Monday, July 27, 2009

Enquanto isso...

Eu corro, pra lá e pra cá. Procuro brechas para poder preencher seu coração. Sou vagabundo quando posso e humilho todos os meus sentidos em troca do seu sorriso sincero. Quando posso, peço sua coragem de homem bravo e me jogo ao mar, esperando seus braços - nó de marinheiro.

Me jogo aos leões como um astro romano. Em vão, acabo me perdendo no acaso e nos desencontros do sábado a noite. Eu, um cigarro e o calor. Vou indo, correndo para o primeiro sorriso encantador. não tanto leviano, descubro sinceridades esporádicas. E assim vai funcionando. Desato o nó, reaqueço os tambores e volto a tocar uma música familiar. Notas elevadas, tons graves e agudos. Tudo misturado ao som daquele nome. É exagero. Sei bem quando entro em estado de fuga. Corro pra lá e pra cá até parar. Mas é sincero: minha cabeça encostada de abandono. É sincero. O número do meu telefone e o jeito que falo. Perfumes desconhecidos e palavras novelísticas. Um certo ar de timidez que não engana ninguém. Texto sincero. Sem subjetivismos. Fato: o velho ditado começa a ser mastigado. Se der samba...

Mas eu corro. Eu corro bem longe dos largos abismos do seu coração estranho. Para você eu serei imortal. Até os beijos que me fizeram esquecer toda a história mal contada. Até o carinho que me levou ao estado mais sincero. Meu corpo, dois tragos e um gole. Me recolho ao desdém e sou assim. Fazendo cara feia e contorcendo o nariz.
Meio apressado, eu corro pra lá e pra cá, tentando te achar e encontrando o acaso.

Thursday, July 23, 2009

Inverno.

Talvez seja isso mesmo. Uma grande soma de tudo que existe, existiu e existirá. Conjugar em todos os tempos a mesma coisa. Talvez seja isso. Escrever um texto como se fosse a primeira vez. Segurar o lápis apontado, encarar a folha branca e inóspita. Timidamente desenhar a primeira letra daquilo que pode ser o começo da vida. Talvez seja isso.

A primeira vez que olhamos para o mar. Aquele breve momento em que enxergamos uma distância sem calcular o seu término. Grandes espaços de paisagens infinitas. Talvez seja isso.

A sensação de que o mundo não é uma coisa só. Esses aglomerados de imagens, sobrepostas umas às outras como livros em uma estante. Um futuro que não conseguimos imaginar. Talvez seja isso.

A versão mais curta dos fatos: esse é o destino dos fracos ansiosos. A versão curta e editada do que pode acontecer. Ninguém entende de amor. Ninguém entende da morte ou mesmo do começo de tudo. Tantas desilusões e pouca lição. Os deveres de casa a começar pelo exercício de matemática. E nada fez sentido. Talvez seja o inverno onde tudo fica reservado dentro do corpo, percorrendo lugares inusitados, passeando pelos poucos momentos de calor, a mão caída no corpo, o copo de vinho e a risada mais sincera do mundo. O frio, o frio que reserva surpresas quentes, olhares distantes, olhos entre-cortados pelo vento e a boca rachada. Um certo gosto de quero mais por todos os minutos de um dia. Daí, entram as horas, sempre vagarosas como se para elas o tempo não existisse no relógio, mas fosse um outro tempo, talvez mais demorado do que o restante do dia. Pode ser a loucura. O frio tem dessas coisas. A busca constante pelo aquecer, o pouco que se pode ter com os casacos e as aconchegantes blusas de lã grossa. Talvez seja isso. Um sensação infantil, rápida como a primeira palavra do dia e a última palavra de uma despedida. As vontades, como o frio, procuram momentos, eternos momentos e aguardam ansiosamente o dia da despedida. Mas esse dia parece nunca chegar. O dia do adeus, do até logo e do simples tchau-até-amanhã. Pode ser o frio. O inverno que faz o corpo se recolher, deixando a pele mais sensível, o lábio rachado e as mãos escondidas no bolso. Talvez seja o frio. O inverno deixando tudo uniforme ou a mistura de todas as cores, de tudo que se passou e remontando um novo começo. Máscaras e mais máscaras, toscos jogadores, versos incompletos, matéria do amor. Nunca é possível terminar um texto. Antes de tudo, o adeus à palavra. Talvez seja isso.

Talvez, não.

Tuesday, July 14, 2009

Do mundo, nada se leva.

Me recordo de um filme antigo: Do mundo nada se leva. Assisti ainda criança, sem entender muito, mas apreciando o preto e branco, Uma espécie de comédia que precisava do auxílio perspicaz de minha mãe explicando piadas e entrelinhas. "Repare nessa cena". "Você prestou atenção no que ele falou?". As memórias frágeis da infância que trazem consigo os tempos mortos e tudo aquilo que jamais voltará. A suposta inocência que perdi, as brincadeiras e aquele pouco que bastava por dias e dias. A sensação de que o tempo não existia, como se os instantes vividos dia-a-dia fossem apenas bolhas de sabão: subiam nos ares, duravam pouco e estouravam deixando cair uma seqüência de pingos coloridos. Aquilo, aquilo era pura magia. E só alguns anos mais tarde pude entender que, de fato, do mundo nada se leva. Sejam as memórias, os ensinamentos, brincadeiras. Do mundo, nada se leva. Meu eterno reencontro com fantasmas estranhos, vultos sem face, sem as drogas, sem o vício tosco e sem as necessidades frugais de hoje. Presente, passado, todos os tempos misturados sem nenhuma conexão.

Me recordo de ditos populares. Memória impertinente do espírito. Sombras do passado, delícias de se relembrar os filmes antigos, os livros velhos da estante e as brincadeiras delicadas. Naquele época, tudo bastava. O pouco que se tinha, o muito que se podia ter. Naquela época, ser criança era a ilusão do mundo. Ser criança era se negar para o mundo, era ser pelo pouco. E isso bastava.

Monday, July 13, 2009

O maquinário das armas dispostas, pronto a entrar em ação.
Fontes, cores e formas juntas na formação de um grande exército dominador.
A vida.

Outros, sonhos e iludidos pelo olhar banal
Céu, cortes e calor invernal
Sem dores no peito, rimas certas - sonetos cancionados
Aqui vai outro jazigo para memória

O maquinário das armas disparadas
Estouros
Estrondos
Estopim e toda a margem posta frente ao matadouro.

Um poema - uma arte. Todas as sensações entre estações e estados.
Um poema é um trabalho - forma de vida e experiência do imortal.
Toda palavra é uma máquina. Forte, viva e pesada.

Era somente uma prosa desconexa da palavra. Assim como todos os cantos do mundo, todos os cantos d´alma, do voz alta erguida pela garganta faminta. Tudo aquilo que se move rapidamente partindo ao meio verdades categóricas. Adeus ao pragmatismo. O romance tem hora para começar. Romance dos cabelos negros e despenteados. A cruz daquele que anda, descalço à procura de razões subjetivas. Deus e o diabo na terra do sol. Cinema de raiz, cinema de Fellini, cinema de Cortázar. Toda a herança cultural. Simples conversa de butequim entre amigos e afetos. Trocas de mensagens instântaneas-virtuais.

O maquinário das armas dispostas, pronto a entrar em ação. Batidas musicais, danças rituais e o coração, prestes a virar bomba atômica.