- Você está sempre em busca; sempre querendo mais, seja pelos meios tradicionais, seja pela sua força de vontade em querer sempre a primeira gota de chuva.
Fosse pelo que entendemos ao longo da vida. Ensinamentos, rezas, joelhos no milho, afetos mendigados. A escolha é sempre pior do que a decisão. As leis tão duras pra quem pensa demais. Isso é um fato. Exercício difícil. Querer sempre mais páginas. Lembrar sempre que isso tudo não passa de um nada; o vazio que por vezes preenchemos com latas de cerveja, bitucas de cigarros, cartas rasgadas, amigos perdidos, amores esquecidos e ainda aquelas fotografias que disparam a imagem do passado no peito, ardendo, explodindo. E nunca cessamos a busca pela imortalidade. Na verdade, seria uma espécie de busca do vale encantando: buscar, pela eternidade, os pequenos pedaços de felicidade. Junta tudo e coloca no saco. Tá ai o seu viver. E vamos, passo a passo, levando a poeira, arrastando o coração numa longa estrada. Por todos os lados, os antigos rostos, as risadas de outrora, uma juventude que não se quer esquecer. E de aniversário em aniversário, comemoramos o fim e nunca o começo: fim de festa, fim de ano, fim de namoro, fim. A vida, talvez, seja esse final, encerramento de tudo o que se viveu. Ao menos, tenhamos a consciência do quanto se andou, do quanto se errou. Os acertos? Isso deixa pra depois. A preocupação deve ser outra. Pensar, logo, existir. Nunca mais acreditar nas baboseiras iluministas. O melhor mesmo é viver como NIetzsche. E na própria bestialidade, deixar existir felicidade. Os ignorantes, são felizes. Infelizes, somos nós. Isso responde a sua pergunta. Eu queria mesmo era sentir tudo isso no perdão. Levar pra frente só o que é bom. Rancor, mágoa, tristeza e desafetos são pesados demais. Me doem as costas. Seria melhor sentir a leveza, como você disse da gota de chuva. Esperar pouco. Esperar que nada aconteça e viver de surpresas, dia a dia. E toda essa velocidade, a correria cotidiana sem nem saber o porquê. Derrelição, como a Sra. D. Passeando pelos cantos tortos e esquecidos da casa. Eu cheguei a falar disso quando li o livro do Bachelard. O vazio, os cômodos da casa como cômodos do próprio corpo. Ou mesmo no texto do Deleuze em que ele fala do corpo sem órgãos. Queria mesmo era ser um sargento do sexo como Sade. Todas essas minhas experiências literárias e filosóficas sempre ressoam em saudade. Saudade do que li, do que senti, da experiência de ser perfurado por um texto, pouco a pouco, sentindo cada palavra como uma incisão na alma. O ápice do meu intelecto. Mas tudo isso se perdeu, como se perderam os cadernos da universidade. Mas ainda me lembro da professora Leila dizendo que jamais devemos escrever um texto na pureza da inspiração. Texto é trabalho, assim como a poesia. E eu mesmo tenho um estilo de quebrar as orações. Deixá-las pouco tempo do tempo. Assim, faço com tudo. Mas nem era essa a questão. Vamos deixar sempre em aberto. Veja! Essa minha vontade de responder dura pouco. Agora começou a chover. Você mesmo disse algo relacionado a chuva. Olhe pela janela. Talvez eu seja o primeiro pingo.
1 comment:
Amorzinho,
Adorei. Do título aos textos de tirar o fôlego. Li e reli. Lindo, claro, inspirador, como eu previa de você.
Volto sempre.
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