Tuesday, August 03, 2010

Me preencho na casa vazia. Os quartos tortos, amontoados em cima das mesas e cadeiras, o cheio de comida velha na geladeira e o piso gelado do banheiro. Me preencho na minima solidão do caminhar pela casa. Paredes revisitadas, livros expostos e medíocres obras de arte. A televisão sempre ligada, o alerta das janelas sem cortinas para o mundo exterior. Controlo as forças malignas que pairam do ar. Fantasmas reais, a privada quebrada. Vago pelo quarto. A cama com a sombra dos que já deitaram nela um dia e que hoje residem na memória - sem fotografia. Apago as luzes. Tudo ao meu jeito. A louça acumulada na pia, restos de comida transbordando pelas beiradas.
Deixo estar.
A sala inabitável.
Me preencho na casa vazia. Monstros terríveis, recortes de fotografias, lembranças e açucar espalhado. Aqueço os pés com meias sujas do caminhar, ligo o som, esqueço o mundo com um cigarro acesso e as janelas abertas. No quarto, a televisão ligada em algum programa sobre as imbecilidades do cotidiano. É raro gozar. Sexos mal acolhidos e sempre uma peça de roupa deixada para trás. No dia em que vocÊ foi, joguei tudo fora. Incinerador, quase que poético, idiota em queimar lembranças. E assim ficou. O quarto-verde melhor acomodado, o banheiro quebrado, a pia abarrotada de louça, o chão sujo e as cadeiras quebradas. Assim ficou. A casa me preenchendo o vazio e ali, naquele canto que restou, minha gota de felicidade crescendo. Dia a dia. Uma pequena, idiota, plantinha, preenchendo o pequeno vazio que ficou.

1 comment:

Rê Cicca said...

Victor é um cara que sabe escrever e tem um blog realmente interessante.
Victor também lê
http://www.descompensando.blogspot.com/