Tudo parece estranho. As mudanças inacabadas dos dias intermináveis. Aquela vontade de entender mais sobre políticas modernas e filosofia sofista. Tudo parece estranho quando se têm um tempo a frente. Tarefas e agendas empilhadas, livros e cartas devolvidos aos remetente. A saudade parece ser sempre um tempo paralelo. Lá vivem todos ainda presos nos momentos - pequenas bolhas de histórias. Mas eu não estarei sempre aqui. Escrevo da saudade, como se já tivesse partido, simples assim em primeira pessoa. Lembro de histórias que não vivemos ou de brincadeiras que não tivemos. O peso daquilo que fomos um dia e o peso daquilo que somos. Num futuro, talvez sejamos plumas, deterioradas pela vida e pelo distanciamento. No futuro, sejamos honestos e altruístas. Agora, tudo me parece estranho. Sem linha reta, sem verdade, somente aquele pneu furado e tudo parado no acostamento.
Tudo me parece estranho. Antigos pesadelos. Novos sonhos, carinho e tudo o que restou no canto do olho. Sejamos honestos: aqui ninguém mais está interessado no futuro. Um dia, talvez, eu não esteja mais aqui para contar histórias ou segurar o peso. Um dia é possível que existam outras formas de amor. Por enquanto só o peso do disfarce. Das nossas mentiras.