Thursday, November 11, 2010

Pergunte ao Pó

É preciso uma ode às coisas que perdemos pelo caminho.
Os restos deixados passo-a-passo. Distâncias intermináveis, aquelas que se fazem pela implosão da própria vida. Algo que se quebra, como se pudéssemos gravar, uma câmera lenta, aquilo indo para o chão -milhões de pedaços. Por isso, é preciso uma ode. Àquilo que se perdeu, que se desfez. Estilhaços, pequenos, milimetricos pedaços de tudo. Sujeira, pó, e o contrato infeliz da vida com a coerência. Também é preciso defender-se do estranho sentido que cada palavra tem; cada um desses sons, desses aprendizados com a linguagem. No fundo, somos feitos de palavras. Definimo-nos pela linguagem.

Na mesma sentença, entre o carinho misturado à esperança de nunca estar sozinho, vem as palavras de atuação. Atuação sincera, sem jogos, sem dados, sem peões ou rainhas. Disso, se pode, pouco a pouco sorrir ao ver os antigos se desfazerem em matéria podre. Rir daquilo que se foi, do perdido e do que não era possível. Adiante-se para a frente. Esteja alerta e sempre em prontidão. Deixe sempre o relógio ajustado na hora certa. Escudo, espada e um pé a frente. Abra a porta com cuidado do , pois aqueles que entram demasiadamente rápido são os mais furtivos. Lições de vida. É preciso fazer uma ode a isso tudo: ao que foi, a certeza de que jamais voltará, a surpresa de ter tido coragem para se desfazer do imundo e do amoral. COnsidere-se feliz ao olhar para trás vendo o pó levantando ao vento, lento, quente, gigante. Ali está a sua sorte. A minha, a sua, a nossa sorte. A viagem longa, curta, alegre, jamais está atrás, mas sempre adiante. Um texto esperançoso, despretencioso de quem já soube jogar fora tantas vidas em troca de um pedaço de paz, de um pouco de sorte, de um pouco de amor. Uma ode àqueles que sobreviveram ao engano, ao lascivo e ao infortúnio. Uma ode àqueles que conheceram melhor o céu, depois de se livrarem do passado.
Uma ode.

1 comment:

ManucaTrebilcock said...

Uma ode à você, Amorzinho. Que a gente continue andando sempre de mãos dadas, sempre adiante. E os outros que engulam a nossa poeira, hehehe!

Beijos!