Wednesday, February 16, 2011

Novo

As viradas de ano são engraçadas. Tudo aquilo que deveria ter um gosto de simplicidade, se transformando em grandes questões metafísicas. Ou talvez seja apenas eu que espero de mim e do mundo, execessos e excessos. Não dá pra levar nada a sério. O ano que começa já cansado, os dias arrastados pela mesmice e o que fazer quando tudo o que resta é o final de semana? A espera pelo depósito do salário, pequenos momentos de emoção, noites e noites e só mesmo as amizades para salvar a chatice que é mais um novo ano. Difiícl encontrar o paradeiro daquilo que se programou, daquilo que se tentou fazer e não deu certo. E mesmo as promessas pagãs não foram cumpridas. Junto com o ano, começar a contagem regressiva para os trinta, o peso dos trinta. Nas costas, ainda os antigos problemas, becos sem saída, velhos hábitos e toda aquela porcaria que por vezes não conseguimos nos desvenciliar. Vai ser difícil fazer trinta e ver que pouco daquilo que se sonhou foi realmente conquistado. As vezes a melhor maneira de realizar um sonho é acordar, ainda que o lugar onde se esteja sonhando não é o mesmo que se planejou. O príncipe encantado, que nem era tão encantado assim não veio, os poemas se perderam em formatações, falas e mais falas esquecidas. Que chatice é começar um novo ano. Nada mais parece tão simples. A urgência de executar, às pressas, os deveres e direitos. Ser um bom cidadão, ser uma pessoa melhor, colher mais frutos, reler alguns livros importantes, tentar e tentar. E não cessa aquela antiga preguiça da vida, mesmo quando tudo parece já ter acontecido, de bom e ruim, o melhor parece ser aquele sonho distante, um sonho onde tudo fosse diferente do que foi; dores apagadas, uma outra história, outra infância, outro tipo de sofrimento e novas histórias de almoços de domingo com a família. Mas já eu já havia sido alertado de que aquilo que não dói no início, dói no fim. Não, não é pessimismo, muito menos pretensão de ser um niilista. Realidade e mais realidade. Uma dureza capaz de esmagar a simplicidade das coisas. Cada ano parece ter o seu roteiro. Para este, esqueci de colocar as frases, ou talvez nem tenha querido descobrí-las nessa antecedência apressada. Mas a vida cobra, com direito a papel timbrado e aviso telefônico. O que resta é encarar a chatice, a mesmice, o ordinário de cada dia e viver.
Quem sabe um dia, os dias, o dia, passe devegar, realizados naquilo que conquistamos aos poucos, sementes e alegrias. Talvez, talvez, um dia isso tudo deixe de ser chato, fazer trinta seja bastante alegre e aos quarenta eu leia isso e dê risada. Ou o avesso.