A primeira vez a gente nunca esquece. É como um cheiro, preso na memória, perdurando no infinito. As mesmas sensações, as associações quase que fictícias, rostos, palavras e tudo o que se experimentou. NAada jamais será com antes. O primeiro tombo, vítima do descuido dos pés, a primeira grande doença, o primeiro livro e a dificuldade em terminá-lo, o primeiro pêlo do peito, beijos, trepas, o primeiro amor, a primeira separação, a primeira desilusão, o primeiro pé na bunda, a primeira viagem, o primeiro cigarro e a tontura que veio logo em seguida, a primeira gozada lá na infância e depois na vida adulta.
A primeira vez a gente nunca esquece. Quase que uma busca diária, vive-se sob o espectro do por vir; a novidade sempre esperada nos minutos da vida. O novo, o inédito parece sempre nos prender na chatice do cotidiano. A vida, sem o novo, sem a primeira vez parece perder o sentido. Pacata, vagarosa, monotona. Seria impossível viver do mesmo, ainda que ele seja o mesmo que a primeira vez. Não da pra reparar que na verdade é tudo uma repetição daquilo que já passou. O primeiro amor será reencontrado outras vezes e assim o primeiro grande show de rock, o primeiro baseado, a primeira trepa apaixonada...
O novo só existe pela nossa criação. Se quisermos, amanhã será um novo dia, ou não. Para mim, este texto é novo, mas já devo ter falado nisso inúmeras vezes. Não dessa forma, não desse jeito, mas certamente isso não é novidade. Trocadilhos à parte, a experiência é o que conta. A memória dos felizes em seus últimos instantes de vida é perceber que a vida foi cheia de primeira-vez. Até hoje me lembro do primeiro porre e mesmo tendo sido ruim na hora, hoje a memória me vem com um sentido de alegria.
A primeira vez a gente nunca esquece. A lição fica. A perdulária vontade do novo. A busca insaciável por tudo aquilo que nunca se viveu, até mesmo o que não foi bom.
É sempre igual. Como hoje, que pela primeira vez, pensei que nada disso faz sentido.
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