Thursday, April 28, 2011

Bedtime storie

Eu ligo o rádio, tentando tapear o silêncio dos outros quartos, só pra dizer:

- Não fui sempre assim. A gente muda com o tempo. (Things haven't been the same since you came into my life ). Estranho isso. Estranho como posso ser muitos em apenas um só. Eu chego a me perder nesse estranho e indiferente mundo que eu criei (You found a way to touch my soul and I'm never ever ever gonna let it go). Translúcido, incônico e pouco sentimental. Mas eu sou, como você pode perceber...Faz tempo que eu não deixo rastros. Imagina um revólver disparando uma bala. É quase isso. Metáforas, metonímeas, um contrato de fogo que tenho com o meu corpo. Eu já deitei tantas vezes pensando em você. Eu só queria dizer o quanto tudo isso tem significado (Happiness lies in your own hand It took me much too long to understand) e pode não parecer, mas eu to até agora gozando, sentindo cada gosto do seu corpo (How it could be until you shared your secret with me...) como se você ainda estivesse me fodendo; o gosto da sua perna é diferente da sua barriga (You gave me back the paradise that I thought I lost for good ). A sua barriga tem um gosto diferente dos seus braços, mas nada se compara ao sabor dos seus dedos, por isso eu sempre peço por eles em mim ou me fazendo calar a boca por alguns instantes enquanto delicadamente deixo que você me vire de lado (You helped me find the reasons why it took me by surprise that you understood ). Mas eu nunca sei quando devo deixar tudo isso sair. Palavras, obscenidades. Deixar vulnerável aquilo que eu demorei tanto tempo para esconder (Until I learned to love myself i was never ever lovin' anybody else). Você sabe como é isso! Vem de repente, de tanta porrada na cabeça. Um dia você acorda e percebe que perdeu a doçura, o gosto pelo outro e a ingenuidade. É tudo tão frágil. Eu sou frágil, quase oco. Deve ser por isso que a cada beijo, você tira um pedaço dessa armadura. (Happiness lies in your own hand It took me much too long to understand) A cada trepa você retira de mim um pedaço da...Sim, o gosto da sua boca é diferente. Algo parecido com leite adocicado. Gosto de quem escova sempre os dentes. Gosto de língua limpa. As vezes, chego em casa e ainda estou com o cheiro, o seu cheiro, não o cheiro de perfumes amadeirados, mas o seu cheiro. Suor, cheiro de pele, cheiro de foda, cheiro de porra misturados ao meu perfume doce e enjoativo (Something's comin' over mmm-mmm, something's comin' over). Chego ardendo e mal consigo me segurar nas pernas lembrando as várias vezes em que você se enfiou em mim. Sim, você pode ser selvagem as vezes e eu nem gosto que me tratem bem durante o sexo. (My baby's got a secret) Não, não precisa de muito. Basta fazer o que você faz ( something's comin' over me ). Me deitar como você me deita, ordenando onde vou e onde não vou e me dizendo a hora que eu posso gemer e quando devo calar a boca. Eu acho que todo mundo tem um segredo. Todo mundo guarda dentro de si um segredo. (something's comin' over me) O seu? (My baby's got a secret) Não sei. Não sei mesmo. Talvez seja querer, me querer sempre dentro de você, sem culpa, sem dor, sem amor. Sò em segredo. (My baby's got a secret for me...)

Desligo o rádio para ouvir o seu beijo nas minhas costas.

Thursday, April 14, 2011

Guarda-sol

- As semelhanças se dividem.

Prefiro os outros tipos de paz. Estou me dando férias de tantas desavenças; perder-me entre o passado e o presente, talvez tentando conciliar os erros com os futuros (esperados) acertos. Sem viagens, destinos ensolarados ou monumentos culturais. É o simples prazer de estar sendo, e como diria, ter sido.

- As semelhanças que se encontram.

Poderia traçar um estirão de caminhada rumo a coisas que eu nem bem sei como seriam. Ou tracejar com giz, uma linha que me levasse àquele lugar tão distante do que sou agora. Seria, de fato, um acerto de contas e ao final eu me pintaria como a Revolução de Delacroix. Por hora, desisti de quase tudo. Guardei uma gota de esperança, risadas intensas e deixei dois livros no criado-mudo como leitura obrigatória.

- Somos a anti semelhança.

Quando, nesse descanso, poderia eu ter encontrado forma de fazer as pazes comigo? Sim, por vezes é comum quebrar-se em vários, como um graveto já velho e ressaco, sem forças para continuar erguendo-se e defendendo-se do vento. Nada perdido. Entender-se entre alguns braços fortes, beijos desejados e na cor esverdeada "do seu olho". Achar-me assim, estirado em algum lugar quase imaculado. Realidade imposta para tudo:

"nesse mais intenso esquecimento, encontro-me dentro do seu corpo. Esse prazer que é sentir o gosto da sua boca, agarrando seu cabelo por trás cortado a meu pedido. Você calando-me nas dores do seu movimento contra mim e para mim. A peça encaixada. Sou teu parafuso. Enrosco-me em você feito cobra atípica e sem veneno, esperando pelo seu soco mundano. Lá fora, o tempo que se foda, porque aqui, dentro de tantas alcovas, só você sabe como fazer da conversa, o meu corpo tremer e tremer e tremer. Aqui, nas minhas férias, você que sente como eu o prazer de uma boa foda"

E nem seriam férias se não fosse por aquilo que se junta ao prazer, ao desgosto numa equação de irracionalidades experimentais. Sentir-se oco, sem os aborrecimentos do dia-a-dia. Uma espécie de selvageria. E sim, você me dá o que em anos não me deram. Não só a você devo essa tranqüilidade imoral. Devo a vários. Mas eu insisto em te encontrar, meio que na calada da noite, na minha casa deserta, sem os cheiros da velharia, justamente aqui, onde jaz o que foi um grande amor, ou vários amores dissolvidos por músicas, estraçalhados junto com as pilhas de livros e os quadros falsificados. E quando dou por mim, estou saboreando o roxo na minha perna e redesenhando a marca dos seus dentes no meu peito. E nem parece que somos duas galáxias distantes. Guardarei assim esses instantes, curtos e saborosos.

- Mas somos a semelhança que se encontra, se dividem, se misturam, formando uma célula pequena em transição.

- Ou somos apenas uma bela foda. Bem dada.