Me recordo de um filme antigo: Do mundo nada se leva. Assisti ainda criança, sem entender muito, mas apreciando o preto e branco, Uma espécie de comédia que precisava do auxílio perspicaz de minha mãe explicando piadas e entrelinhas. "Repare nessa cena". "Você prestou atenção no que ele falou?". As memórias frágeis da infância que trazem consigo os tempos mortos e tudo aquilo que jamais voltará. A suposta inocência que perdi, as brincadeiras e aquele pouco que bastava por dias e dias. A sensação de que o tempo não existia, como se os instantes vividos dia-a-dia fossem apenas bolhas de sabão: subiam nos ares, duravam pouco e estouravam deixando cair uma seqüência de pingos coloridos. Aquilo, aquilo era pura magia. E só alguns anos mais tarde pude entender que, de fato, do mundo nada se leva. Sejam as memórias, os ensinamentos, brincadeiras. Do mundo, nada se leva. Meu eterno reencontro com fantasmas estranhos, vultos sem face, sem as drogas, sem o vício tosco e sem as necessidades frugais de hoje. Presente, passado, todos os tempos misturados sem nenhuma conexão.
Me recordo de ditos populares. Memória impertinente do espírito. Sombras do passado, delícias de se relembrar os filmes antigos, os livros velhos da estante e as brincadeiras delicadas. Naquele época, tudo bastava. O pouco que se tinha, o muito que se podia ter. Naquela época, ser criança era a ilusão do mundo. Ser criança era se negar para o mundo, era ser pelo pouco. E isso bastava.
Tuesday, July 14, 2009
Do mundo, nada se leva.
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1 comment:
Há se todos nós pudéssemos levar a vida como os Vanderhof, a família mais alegre existente em todos os tempos onde todos vivem em função de serem felizes, não se preocupando com o futuro, afinal “Do Mundo Nada Se Leva...”
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