aquelas pequenas monstruosidades, ou com o mesmo virtuosismo de sempre, ninguém pode negar a dor de um tapa na cara. As vertigens adolescentes, os galopes pesados e o corpo frágil pedindo arrego. Os braços cansados de tamanha batalha, bolhas no pé e o pulmão já sem saber o que fazer. Desse estado, dessa litúrgia, nada sobrou. Apenas a vontade de um dia melhor, ou que se possa acordar com o cérebro descansado.
Dias corridos, noites de sono pesado. O corpo doente. O corpo pedindo atenção à saúde. Ninguém poderia advinhar que tamanha monstruosidade teria efeitos colaterais tão profundos. Da enganação, do desespero, do sexo e de tudo mal construído nas bases das falsas intenções.

Tuesday, December 09, 2008

Schopenhauer.

As atualizações de um sentido outro. Seria sentimento, pura explosão do corpo em pequenos astros reluzentes. A decadência das luzes, do material e do espiritual. Aquilo que enxergamos, já morto há milhares de anos. Nem estrelas, lua, ou mesmo anéis e bambolês. Não adianta olhar para cima. Gigantes, enormes pegadas e aquele peso quase desumano. O mundo nas costas.
Esse mesmo sentido outro, as coisas fora do lugar e sendo postas num canto, o canto direito do olho esquerdo, tapando e impedindo que a lágrima se deixe livre para escorrer sobre a face. Seria mesmo uma espécie de raiva. O mundo, a representação daquilo que se é enquanto matéria mal-formada. Da moral e até mesmo da Ética, pouco se pôde aprender. Das razões do espírito, leve ou fugaz, carregar a cruz seria melhor do que as mil chicotadas. Ele, sentido de toda construção, Ele mesmo a quem adcionamos letra maiúscula, nada pode fazer. As vontades e os sentidos. É o final do ano, as famílias reunidas, a vontade de querer reparar os vasos estilhaçados. Nem mesmos nos transfiguramos e já estamos pensando em pequenas oferendas aos deusas da antiguidade. Aqui, só a explosão de uma nova era. A era dos falcões, das águias voadoras que percorrem velozmente todos os estados da alma, pousando por fim naquela única ferida que não cicatrizou. As crianças abusando da boa vontade, experimentando brincadeiras e perversões. Restou somente a idéia do antigo menifesto dos laços eternos: rompê-los, todos, em um único e brutal movimento.
As atualizações do sentido. De pedra em pedra, pó em pó, choro em choro, resta a aversão do mundo. A representação do espelho. Cassandra sussurrando ao ouvido: largue-te! teu vôo alcançou outros ares.
Abdicar ao mundo.

Monday, December 08, 2008

Pequenos.

Foi preciso muito tempo. Os agudos conselhos e a intermitente vontade de mover-se, daqui, dali e de todos os lugares. É preciso mais do que isso. Do espírito, da fé e de todo o resto que nos foi ensinado desde o berço. Ainda é preciso entender a maldade, a perversão das crianças assustadas que, levianas, passam a destruir com os dentes qualquer presa que se torne fácil. O calor movendo-se contra as nuvens-de-sombra. Ontem e hoje fervendo pelo insistente vapor dos banhos e curativos. Cicatrizar é um processo deveras doloroso. Mais doloroso, é a busca por aquilo que não somos; pelo inexistente, ou pelo vazio do Nada. Como diria Nietzsche, “À medida que buscamos as origens, vamos nos tornando caranguejos. O historiador olha para trás; até que finalmente também acredita para trás.”
É preciso tempo. Acalento. Infusões. Sentimentos amargos. Dor, agústia e alegria. Deixar o peixe apodrecer. Renegar à existência de qualquer espécie de fé ou ligação com o mundo material-espiritual. Abdicar à Ele, a Deus, abdicar à carne, ao corpo, ao espírito como forma de condução dos pés na brasa. É preciso tanto esforço. Ler demais, devorar cada palavra e cada vírgula de um texto, sem pé nem cabeça. Para entender o mundo, basta a fome pelo confinamento de grades. Entender esse raciocínio fraco, insosso e perverso.
Foi preciso muito tempo. Descobrir o mundo tal como ele é, em essência e representação. Do todo, a menor partícula. Da lágrima ao mais puro sorriso. Ainda é preciso mais tempo. Descobrir do mundo, os abusos, a solidão dos astros e Estrelas. Entender as crianças perversas, saborosas criaturas do desespero humanístico. Isso soa um tanto desafiador.
Por isso. É preciso mais tempo.

Monday, December 01, 2008

Charles Dickens

Quando adolescente, tive contato com grandes clássicos da literatura. Por influência do meu padrasto, inicie-me na leitura de grandes nomes como Alencar, Machado e Monteiro Lobato. Posteriormente, da amizade com a uma senhora linda e simpática, dona de um sebo de livros no Itaim, meu espólio de leitura aumentou. Passei a ler, por indicação, Nobokov, Jane Austen, Laclos, Eça de Queiroz (que segundo ela sabia descrever o sabor das tradicionais comidas portuguesas como nenhum outro autor). Desses encontros, ganhei em um natal um livro volumoso, antigo e com cheiro de passadas de mão chamado Grandes Esperanças. O autor, Charles Dickens, um dos maiores nomes da literatura inglesa e atormentado pelas memórias da infância triste, pobre e mal-resolvida, causou-me um impacto maior do que eu poderia supor anos mais tarde. Dickens certa vez disse "it was the best of times and the worst of times (...)". Referindo-se a incapacidade dos homens em conciliar o Bem e o Mal no cotidiano. Anos e anos mais tarde, Freud completou em uma entrevista, ao ser questionado sobre o que seria uma pessoa normal, dizendo que uma pessoa normal é aquela que consegue conciliar o amor e o trabalho. Esse equilíbrio do viver responsável (racional) e do viver lúdico (passional). Essa pessoa que entende que o equilíbrio da vida deve pesar as neuroses da ética e da moral com os impulsos sexuais. Daí, nasce a incapacidade do homem contemporâneo em atingir um certo estado de felicidade, não plena, e tão pouco momentânea. Dickens, estava certo. Hoje, são os dias somados, subtraídos e multiplicados por milhões de afazeres chatos à alma, essenciais ao viver e ainda assim, cansativos.

Esses dias ensolarados que ao entardecer trovejam, relampeiam, jorram fortes lascas de chuva grossa e gelada. Nada tão incomum quanto isso. Ainda, temos as variedades do cotidiano: arrumar um namorado, estudar, trabalhar e todos os outros pormenores dos dias que somados, formam um grande círculo de mediocridade, sentimentalismo e castração. E isso não pode ser somente uma fixação da infância, como no caso das fases freudianas mal resolvidas. Roer a unha pode ser um sintoma de nervosismo, puro e simplesmente. E tudo isso se somando ao final de semana, ainda pode dar um resultado, talvez, delicioso. O descanso, os atos típicos do cansaço. Dessa delícia, nos fazemos. Os anos passam, as horas cada vez mais apertadas, os cabelos envelhecendo, a pele do rosto se contraíndo, as mãos com calos incuráveis. Uns chamam de envelhecer. Outros, recusam as linhas de um tempo que jamais voltará, mas que deixou as marcas para os espelhos, lembrando sempre o quanto se passou, de bom, de ruim, dos tempos de infância e banhos de mangueira no verão. São as linhas da saudade e concomitante ao Eterno Retorno - essa aproximação, cada vez mais veloz ao ancestral, ao espírito e ao pó.

Hoje, sinto saudade. Houve um tempo em que minha única preocupação era nunca ter lido Goethe. Mal sabia, lá atrás, que um dia, isso seria saudade e não conhecimento.